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Esquizofrenia atinge 2,5 mi de brasileiros e é controlada com remédio

Para psiquiatra, surto como o do filho do cineasta Eduardo Coutinho - que resultou em sua morte, ferimentos na mãe e em si próprio - entre doentes em tratamento é raro, mas abandono de medicação é comum após melhora

3 fev 2014 - 21h19
(atualizado às 21h32)
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O psiquiatra Jorge Jaber disse nesta segunda-feira que, dificilmente, um esquizofrênico se manifesta da maneira como agiu Daniel Coutinho, que matou a facadas o próprio pai, o cineasta Eduardo Coutinho, e deixou gravemente ferida a própria mãe, Maria das Dores Coutinho, além dele mesmo. "É muito raro acontecer o que ocorreu agora. É mais comum a pessoa se suicidar. É preciso ressaltar que a medicação e o tratamento evoluíram muito nos últimos anos. E ele, sendo esquizofrênico, precisaria abandonar o tratamento, a medicação, para agir da forma como agiu."

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Membro da Sociedade Brasileira de Psiquiatria e especialista em dependência química e recuperação de viciados, Jaber acredita que o surto psicótico se deu, provavelmente, por abandono do tratamento. "Isso é muito comum: o paciente melhora e esquece que tem a doença, abandona o tratamento e aí fica sujeito ao surto. Geralmente acometido de uma forte sensação de perseguição."

Doença atinge 2,5 milhões de brasileiros

Artigo publicado pelo Hospital Abert Eisntein intitulado 'Esquizofrenia: um dos Mistérios da Mente', cita estudos publicados na revista Nature, que acompanhou cerca de 10 mil casos da doença, e que chegaram a um grande número de variações genéticas, que respondem por pelo menos um terço do risco de desenvolver a esquizofrenia. Pesquisadores estimam que 1% da população mundial, cerca de 100 milhões de pessoas, sofram atualmente com a doença. No Brasil, a doença afeta mais de 2,5 milhões de pessoas, que apresentam algum transtorno mental grave ligado à esquizofrenia e que, em algum momento, podem precisar de um hospital psiquiátrico.

O psiquiatra Jorge Jaber, diz que a esquizofrenia - embora possa ter início ainda na infância - em geral e com mais frequência se manifesta a partir da adolescência. "A idade limite em geral é até os 30 anos. É muito difícil a sua manifestação a partir dessa idade. Isto significa que ele já tinha pelo menos dez anos de diagnóstico. E morando na zona sul da cidade e com boas condições sociais, certamente ele recebia algum tipo de tratamento."

Na publicação do Hospital Albert Einstein, a psicóloga Fernanda Rocha de Freitas Vidal, do Núcleo de Medicina Psicossomática e da Unidade de Cuidados Avançados do Einstein, avalia que as alterações que as pessoas com esquizofrenia apresentam, num primeiro momento, são o isolamento e a dificuldade de sociabilização, além de medos exagerados, excesso de preocupações, muito diferentes daquelas que a pessoa costumava ter.

Segundo a publicação do Hospital Albert Einstein, uma vez instaladas, as distorções do pensamento e da percepção da realidade levam a caminhos tortuosos. "Há quem entre em surtos psicóticos - delírios, alucinações visuais, auditivas, olfativas e táteis -, enquanto outros ficam catatônicos ou desenvolvem estados de afeto inadequados à situação, podendo chegar ao que os especialistas chamam de embotamento afetivo (perda de todas as reações emocionais)."

Desestrutura e angústia

"Ambas as situações não só desestruturam os pacientes e quem convive com eles, como podem resultar em atos insensatos e até violentos contra si próprios e outras pessoas. Por isso, é essencial que os familiares entendam o distúrbio e suas limitações e se preparem para questões angustiantes a enfrentar: como vai se desenvolver o quadro, a instabilidade do paciente, a remissão dos sintomas com o tratamento", explica a psicóloga.

A publicação conclui que tanto o diagnóstico como o tratamento precoce são fundamentais para garantir a qualidade de vida ao paciente. "Um dos detonadores mais clássicos de quadros psicóticos é o uso de drogas, principalmente a maconha e estimulantes como a cocaína e as anfetaminas."

Psiquiatra e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Einstein e coordenadora do Programa de Atenção às Psicoses da Infância e Adolescência da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), Taís Moryiama, ressalta o fato de que uma das pesquisas mais benfeitas nessa área mostra que "o uso de maconha pode aumentar o risco em até dez vezes se o indivíduo tiver genes que predispõem ao transtorno".

O psiquiatra Jorge Jaber concorda com as considerações de Tais. Segundo ele, a droga, e  também o álcool, podem causar transtornos mentais, principalmente se o esquizofrênico tiver abandonado a medicação. "Mas se ministrada em uma dose razoável, a medicação impede que o surto se instaure, mesmo que o esquizofrênico esteja usando droga. O problema é que, geralmente, quando ele começa a usar a droga é porque ele já não tem a percepção da doença e parou de tomar a medicação."

Jaber admitiu que um dos principais problemas que enfrenta hoje no tratamento de seus pacientes é o envolvimento das pessoas portadores de esquizofrenia com as drogas. O psiquiatra disse cuidar atualmente de cerca de 100 pessoas com doenças psiquiátricas. "Cerca de 30% delas adoeceram psiquiatricamente por causo do uso de drogas. Paciente psiquiátrico com frequência, por se sentir marginalizado, vai procurar a droga como forma de amenizar os seus problemas", disse. 

Cineasta é morto a facadas em casa

O cineasta Eduardo Coutinho, 81 anos, considerado um dos principais documentaristas do Brasil, foi assassinado a facadas neste domingo, dentro de casa, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio Janeiro. A mulher do documentarista, Maria das Dores de Oliveira Coutinho, 62 anos, também foi ferida, encaminhada em estado grave para o Hospital Miguel Couto e depois transferida para um particular.

O filho do documentarista, Daniel Coutinho, 41 anos, que tem esquizofrenia, confessou ser o autor do crime. Ele foi preso em flagrante pela polícia, e a Justiça decretou a prisão preventiva.

De acordo com o delegado e diretor da Divisão de Homicídios, Rivaldo Barbosa, "o que aconteceu por volta das 11h é a expressão genuína da palavra tragédia. Filho atinge mortalmente seu pai a facadas o matando. Posteriormente a isso, se dirige à mãe e a atinge. Ela correu para um cômodo, provavelmente o banheiro, se trancou e acionou o outro filho pelo telefone", descreveu Barbosa.

O delegado ainda disse que Daniel, ensanguentado, bateu nas portas dos vizinhos e falou palavras desconexas: "libertei meu pai e tentei libertar minha mãe e eu. Tentando, me furei duas vezes e nada acontece". Depois, ele aguardou a chegada dos bombeiros no apartamento onde morava com os pais e abriu a porta voluntariamente.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, Maria foi esfaqueada duas vezes na região da mama, três no abdômen e sofreu também lesões no fígado. Ela foi operada e seu estado de saúde é grave. O filho do cineasta também foi encaminhado ao Hospital Miguel Couto, com dois ferimentos provocados por faca na região abdominal. Ele foi operado e seu estado de saúde é considerado estável. 

Coutinho era considerado um dos maiores documentaristas do Brasil. Entre outros filmes, ele é autor de Cabra Marcado para Morrer, Babilônia 2000, Jogo de Cena e Edifício Master. Entre as diversas premiações internacionais e nacionais que recebeu, o documentarista é vencedor do Kikito de Cristal, tido como a mais importante premiação do cinema nacional, pelo conjunto de sua obra.

Agência Brasil Agência Brasil
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