Funcionária demitida na ditadura militar é reintegrada ao quadro de Itaipu após 46 anos
A reparação ocorre 46 anos após o desligamento da profissional, "sob suspeita de atividades subversivas"
A Itaipu Binacional anunciou nesta segunda-feira a reintegração ao quadro de empregados de Sonia Lúcia Castanheira, tradutora e secretária que foi demitida por motivações políticas em 1977, durante a ditadura militar brasileira.
A reparação ocorre 46 anos após o desligamento da profissional, "sob suspeita de atividades subversivas", da empresa que administra uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo.
De acordo com Sônia, a demissão foi ordenada pelo governo do general João Baptista Figueiredo e ocorreu sem explicações. "Fui demitida sem saber se havia cometido algum erro, se era pelo meu desempenho. Somente em 2009, com a abertura dos arquivos da ditadura militar, descobri que a causa era política", disse Sonia em nota divulgada pela empresa.
O marido de Sonia, Dario Anibal Galindo, funcionário de uma prestadora de serviços de Itaipu, fora demitido um ano antes, em 1976.
"Uma mulher nos acusou de estarmos envolvidos em atividades contrárias à repressão. Nós nunca fizemos nada", disse ela, que acredita que uma das razões para a perseguição política seria o fato de ela ter morado no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (USP) em 1965, ano em que o movimento estudantil fez greve em protesto ao aumento do preço de refeições e moradia.
Sonia teve acesso a um relatório completo em 2012 e entrou com ação trabalhista na 1ª Vara do Trabalho de Foz do Iguaçu, buscando o reconhecimento de seu vínculo empregatício com Itaipu. Uma sentença favorável à autora foi concedida em 2017 pela juíza do Trabalho Erica Yumi Okimura. Itaipu havia recorrido da decisão na ocasião, mas agora acatou a determinação judicial.
Além de sua reintegração à Itaipu, Sonia também receberá uma indenização da empresa e terá direito a benefícios como assistência média e odontológica, disse a empresa.
Enio Verri, diretor-geral brasileiro de Itaipu, afirmou que a reintegração de Sonia é uma marca na história da empresa, que atualmente reflete um Estado brasileiro "marcado pela presença de um governo democrático, preocupado em preservar a história e fortalecer a democracia".