Familiares de doentes graves apoiam marcha da maconha no Rio de Janeiro
Dezenas de familiares de pessoas com doenças graves que podem ser tratadas com derivados da Cannabis sativa se uniram neste sábado no Rio de Janeiro à chamada marcha da Maconha, uma manifestação anual que desde 2002 reúne uma multidão nesta cidade para pedir a legalização da erva.
"A maconha também é um remédio" diziam em seus cartazes os pais de crianças cujas doenças podem ser tratadas ou amenizadas com a substância ativa canabidiol ou com outros derivados da erva, aos quais são atribuídas funções medicinais e que marcharam junto com seus filhos em cadeiras de rodas.
Foi a primeira vez que este grupo específico se uniu à marcha da Maconha, manifestação que percorreu a orla de Ipanema com cartazes, máscaras, folhetos e palavras de ordem em defesa da descriminalização do consumo da erva.
A expectativa dos organizadores era reunir 15 mil pessoas, acima das 10 mil do ano passado, mas muitos desistiram por causa da forte chuva que caiu quando ainda estavam concentrados e, segundo a Polícia, na marcha só havia cerca de 3.500.
"Decidimos nos unir aos organizadores da marcha para poder informar à população que a maconha também pode ser usada como base de remédios e que é recomendada para algumas doenças", disse à Agência Efe Marcos Fernandes, pai de uma menina que sofre de epilepsia.
Marcos explicou que os defensores do uso medicinal da maconha no Brasil apenas começaram a se organizar recentemente através de grupos nas redes sociais em que discutem sobre derivados da erva que podem tratar doenças ou atenuar os ataques de epilepsia que sua filha sofre.
Os pequenos grupos e algumas famílias de forma isolada já apresentaram recursos à justiça para que lhes autorizem importar remédios com base em maconha ou até semear a planta no país para usá-la com fins medicinais.
"Estamos buscando espaços para manifestar nossas reivindicações e a marcha da Maconha serve a nosso propósito. Queremos conscientizar a população que a maconha não tem uso só recreativo e pedir às autoridades que apoiem e liberem o uso medicinal da erva", acrescentou.
O caso mais citado na marcha foi o de um adolescente de 12 anos identificado como Victor Hugo Arcanjo Ferreira que morreu este ano dois dias depois que um juiz da cidade de Cuiabá autorizou seus pais a importar um remédio com base em canabidiol que é recomendada para tratar a epilepsia.
Durante seu percurso por Ipanema os manifestantes pediram que o Brasil siga o exemplo do vizinho Uruguai, o primeiro país no mundo a regulamentar a produção e a venda de maconha.
"No Uruguai a produção agora é pública e o consumo permitido. Nos Estados Unidos, já há 20 estados que legalizaram a maconha para fins medicinais ou recreativos", alegou André Barros, integrante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e que defende os organizadores da manifestação.
A marcha da Maconha é realizada anualmente no Rio de Janeiro desde 2002, mas em suas primeiras edições os manifestantes tiveram que comparecer aos tribunais para poder se manifestar porque a Polícia considerava sua mensagem como apologia ao crime.
As manifestações foram reprimidas até que um tribunal superior determinou que os defensores da legalização da maconha têm direito a expressar sua opinião e, desde então, são realizadas com escolta policial para impedir incidentes com grupos que se opõem à descriminalização.