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ENTREVISTA-Doria diz que alta na aprovação de Bolsonaro é passageira e critica populismo na pandemia

28 ago 2020 - 20h40
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O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), avaliou nesta sexta-feira como "efêmero" o movimento de alta na popularidade do presidente Jair Bolsonaro, argumentando que ele se baseia no auxílio emergencial de 600 reais pagos a vulneráveis durante a pandemia e que a manutenção do benefício neste patamar é insustentável.

21/07/2020
REUTERS/Amanda Perobelli
21/07/2020 REUTERS/Amanda Perobelli
Foto: Reuters

Apontado pelo próprio Bolsonaro como possível adversário na eleição presidencial de 2022, quando o presidente já disse que buscará a reeleição, Doria criticou, em entrevista à Reuters, o que chamou de "populismo" em meio à pandemia de Covid-19, que já matou mais de 118 mil brasileiros.

"A população brasileira é uma população pobre, e se empobreceu ainda mais na pandemia. Quando você coloca um auxílio emergencial com 600 reais, isso muda a perspectiva de vida dessas pessoas. Estamos falando de 90 milhões de pessoas recebendo 600 reais por mês. Não estou dizendo que não mereçam receber, mas este gesto, sendo do governo federal, contribuiu para melhorar a avaliação do presidente da República", disse.

Na entrevista, realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Doria disse que a melhora na avaliação do governo Bolsonaro se deve a uma questão econômica, não de saúde.

"É efêmero, porque é sazonal, vai durar até setembro", disse, em referência ao prazo em que o auxílio de 600 reais será pago. Depois disso, o governo federal deve manter o auxílio em um valor menor e também estuda a criação de um programa de transferência de renda, batizado de Renda Brasil, mas ainda sem formato definido.

"É impossível com recursos do Tesouro você manter este programa (auxílio emergencial)", disse Doria.

O governador paulista reconheceu que há uma parcela de cerca de 30% do que chamou de "bolsominions, extremistas, que defenderão o presidente em qualquer circunstância", ao mesmo tempo que foi duro ao criticar o que classificou de "populismo" durante a pandemia.

"É muito grave transformar a pandemia num instrumento populista de geração de renda com recursos do Tesouro", criticou.

"O que o Brasil precisa é de emprego, é geração de emprego, é a capacitação e a preparação para que o setor privado possa responder produtivamente. Não é alimentar pessoas sem trabalhar, sem nenhuma contrapartida, com recursos do Tesouro. Quebra o Brasil", disse. "A visão populista é destrutiva. E quer um exemplo disso? Venezuela."

Indagado sobre se pretende disputar a Presidência em 2022, como aponta Bolsonaro, Doria afirmou não ser o momento de tratar de eleição presidencial e disse ser um "equívoco" do presidente pensar agora numa disputa eleitoral que só vai ocorrer daqui a dois anos.

Disse ainda ser contrário à reeleição e que, "em nenhuma hipótese", disputará a recondução ao Palácio dos Bandeirantes. Defendeu, ainda, uma mudança no calendário eleitoral brasileiro, com eleições gerais para os cargos em níveis municipal, estadual e federal a cada cinco anos, para dar mais estabilidade política ao país.

"Se nós tivéssemos eleições gerais a cada cinco anos sem direito à reeleição, o país viveria em paz durante quatro anos", avaliou.

PERFIL DE SUCESSOR

Ao apontar Bolsonaro como "despreparado" intelectual, administrativa e emocionalmente, Doria, que antes de entrar na vida pública foi empresário, delineou o que considera ser o perfil de um bom sucessor para o atual presidente em 2022.

"Alguém com experiência na gestão pública ou privada, alguém com equilíbrio emocional para saber lidar com as dificuldades, com a adversidade, com o contraditório sem xingar jornalista, sem ameaçar agredir, sem ameaçar o Supremo Tribunal, sem ameaçar o Congresso... E terceiro que seja capaz de compreender a dimensão do diálogo e o valor da democracia", disse.

O tucano, que apoiou Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2018, inclusive com o slogan 'BolsoDoria', foi indagado pela Reuters se, diante das críticas que hoje faz a Bolsonaro, mudaria o voto para o petista Fernando Haddad ou anularia, caso pudesse.

"Eu nunca anulei meu voto, e nunca votei em branco na minha vida. E nunca votarei. Eu simplesmente deleto da minha mente a hipótese de votar em branco ou não votar", disse.

"Naquele momento eu votei contra o PT, contra o (ex-presidente) Lula, o mesmo que eu derrotei em 2016. Eu derrotei o Fernando Haddad e o Lula em 2016 (quando elegeu-se prefeito de São Paulo)... Não tinha a menor possibilidade de eu votar em quem eu venci, exatamente por me colocar como um opositor à linha populista, extremista do PT."

Doria disse ter acreditado que Bolsonaro adotaria uma política econômica de viés liberal, com a escolha de Paulo Guedes para ministro da Economia, e no discurso adotado pelo então candidato de combate à corrupção e de rejeição às negociatas com o Congresso Nacional.

"Eu confiei que esse seria um discurso bom para um candidato, e votei confiante nisso. Não precisei mais do que três meses para descobrir que o presidente Bolsonaro não ia fazer nenhum desses gestos", afirmou.

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