Embaixador palestino no Brasil diz estar em 'stand-by' após anúncio de Bolsonaro sobre Jerusalém
Ibrahim Alzeben diz que Bolsonaro jamais respondeu convites para visitar territórios palestinos.
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, disse ter sido orientado por seus superiores a "ficar em stand-by" após o anúncio de que o Brasil abrirá um escritório de negócios em Jerusalém - gesto de aproximação com Israel que desagradou os palestinos.
A decisão foi anunciada em Israel pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que visita o país.
"Recebi ordens para ficar em stand-by. Estamos acompanhando os desdobramentos da visita", disse Alzeben.
O embaixador falou à BBC News Brasil por telefone nesta segunda-feira, um dia após a Autoridade Palestina - entidade que governa partes da Cisjordânia e à qual a embaixada no Brasil está subordinada - anunciar em um comunicado que convocaria seu representante em Brasília para consultas.
No universo diplomático, a convocação do embaixador busca demonstrar reprovação e descontentamento.
Alzeben disse ter contatado a Autoridade Palestina duas vezes após a divulgação do comunicado. Nas duas vezes, afirma que foi orientado a esperar.
Transferência de embaixada
A abertura do escritório de negócios foi a alternativa encontrada por Bolsonaro ao plano de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém - a ideia gerou temores de retaliação ao Brasil por parte de países árabes.
O governo de Israel esperava que Bolsonaro anunciasase a transferência da embaixada durante a visita. Após ter a expectativa frustrada, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a criação do escritório "é o primeiro passo para quem sabe um dia chegar à transferência da embaixada do Brasil para Jerusalém".
Israel considera Jerusalém sua "capital eterna e indivisível". Os palestinos, porém, pleiteam Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado.
A transferência da embaixada sinalizaria que o Brasil reconhece Jerusalém como capital israelense - postura hoje só endossada pelos Estados Unidos e pela Guatemala.
Apoio de países árabes e islâmicos
O embaixador palestino classificou como "desnecessário" o anúncio de abertura do escritório brasileiro em Jerusalém. "Qualquer aproximação do Brasil com o tema de Jerusalém não vai agradar ninguém", afirma Ibrahim Alzeben.
O embaixador afirma que a posição dos palestinos em relação a Jerusalém é respaldada por 57 países árabes ou islâmicos. Essa aliança é apontada como o principal motivo para a não transferência da embaixada: o agronegócio teme que as nações muçulmanas suspendam as importações de carne brasileira, causando grandes prejuízos ao setor.
Alzeben afirmou, porém, que os palestinos não pretendem retaliar o Brasil.
"Não é a nossa política. O Brasil é um país amigo, estamos trabalhando por todos os meios para manter as relações."
Ele também lamentou que Bolsonaro não tenha planos de visitar a Palestina durante sua viagem, que se encerra na quarta-feira.
Segundo Alzeben, a embaixada palestina enviou dois convites a Bolsonaro, mas jamais recebeu respostas.
"Esperamos que ele visite o Estado da Palestina sob ocupação na próxima visita."
Questionado por um repórter sobre o tema, o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, não entrou em detalhes.
"Nós temos relações diplomáticas com vários países e, dentro desse aspecto, é óbvio que nós temos possiblidade de visitá-los quando convidados e quando há interesse em visitá-los", afirmou Barros, sem citar a Palestina.