Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

G-77: Diante de plenária quase vazia, Lula condena embargo a Cuba e exalta cooperação Sul-Sul

O presidente brasileiro participou da cúpula do G77, grupo com países que juntos correspondem a 79% da população mundial, e se encontrou com Miguel Díaz Canel e Raul Castro

16 set 2023 - 12h16
(atualizado às 20h34)
Compartilhar
Exibir comentários
Lula (no telão) diante de plenária da cúpula em Havana; 'G-77 foi fundamental para expor as anomalias do comércio global', afirmou presidente brasileiro
Lula (no telão) diante de plenária da cúpula em Havana; 'G-77 foi fundamental para expor as anomalias do comércio global', afirmou presidente brasileiro
Foto: Mariana Sanches/BBC News Brasil / BBC News Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu discurso na cúpula G-77+China a uma plateia que deveria estar repleta de delegações de cem países e ao menos 16 chefes de Estado, mas que estava praticamente vazia na manhã deste sábado (16/9).

Quando o anfitrião da cúpula, o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, o chamou ao púlpito, pouco depois das 9h local, não houve aplausos e Lula parecia nem entender que já estava com a palavra.

Avisado por integrantes da delegação brasileira, ele caminhou ao palco para um discurso de cerca de 10 minutos no qual criticou o embargo americano a Cuba e a inclusão do país na lista de nações patrocinadoras de terrorismo, elogiou a diversidade do G-77, que corresponde a 79% da população mundial, apontou a falta de representatividade dos atuais mecanismos multilaterais, voltou a cobrar dos países ricos a conta pelas mudanças climáticas e exaltou a cooperação Sul-Sul, da qual disse que o Brasil era pioneiro.

"O G-77 foi fundamental para expor as anomalias do comércio global e para defender a construção de uma Nova Ordem Econômica Internacional. Infelizmente, muitas das nossas demandas nunca foram atendidas", afirmou Lula em seu discurso.

Diplomatas brasileiros ouvidos pela BBC News Brasil defendiam que o evento mais importante de Lula em Cuba era justamente sua participação no fórum, e não a visita bilateral ao governo cubano.

Criado nos anos 1960, o bloco é composto por mais de 130 países do chamado Sul Global, mas historicamente tem tido pouca voz nas definições tomadas em ambientes geopolíticos centrais, como a ONU.

"A governança mundial segue assimétrica. A ONU, o sistema Bretton Woods (em uma referência à primazia do dólar no comércio global) e a OMC (Organização Mundial do Comércio) estão perdendo credibilidade", complementou o presidente brasileiro.

Segundo um de seus auxiliares mais próximos, ao comparecer ao G-77 e, na próxima terça, 19/9, abrir a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Lula terá concluído o processo de "devolver o Brasil a todos os tabuleiros internacionais mais importantes".

Neste ano, Lula também esteve no encontro do G-7, do G-20, dos Brics e da Celac/União Europeia.

Durante a fala do líder brasileiro no Palácio de Convenções em Havana, a plateia foi aos poucos enchendo, mas ainda longe de completar 50% de sua capacidade.

Além da participação no G-77+China, Lula terá reunião bilateral com presidente cubano Díaz-Canel
Além da participação no G-77+China, Lula terá reunião bilateral com presidente cubano Díaz-Canel
Foto: EPA / BBC News Brasil

Além de Díaz-Canel, a BBC News Brasil presenciou apenas uma rápida troca de palavras entre Lula e Ralph Gonsalves, o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, um pequeno país da América Central com pouco mais de cem mil habitantes. Durante o discurso, não estavam presentes, porém, o presidente argentino, Alberto Fernandéz, o venezuelano Nicolás Maduro e nem mesmo o líder nicaraguense Daniel Ortega. Fernandéz e Ortega chegaram depois da fala de Lula e o cumprimentaram no período em que o líder brasileiro assistiu aos discursos de outros representantes diplomáticos.

Lula defendeu justamente que as nações em desenvolvimento se unam para que tanto a transição energética quanto a revolução digital não sejam conduzidas por "um punhado de economias ricas" e contem com presença decisiva da América Latina, do Caribe e da África Subsaariana.

"Não podemos nos dividir. Devemos forjar uma visão comum que leve em consideração as preocupações dos países de renda baixa e média e de outros grupos mais vulneráveis", disse o brasileiro.

Lula defendeu a inclusão de especialistas dos países em desenvolvimento nos painéis de discussões tecnológicas e sinalizou que há oportunidades de desenvolvimento no processo de combate às mudanças climáticas.

"Vamos promover a industrialização sustentável, investindo em energias renováveis, na socio-bio-economia e na agricultura de baixo carbono", afirmou o presidente para em seguida ressaltar que "faremos isso sem esquecer que não temos a mesma dívida histórica dos países ricos pelo aquecimento global".

"É por isso que o financiamento climático tem de ser assegurado a todos os países em desenvolvimento, segundo suas necessidades e prioridades. No caminho entre a COP-28 (conferência climática da ONU, agendada para novembro), em Dubai, e a COP-30, em Belém, será necessário insistir na implementação dos compromissos nunca cumpridos pelos países desenvolvidos", afirmou Lula.

Por fim, o mandatário sugeriu uma reedição da chamada Comissão do Sul, grupo de intelectuais de países em desenvolvimento, entre eles os brasileiros Celso Furtado e Paulo Arns, que se reuniu nos anos 1990 para criar uma visão comum sobre o caminho a seguir no pós-Guerra Fria.

Acordos com Cuba e encontro com Raul Castro

Os presidentes cubano Miguel Díaz-Canel e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva passam a tropa em revista no Palácio da Revolução
Os presidentes cubano Miguel Díaz-Canel e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva passam a tropa em revista no Palácio da Revolução
Foto: Mariana Sanches/ BBC News Brasil / BBC News Brasil

Além da participação no G-77+China, Lula teve um encontro com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o chinês Qu Dongyu, que deixou a conversa sem falar com a imprensa.

À tarde, o brasileiro uma reunião bilateral com Díaz-Canel no Palácio da Revolução. Na ocasião, os líderes assinaram protocolos de cooperação nas áreas de desenvolvimento de biofármacos e de trocas tecnológicas, especialmente focadas na agricultura familiar.

O encontro, que durou cerca de uma hora, representa uma reaproximação dos países, que permaneceram distantes nos últimos sete anos.

E havia a expecativa de auxiliares do presidente de que a conversa abriria também uma nova rodada de negociações para que Cuba volte a pagar a dívida de R$2,5 bilhões que têm com o BNDES pelo financiamento da contrução do complexo portuário de Mariel, a 40km de Havana. Lula, no entanto, não quis detalhar os temas de sua conversa com Díaz-Canel antes da reunião e não falou com a imprensa na saída.

No fim da tarde, Lula deixou o Palácio da Revolução, mas em vez de ir ao aeroporto, conforme apontava sua agenda, fez um desvio de 40 minutos para visitar o líder revolucionário cubano Raúl Castro, de 92 anos, na residência privada dele. O avião presidencial partiu com uma hora e meia de atraso do aeroporto José Martí, em Havana, em direção a Nova York, onde o presidente permanecerá por cinco dias para participar dos eventos da ONU e de encontro bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade