Ferraço diz que repetiria participação na retirada do senador boliviano
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), explicou nesta quinta-feira a sua participação na operação de retirada do senador boliviano, Roger Pinto Molina, da embaixada brasileira e a vinda dele para o Brasil. Segundo ele, a vida de Molina "estava em jogo".
"Era uma situação limite que não poderia continuar a ser tratada conforme ritmos e cânones diplomáticos, ao sabor das conveniências políticas, tornando-se apenas um item a mais da nossa agenda bilateral, sempre sujeita, durante mais de um ano, a ceder preferência para outras questões", disse ele, ao lembrar que Molina ficou asilado por mais de 450 dias na sede diplomática do Brasil na Bolívia.
Mesmo ante todas as negativas de autoridades do governo brasileiro sobre as más condições do asilo, Ferraço voltou a afirmar que o senador boliviano estava submetido a condições de saúde física e mental próprias de um ser humano isolado sem direito a sol. Para Ferraço, a operação foi o desfecho possível.
"A alternativa de desfecho para a grave situação seria a sua morte, através de um infarte ou mesmo de um derrame ou, quem sabe, até mesmo de um suicídio, conforme relato e laudo do médico que esteve atendendo ao senador Molina na chancelaria do Brasil na Bolívia", garantiu.
O parlamentar ainda acrescentou que, mesmo sem ter o solicitado salvo-conduto, a operação foi o mesmo que "salvar uma vida humana", citando trecho da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que trata dos direitos de pessoas vítimas de perseguição. "Eu repetiria quantas vezes fossem necessárias, minha modesta atuação no episódio", completou.
Ricardo Ferraço ainda pediu ao governo uma reconsideração sobre a situação de Eduardo Saboia, funcionário do Itamaraty que organizou a operação de transporte de Molina, para que não tenha sua carreira prejudicada.
Senador boliviano causa crise diplomática
Roger Pinto Molina, um inflamado opositor do governo de Evo Morales, estava na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012. O governo brasileiro concedeu asilo político ao senador dez dias depois, mas o parlamentar não podia deixar seu país, pois a Bolívia não deu a ele um salvo-conduto, alegando que Roger Pinto responde a vários processos por corrupção.
No dia 23 de agosto de 2013, no entanto, o senador fugiu da embaixada em um carro oficial escoltado por fuzileiros navais e foi até Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Nesta cidade, foi recebido por agentes da Polícia Federal e, de lá, seguiu até Brasília em um avião privado enviado pelo senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que o esperou no aeroporto na madrugada do dia 25. Ferraço foi quem deu os primeiros detalhes sobre a saída de Roger Pinto da Bolívia, que para o governo de Evo Morales nada mais foi do que a "fuga" de um "criminoso comum".
Ao saber da situação, o então ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, anunciou que o caso seria "investigado", seriam tomadas "as medidas administrativas e disciplinares" correspondentes e convocou para consultas o encarregado de negócios na embaixada em La Paz, Eduardo Saboia. O funcionário chegou a Brasília no dia 26 e, no aeroporto, disse a jornalistas que tinha "ajudado" o senador por razões humanitárias.
"Tomei a decisão porque havia um risco iminente para sua vida e uma ameaça à dignidade de uma pessoa", declarou Saboia, que assumiu a responsabilidade sobre o caso e disse que tinha optado "pela vida" e por "proteger" um "perseguido político".
Visivelmente contrariada pelo episódio, a presidente Dilma Rousseff aceitou na noite de 26 de agosto o pedido de demissão do chanceler Antonio Patriota, que foi substituído pelo representante do Brasil na ONU, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
No dia seguinte, Dilma demonstrou irritação com a operação, que, segundo ela, colocou em risco a vida do diplomata e do senador boliviano. "O Brasil não poderia colocar em risco a vida de uma pessoa que estava sob a sua guarda", afirmou Dilma, em relação à ausência de garantia de um salvo-conduto por parte do governo da Bolívia. "Um Estado democrático e civilizado, a primeira coisa que faz é proteger a vida sem qualquer outra consideração. Protegemos a vida e a segurança e garantimos conforto ao asilado", criticou. "Se nada aconteceu, não é a questão. Poderia ter acontecido."