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"Apreensivos e revoltados', diz líder comunitário sobre lama

As previsões indicam que lama proveniente do rompimento de barragens em MG alcancem o litoral no domingo (22)

21 nov 2015 - 17h27
(atualizado às 18h07)
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O 'tsunami marrom', como vem sendo chamado, é composto por rejeitos do beneficiamento de minério de ferro
O 'tsunami marrom', como vem sendo chamado, é composto por rejeitos do beneficiamento de minério de ferro
Foto: Fred Loureiro/Secom ES / Fotos Públicas

Moradores do distrito de Regência, no Espírito Santo, onde desemboca o Rio Doce, estão "apreensivos" com a chegada da lama ao mar e "revoltados" com a falta de informações, segundo afirmou à BBC Brasil Carlos Sangália, vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica de Barra Seca e Foz do Rio Doce e educador ambiental do Projeto Tamar. "A comunidade está apreensiva com a chegada da lama proveniente do rompimento da barragem em Mariana ao mar. E também está revoltada pois faltam informações sobre a real dimensão do problema", disse ele.

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De acordo com Sangália, o momento é "crítico". "Estamos tentando fazer de tudo para minimizar o impacto ambiental dessa tragédia", acrescentou ele.

Previsões oficiais indicam que a lama proveniente do rompimento de uma barragem da empresa Samarco em Mariana há duas semanas deve começar a chegar ao litoral do Espírito Santo, onde se localiza a foz do rio Doce, neste domingo (22).

O 'tsunami marrom', como vem sendo chamado, é composto por rejeitos do beneficiamento de minério de ferro. Ainda não se sabe se a composição é tóxica para humanos, mas, de acordo com especialistas, ela funcionaria como uma "esponja", absorvendo outros poluentes para dentro do rio.

Na sexta-feira, os moradores da região realizaram um protesto contra a Samarco, mineradora controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton e considerada a responsável pelo desastre.

A empresa diz que está instalando barreiras de proteção para tentar minimizar o impacto ambiental da lama.

De acordo com Sangália, os trabalhos se concentram agora em alargar a foz do rio para permitir o escoamento do material para o mar. "A lama não pode ficar estacionada dentro da foz, pois o impacto ambiental será muito maior. É preciso deixar que esse material chegue ao mar, onde vai se dissipar".

Divergência

O alargamento da foz do rio Doce segue determinação da Justiça Estadual do Espírito Santo, que obrigou a Samarco a adotar as medidas necessárias para facilitar o escoamento da água.

A decisão, segundo o TJ (Tribunal de Justiça) do Estado, foi tomada com base na opinião de especialistas e após encontros com representantes de órgãos como o Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

A Justiça determinou também que a empresa resgate representantes de todas as espécies da fauna aquática nativa que têm o rio como habitat, assim como ovos de tartarugas marinhas que possam ser afetados pela lama.

A decisão da Justiça Estadual contraria determinação anterior da Justiça Federal, que, por meio de liminar, havia obrigado a Samarco a impedir que a lama chegasse ao mar sob pena de multa de R$10 milhões por dia.

Conheça o Rio Doce antes e depois da enxurrada de lama:

 

Biodiversidade ameaçada

Segundo espealistas, a foz do Rio Doce é um importante celeiro de nutrientes para animais marinhos, como a tartaruga-de-couro (ameaçada de extinção), o golfinho pontoporia e as baleias jubartes.

Em entrevista à BBC Brasil, o biólogo André Ruschi afirmou que o contato da lama com o mar seria equivalente 'a dizimar o Pantanal'.

"Precisamos impedir a todo custo que essa lama chegue ao mar. Caso contrário, pode se tornar um desastre de proporções mundiais, com consequências difíceis de imaginar. É um risco que não podemos correr. E o preço que pagaremos por ele será enorme", disse ele.

Já o Ministério do Meio Ambiente prevê um cenário menos drástico. Segundo o órgão, a lama atingiria uma área de 9 km de mar ao longo do litoral do Espírito Santo. A estimativa é baseada em um levantamento feito pelo grupo de pesquisa do oceanógrafo Paulo Rosman, da UFRJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

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