Em crise, Manaus pede para transferir 60 bebês internados
Quatro estados anunciaram que podem receber os recém-nascidos
Em mais um efeito pela falta de oxigênio nos hospitais de Manaus, a Secretaria de Saúde do Estado do Amazonas informou nesta sexta-feira (15) que precisa transferir para outros estados 60 bebês recém-nascidos internados em hospitais da capital.
Os governos do Maranhão, Paraná, São Paulo e Minas Gerais já se ofereceram para receber as crianças, que virão acompanhadas de suas mães. Além de ajudar com as UTIs neonatais, o governo paulista também informou que está mandando 40 respiradores desenvolvidos pela Universidade de São Paulo (USP) para ajudar o Amazonas a abrir leitos.
A transferências de pacientes adultos dos hospitais manauaras começou a ser realizado na noite desta quinta-feira (14) após o colapso da rede hospitalar da capital. Inúmeros relatos de pacientes que morreram por falta de oxigênio foram divulgados pela mídia local e pelas redes sociais.
O Amazonas vive um novo surto da pandemia de covid-19, com recordes de casos e mortes, nem um ano depois do primeiro pico da crise sanitária, entre abril e junho do ano passado. Com o aumento recorde de internações, o estado está usando 11 vezes mais oxigênio do que o normal.
A falta de oxigênio hospitalar chocou tanto os moradores, que começaram a buscar cilindros por conta própria para os parentes internados, como todo o país - com inúmeras iniciativas virtuais para ajudar financeiramente e no envio de oxigênio para o estado. Os afetados não são apenas as pessoas que contraíram o coronavírus Sars-CoV-2, mas todos os pacientes hospitalizados por outras doenças ou enfermidades.
Até mesmo o governo da Venezuela autorizou que as empresas nacionais ajudassem o estado nesse momento caótico.
OMS faz alerta
Durante a coletiva de imprensa diária, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a situação em Manaus pode se repetir em outras partes do Brasil.
Em uma longa resposta, o diretor de Emergências, Mike Ryan, culpou a falta de distanciamento social, o respeito às regras sanitárias e a exaustão do sistema hospitalar pela "tragédia" e para que todo o sistema de saúde "começasse a implodir".
"A situação se deteriorou de forma significativa, mas não é a única área. Tivemos grandes problemas em relação à capacidade de UTI em Rondônia e Amapá. E uma taxa positiva muito elevada.
Portanto, outras regiões estão sendo afetadas", disse Ryan, acrescentando que a culpa "não é da nova variante do coronavírus", mas "nossa, de todos nós, que falhamos" nas medidas de prevenção.
"Se isso continuar, vamos ter uma onda que pode ser maior que a onda que foi catastrófica em abril e maio, o que é uma tragédia em si mesmo", pontuou.
Já a vice-diretora da OMS, a brasileira Mariângela Simão, pontuou que o que ocorre em Manaus "é para servir de alerta para muitos países" porque a "pandemia não acabou". Para ela, "um falso sentimento de segurança" quando houve uma queda no número de casos provocou o "abandono" da estrutura de emergência que havia sido criada em Manaus.
"Esse é um alerta a todos para não abandonar. Se criou uma estrutura de emergência, com UTI, não feche, pois não acabou. Não acabou. Temos de aprender com que ocorre em Manaus. Podemos evitar mais danos se levarmos essa mensagem de que a pandemia não acabou", pontuou ainda.