Explosão de jato leva terror e desperta solidariedade em moradores de Santos
Luis Kawaguti e Renata Mendonça
Da BBC Brasil em Santos
Um barulho de ensurdecedor de turbinas de avião seguido por uma explosão de grandes proporções, poeira e muita fumaça. É assim que os moradores do bairro do Boqueirão em Santos, no litoral paulista, descrevem o acidente aéreo que matou o candidato à Presidência Eduardo Campos e membros de sua equipe de campanha na manhã da quarta-feira.
Segundo a polícia, além de Campos outras seis pessoas que estavam na aeronave morreram. A explosão atingiu ao menos 16 imóveis e deixou quatro feridos em solo.
Enquanto bombeiros e policiais passavam o dia trabalhando em busca de restos de corpos de vítimas, centenas de moradores saíam às ruas no local da queda do avião para tentar entender o que estava acontecendo e oferecer alguma ajuda caso fosse necessário. Impressionados com o acidente, eles descreviam o que tinham visto ainda em choque e se solidarizavam com os vizinhos mais afetados com a tragédia.
O protagonista de uma dessas histórias foi Vinícius Lopez, dono de uma escola de inglês próxima ao local do acidente. Ao ouvirem a explosão e sentirem o cheiro do querosene queimando, ele e um amigo correram para fora do prédio e foram ajudar duas mulheres que estavam presas em uma das casas atingidas.
"Eu estava na escola e ouvi um barulho muito forte, como a passagem de um avião. Então eu corri para fora e pulei o muro para ajudar duas senhoras que estavam em uma casa", disse à BBC Brasil. Após tirar as duas do local, ele parou para reparar nos escombros e resume o que viu: "cenas de destruição".
"Estava tudo destruído, um buraco enorme, fogo por tudo quanto é lado, nas janelas e na casa dos fundos. Tudo completamente destruído. A gente tirou as pessoas de lá e também saiu para ficar todo mundo em segurança", afirmou.
Julia Nagamine conta que era sua irmã e mãe que estavam na casa e que, por uma diferença de 20 minutos, ela mesma não viveu a explosão de perto. A irmã dela chegou a sofrer ferimentos leves nas costas, mas passa bem. A mãe saiu ilesa.
"Eu tinha saído de lá pra comprar umas coisas, quando vi o que aconteceu, eu liguei pro Vinícius, ele me disse que elas já estavam a salvo e eu corri pra cá. Vendo a casa assim de frente, parece que não aconteceu nada, mas lá no fundo está irreconhecível, destruiu tudo”, descreveu.
Mesmo horas após o impacto do acidente, Vinícius Lopez ainda se mostrava em choque com o que estava vendo, especialmente após a morte do candidato Eduardo Campos ter sido confirmada. “Eu vi o Eduardo Campos dar uma entrevista um dia antes, ele estava lá tão bem e de repente acontece tudo isso aqui do lado da gente.”
Estragos
Ao menos 50 pessoas tiveram que deixar suas casas devido ao acidente. Os 16 imóveis que foram atingidos com destroços do acidente foram interditados, e a energia chegou a ser cortada em todo o quarteirão ao longo do dia, só sendo reestabelecida nas casas onde não estão sendo realizadas as buscas por volta de 20h.
Lourdes Rinaldi, que é vizinha das casas mais atingidas com o acidente, conta que passou o dia "sem rumo", buscando informações e checando se os vizinhos estavam bem. Ela diz que achou que a explosão estava acontecendo em sua própria residência, tamanho o impacto dela.
"Eu estava na cozinha, pensei que tivesse explodido o gás, o barulho foi muito forte, parecia aqui dentro. O vidro do meu banheiro quebrou, a porta da minha sala quebrou, até um pedaço do telhado caiu”, contou dona Lourdes, que foi à casa de um vizinho que teve estragos ainda maiores.
"A parte de trás da casa do sr. Jean danificou muito, a cozinha ficou toda quebrada, na parte da piscina detonou, não dá nem pra ver a água nela, tá tudo coberto. Tem até uma guarnição do avião ali dentro.”
Outra moradora da região, a jovem de 22 anos, Beatriz Regina, estava se arrumando para ir trabalhar quando sentiu o estrondo da explosão do avião e não pode conter o desespero. Ela disse que a queda do jatinho provocou uma ventania e a grande quantidade de fumaça e fogo deixou os moradores do quarteirão em pânico.
"Eu estava me vestindo e aí começou a bater um vento muito forte, mas na verdade era a pressão do ar. Eu vi as pessoas correndo, alguns iam em direção ao local do acidente falando que um avião tinha caído, mas na hora você não acredita".
"Tinha uma fumaça forte e preta, o cheiro de queimado, tinha muitos estilhaços, até uma peça com uma pequena identificação da aeronave. Na hora eu senti medo você fica com medo de explodir alguma coisa a mais", conta. "As pessoas estavam assustadas, algumas até passando mal, principalmente idosos."
Cenário chocante
O capitão dos Bombeiros, Mauro Palumbo, explica que a intensidade da explosão fez com que o estrago atingisse áreas enormes, dificultando a busca. "A gente mal consegue encontrar pedaços concretos do avião, não dá nem pra reconhecer os fragmentos, porque são muito pequenos e se espalharam por todo o lugar".
Centenas de pessoas estão envolvidas nas buscas, incluindo 45 bombeiros e outras dezenas de policiais militares e federais, além de membros da aeronáutica e outros peritos.
As cenas de destruição da tragédia, segundo o diretor do Deinter 6, da Polícia Civil de Santos, Aldo Galiano Jr., são muito impactantes. "É realmente muito chocante ver a situação. Um cenário muito triste", falou à BBC Brasil.
Ele conta que um parente de Eduardo Campos chegou a ir até a prefeitura de Santos na tarde da quarta-feira e pediu para ser levado para o local do acidente. "Nós felizmente o convencemos a desistir. Tanto ele quanto familiares dos dois fotógrafos também queriam vir e nós explicamos que seria muito impactante mesmo."
Ainda de acordo com Galiano Jr., cerca de 90% dos restos mortais das vítimas já foram encontrados até a noite desta quarta. O secretário de Segurança Pública Fernando Grella afirmou que o processo de identificação das vítimas já está sendo feita no Instituto Médico Legal de São Paulo, principalmente por meio de exames de arcadas dentárias.
"Em alguns casos vai ser necessário o (uso de exames de) DNA, que já foram pedidos", afirmou.
Explosão no solo
O clima estava nublado e chuvoso na hora do acidente, mas ainda não é possivel saber quais foram as causas da queda da aeronave.
Segundo Galiano, há fortes indícios de que o jato tenha explodido ao se chocar contra o solo, e não durante o voo, principalmente levando em consideração a distância que os destroços percorreram. Mais cedo, testemunhas haviam dito que o avião estaria em chamas ainda em voo.
"A gente acredita que o avião só explodiu quando estava no solo, até porque dá para saber que o piloto estava consciente no momento que tentava encontrar uma área aberta para pousar sem fazer grandes estragos. Ele foi heroico, desviou o avião e ele só caiu nessa área que é um quintal e tem um bambuzal do lado. O estrago poderia ter sido bem maior", explicou o delegado.
Ele praticamente descartou a hipótese de atentado e disse que as maiores probabilidades de causa para o acidente são falha humana ou técnica. "A aeronáutica já está com as duas caixas pretas e vai poder esclarecer isso em breve."
A investigação sobre as causas do acidente estão sendo lideradas por peritos da Força Aérea . Além disso um inquérito foi aberto pela polícia para apurar se houve imperícia ou negligência de pessoas envolvidas no caso. Apesar do mau tempo em Santos – choveu muito durante toda a quarta-feira -, as buscas não pararam no local e a expectativa da Policia Civil é que elas terminem até a tarde desta quinta.