Entrevista/'Países ricos devem respeitar compromissos' sobre clima, diz Silveira
Ministro de Minas e Energia pediu cooperação entre G20 e G7
O Brasil obtém 88% de sua eletricidade de fontes renováveis, está entre os maiores produtores de biocombustíveis e é candidato a líder da transição verde no mundo, a partir de sua presidência no G20 em 2024 e da COP30, que será realizada em 2025, em Belém.
"Mas o Brasil não poderia fazer isso sem primeiro consultar o papa Francisco", disse, em entrevista à ANSA, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), que se encontrou com o pontífice na última sexta (3), no Vaticano.
"O Papa deu uma entrevista interessante na qual dizia que a transição ecológica deve ser 'justa, inclusiva e obrigatória'. Para que isso seja possível, os países ricos devem respeitar os compromissos assumidos nas conferências sobre o clima de Copenhague e Paris, porque todos vivemos em um único ecossistema, e as emissões não têm fronteiras. Cada um deve fazer a sua parte, e esse é o objetivo do governo Lula", acrescentou.
O Congresso Nacional trabalha para aprovar uma lei que regulamentará o mercado de créditos de carbono, um dos mais avançados no Sul Global. "Mas temos de ter uma governança global, porque os países não resolverão sozinhos o problema sem uma atitude mais ativa por parte de ricos e pobres", salientou o ministro, destacando que o G7, atualmente presidido pela Itália, pode "ter um papel de liderança na promoção dessa mentalidade".
"Precisamos de colaboração entre G7 e G20, ou seja, entre o Norte e o Sul do mundo. Os ricos, no entanto, devem dar um passo a mais, não apenas com um mercado de créditos de carbono próprio, mas incluindo os países do Sul do mundo", afirmou Silveira.
"88% da nossa matriz energética é limpa - biomassa, eólica, solar e principalmente hidrelétrica -, e temos uma elevada produção de etanol, biodiesel, combustível de aviação sustentável [SAF], armazenamento de carbono, etc. Estamos investindo pesado para reindustrializar o Brasil e usar melhor nossos recursos renováveis", declarou o ministro.
Quanto às críticas sobre um eventual impacto da produção de biocombustíveis no desmatamento na Amazônia, Silveira garantiu que o Brasil ainda tem um "enorme potencial de terrenos", sem subtrair nada da floresta tropical. "Temos terras degradadas que podem produzir alimentos e biocombustíveis. São terrenos que precisam de regeneração, e o Brasil abriu uma consistente linha de investimentos para recuperar essas terras, sobretudo nas áreas semiáridas. Temos 11% da água potável do planeta e 170 mil km de linhas elétricas, e podemos usar a mesma terra duas vezes e meia por ano para produzir alimentos", disse.
Questionado se, neste cenário, seria necessário explorar potenciais poços de petróleo na chamada Margem Equatorial, que engloba a foz do Rio Amazonas, o ministro ressaltou que as licenças já emitidas dizem respeito apenas à prospecção de hidrocarbonetos.
"Depois, se de fato encontrarmos recursos e forem respeitados os critérios da transição [ecológica], será tomada uma decisão. De resto, se a transição verde for eficaz e inclusiva, a exploração dos recursos fósseis não deverá durar muito", afirmou.
E quanto à Petrobras, alvo de disputas em relação à distribuição de dividendos extraordinários, "nosso compromisso é manter um equilíbrio entre sua atratividade para os acionistas e suas obrigações sociais, ambientais e legais, em conformidade com a Constituição do Brasil".