Em 2017, mais brasileiros foram ao Louvre, em Paris, do que ao Museu Nacional
Instituição registrou 192 mil visitantes no ano passado, 60% a mais do que em 2016, mas bem aquém dos 289 mil que passaram pelo principal museu da França.
O Museu Nacional teve menos visitantes em 2017 do que o número de brasileiros que visitou o Museu do Louvre no mesmo ano.
O Museu Nacional registrou 192 mil visitantes em 2017, segundo informou a assessoria de imprensa da instituição à BBC News Brasil.
No mesmo período, 289 mil brasileiros passaram pelo Louvre, em Paris, na França, uma das principais instituições de arte do mundo, segundo registros do próprio museu.
O número de brasileiros que visitaram o museu francês é 50,5% superior à visitação total da instituição brasileira.
O Louvre teve um aumento de 82% do número de visitantes do Brasil no ano passado em relação a 2016. Foi o segundo maior crescimento de público de um determinado país - os russos lideram com 92%.
Os brasileiros foram a terceira nacionalidade que mais visitou a instituição, atrás apenas de americanos e chineses.
Representaram 3,5% dos 8,1 milhões de visitantes do Louvre em 2017.
Museu tinha rico acervo de antropologia e história natural
Localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, o Museu Nacional fica abrigado no Palácio de São Cristóvão, gravemente atingido pelas chamas neste domingo.
O museu foi fundado em 6 de agosto de 1818 por Dom João 6º e é o mais antigo do país - havia acabado de completar 200 anos.
Também era uma importante instituição científica, administrada atualmente pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Tinha um dos mais ricos acervos de antropologia e história natural da América Latina, com mais de 20 milhões de itens.
Muitos deles eram exemplares únicos, como fósseis humanos e de dinossauros, múmias e utensílios de civilizações antigas.
Número de visitantes aumentou no ano passado
Os 192 mil visitantes que o Museu Nacional teve em 2017 significaram um aumento de 60% em relação ao ano anterior, quando 120 mil pessoas passaram por ali.
A título de comparação, o Museu Imperial, em Petrópolis, recebeu 400 mil visitantes no ano passado, mais que o dobro.
Esta é a instituição que lidera a lista de visitação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), uma autarquia federal responsável por 31 instituições culturais.
O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, em Minas Gerais, foi o segundo mais visitado na relação do Ibram, com 174.382 pessoas.
O Museu Histórico Nacional, também no Rio, vem em terceiro, com 137.479 visitantes no ano passado.
"O Museu Nacional tinha um bom número de visitantes quando comparamos com outros museus do país, levando em consideração que seu acervo é fixo e ele não tem novidades o tempo todo ou exposições temporárias com grandes nomes", diz Nelson Colás, diretor de Relações Institucionais da Federação de Amigos de Museus do Brasil (Feambra).
"Mas é muito pouco quando pensamos na riqueza desse acervo. É um museu que cumpre as três principais funções de uma instituição assim: preserva o patrimônio, educa e diverte. Esse número poderia ser triplicado por meio de incentivos a visitações de escolas e universidades, mais divulgação e uma programação de eventos. Durante a Copa e a Olimpíada, quase não ouvimos falar dele, por exemplo."
Colás avalia que locais como o Museu Nacional poderiam ter tirado proveito de um bom momento vivido por instituições culturais.
"O número de visitantes vem crescendo aos poucos. Não dá para comparar com o Louvre ou o Museu do Prado, na Espanha, ou o Vaticano, na Itália, que têm um número impressionante de obras e exemplares icônicos, a nata do que existe no mundo, mas, aos poucos e graças às grandes exposições, as pessoas estão adquirindo o hábito de ir ao museu."
'Pouco acolhedor para quem se animasse a visitá-lo'
Com um orçamento de R$ 520 mil por ano, o Museu Nacional não recebia integralmente da UFRJ esta verba desde 2014.
Após o incêndio que destruiu parte do acervo, o jornalista e escritor Laurentino Gomes publicou uma crítica ao estado da instituição.
"Abandonado, desleixado, com um acervo rico porém esquizofrênico, pouco acolhedor para quem se animasse a visitá-lo, o Museu Nacional era um símbolo do que nos tornamos nos últimos anos, uma caricatura do que gostaríamos de ser e e nunca fomos", escreveu Gomes.
"O acervo era confuso e pouco didático, entregue aos maus cuidados de funcionários e curadores burocráticos, sem inspiração e entusiasmo. Nunca foi, de fato, um museu bem amado."
Em meio aos preparativos para o 200º aniversário da instituição, comemorado em junho, o paleontólogo Alexander Kellner, então recém-empossado como seu diretor, disse que tinha a meta de elevar o número de visitantes para 1 milhão até o fim do seu mandato, em 2021.
Uma forma de fazer isso e compensar a falta de verbas, de acordo com Kellner, seria firmar parcerias com empresas.
Um contrato de patrocínio do BNDES de R$ 21,7 milhões havia sido fechado há três meses e seria usado na restauração do prédio histórico.
"Passaremos o ano inteiro procurando investimentos que nos permitam melhorar as exposições", disse Kellner em entrevista ao jornal O Globo em fevereiro.