"Estou arrependido de acordo", diz advogado de Youssef
"O que está acontecendo aqui não é uma colaboração é um jogo de humilhação da defesa, de imposição", disse Figueiredo Basto, no segundo dia de depoimentos das ações referentes à Operação Lava Jato
O depoimento de Leonardo Meirelles, que confessou ter atuado para o doleiro Alberto Youssef na empresa farmacêutica Labogen, causou discussão entre os advogados que acompanhavam o segundo dia de audiência das ações referentes à Operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro e deixou o defensor de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto revoltado.
“Leonardo Meirelles está sendo protegido. Estou acusando publicamente. Ele veio para depor na qualidade de testemunha, com o compromisso da verdade e o juiz deixa ele ficar calado. Ele só fala o que quer, confessa crimes, acusa todo mundo, e na hora que vamos questioná-lo, não responde. Está tendo privilégio”, declarou.
Questionado se tomaria alguma providência, lembrou que, por conta do acordo de delação premiada, seu cliente não pode mais questionar os ritos do processo e disse estar arrependido. “Eu me arrependo da colaboração. O que está acontecendo aqui não é uma colaboração é um jogo de humilhação da defesa, de imposição. Temos que engolir tudo o que está sendo feito, senão não tem acordo”, disse. Lembrado que, graças ao acordo ele conseguiu reduzir a pena do doleiro de mais de 200 anos para cinco anos apenas, ele respondeu que “a vantagem é para meu cliente, mas, como advogado, tenho que falar que o que está acontecendo aqui não é correto. Esse processo já tem um final claro determinado, que é a condenação de todo mundo. Nós, advogados somos meras marionetes”, concluiu.
Já o advogado de Meirelles, Haroldo Nater disse que, durante o depoimento, seu cliente deixou claro a relação de Youssef com as empreiteiras e disse que o doleiro era muito mais que um “leva e traz” de corruptores e corruptos. “Youssef é personagem essencial assim como (Renato) Duque e Paulo Roberto Costa (ex-diretores da Petrobras). Ele não era só o operador, era quem ensinava como fazer”, contou. Segundo Nater, Leonardo reafirmou sua confissão de que tinha empresas que mandavam recursos para o exterior “e esse dinheiro era retirado por outras pessoas”. Questionado sobre se essas pessoas eram políticos, disse que isso ainda está sob sigilo.
O advogado de Meirelles também afirmou que a declaração de seu cliente de que o patrimônio de Youssef é bem maior que o declarado na delação premiada é um alerta Às autoridades sobre a falsidade dos depoimentos prestado no acordo do doleiro com o Ministério Público. “No passado já teve uma delação premiada que não tratou de todos os fatos que eram relevantes (caso Banestado – cujo acordo foi desfeito porque Youssef voltou a cometer crimes). E a população brasileira está sendo enganada mais uma vez. Estão sendo omitidos fatos importantes para o esclarecimento de toda essa podridão que acontece no país de maneira generalizada e algumas pessoas estão sendo beneficiadas em razão desses fatos”, declarou, sem dar detalhes.
Questionado sobre as afirmações de Basto, ele disse que “meu cliente se envolveu nesses fatos e confessou a participação dele. Mas se tem alguém que tem uma vida relacionada ao crime não é o Leonardo Meirelles. A delação premiada é um instituto cheio de vícios e não optamos porque não acreditamos e achamos que é muito mais digno confessar um erro do que trocar essa confissão por benefícios”. Sobre o patrimônio de Youssef, El declarou que “basta fazer a conta vendo quanto foi desviado da Petrobras para concluir, com facilidade que os valores envolvidos são muito maiores”, disse, informando que pedirá a nulidade da delação de Youssef nas alegações finais do processo contra Meirelles.
Na audiência desta terça-feira, foi abordada a ação penal envolvendo a construtora Engevix. Além de Meirelles, prestaram depoimento a contadora Meire Poza, que explicou sua atuação na emissão de notas falsas para Youssef, a ex-gerente da Petrobras Venina Velosa, que, segundo os advogados de Meirelles e Youssef, prestou um depoimento genérico, falando sobre os procedimentos internos da Petrobras para as licitações e os responsáveis pela Toyo Setal, Júlio Camargo e Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, que já haviam prestado depoimento ontem.
Para o advogado de Engevix, Fábio Tofic, “Cada vez mais fica comprovado que meus clientes foram vítimas deste esquema. Os depoimentos deixaram muito claro que se tratava de uma extorsão, o que acaba fazendo ruir essa acusação de que os empresários eram os verdadeiros culpados e os vilões dessa história. Vocês vão ver nos depoimentos deles que havia uma extorsão engendrada pelos diretores da Petrobras”.