Funai chama de 'difamatória' nota da gestão anterior sobre desaparecimento de Bruno e Dom
O órgão pediu desculpas às famílias do indigenista e do jornalista mortos em 2022
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) se manifestou, nesta terça-feira, 28, contra uma nota publicada pela gestão do então delegado Marcelo Xavier, durante o governo Bolsonaro. A nota em questão se referia ao desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips. Segundo a Funai, o conteúdo era "difamatório" e "violento".
"A nota publicada no dia 10 de junho de 2022, apenas cinco dias após o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips, ameaçava a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) de processo judicial e trazia uma série de inverdades contra Bruno e Dom", diz trecho do comunicado publicado pela Funai nesta terça.
Na nota do ano passado, a Funai dizia que iria acionar o Ministério Público Federal (MPF) para investigar a Univaja, que teria permitido que Bruno e Dom entrassem ilegalmente em uma região de indígenas isolados.
No texto de hoje, a instituição relembrou que o conteúdo foi retirado do ar por ordem da Justiça Federal do Amazonas, dias após sua publicação. A Justiça havia considerado a nota “violadora de direitos humanos”, “inoportuna”, “indevida” e que seu conteúdo não era “compatível com a realidade dos fatos e com as normas em vigor”.
A retratação publicada é um pedido de desculpas pelo que a Funai considera um "capítulo lamentável de sua história".
"Hoje pedimos desculpas às famílias de Bruno e Dom. Os nomes deles foram insultados por autoridades públicas no momento mais difícil da vida de suas famílias e é dever do Estado brasileiro reconhecer a violência difamatória que sofreram, se desculpar com seus familiares e nunca mais permitir a repetição de atos dessa natureza", diz trecho do comunicado.
No mesmo texto, a Funai aproveitou para homenagear o também indigenista Maxciel Pereira, assassinado pelo crime organizado na região, segundo o órgão. A Funai considerou que a morte de Maxciel, assim como a de Bruno e Dom, estão relacionadas à "negligência de autoridades públicas e sua atuação muitas vezes contrária aos direitos indígenas".
O órgão disse ainda ter aceitado o convite da Univaja para a retomada do Vale do Javari e que se compromete a acompanhar as investigações do caso Maxciel.