Gonçalves Dias: 3 perguntas ainda sem resposta sobre vídeo que derrubou ministro de Lula
Chefe do GSI, general Gonçalves Dias, entregou seu cargo, em meio ao vazamento de imagens de câmeras de segurança onde ele aparece interagindo com pessoas que invadiram o Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve sua primeira baixa nesta semana quando o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, entregou seu cargo, em meio ao vazamento de imagens de câmeras de segurança onde ele aparece interagindo com pessoas que invadiram o Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.
As imagens reveladas pela CNN Brasil mostram Dias caminhando no terceiro andar do Palácio do Planalto e conversando com invasores.
Aparentemente ele está mostrando a saída de emergência aos invasores. Outros funcionários do GSI aparecem dando água para alguns dos invasores.
O dia 8 de janeiro foi marcado pela invasão violenta e quebradeira das sedes do Três Poderes em Brasília.
As imagens levantam dúvidas sobre a atuação de Gonçalves Dias e do GSI no dia. O ministro entregou seu cargo alegando que isso facilitaria investigações sobre as imagens. O ministério, sob novo comando, já determinou a investigação.
Existe também a possibilidade de instauração de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos violentos do dia 8 de janeiro em Brasília.
Inicialmente a CPMI era uma reivindicação da oposição, mas há sinais de que o próprio governo pode apoiar a iniciativa agora.
Em entrevista à BBC News Brasil em Londres nesta quinta-feira (20/4), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que o pedido de criação da CPMI será lido no Congresso em 26 de abril e que a polêmica envolvendo o GSI "é um fato que tem que ser esclarecido".
Após sua saída, ele concedeu entrevistas — mas ainda há diversas dúvidas que ainda não foram esclarecidas.
1. Por que houve um tratamento aparentemente tão cordial aos invasores?
Essa é a questão mais importante na queda do ministro — e segundo interlocutores do governo foi a que mais irritou o presidente. Ela foi determinante na queda do ministro.
As imagens mostram que os invasores não eram pacíficos. Eles aparecem destruindo vidros e um relógio histórico.
As imagens revelam uma série de evidências de um comportamento cordial por parte dos funcionários e seguranças do GSI — alguns deles militares:
- Em alguns trechos, os funcionários do GSI aparecem conversando calmamente com todos os invasores;
- Em algumas imagens, os funcionários cumprimentam cordialmente os vândalos;
- Em outras, um homem pega um extintor de incêndio, que foi usador por diversos vândalos para destruir os prédios. Um funcionário do GSI assiste passivamente e não fala nada;
- Um dos militares aparece abrindo uma porta de onde os invasores tiram garrafas de água para se refrescar;
- Gonçalves Dias aparece caminhando ao lado dos invasores, aparentemente mostrando a saída para eles.
As investigações precisarão esclarecer porque não houve prisão imediata dos invasores — e porque os funcionários e o ex-ministro não parecem estar tentando evitar as invasões ou chamar reforços.
Dias se defendeu afirmando que suas ações e da equipe naquele dia tiveram o objetivo de tirar os invasores de locais sensíveis e levá-los ao segundo andar para serem presos.
"Eu entrei no palácio depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do terceiro piso e do quarto piso para que houvesse a prisão no segundo", disse o agora ex-ministro à Globonews.
"Na sala ao lado (da sala) do presidente, eu retirei três pessoas que estavam lá dentro e mandei descer pro segundo (andar). Eu fui verificar se as portas estavam fechadas e se não houve nenhuma depredação lá dentro."
"Prendemos mais 250 pessoas pessoas aqui dentro, que invadiram, que depredaram tudo. Minha amiga, ninguém fala, mas nós preservamos praticamente o terceiro piso todinho — o coração do Planalto, que é a sala do presidente, ela foi preservada."
O ex-ministro defendeu também que condutas como a do funcionário que foi filmado distribuindo água aos invasores sejam punidas.
"Aquilo é um desvio de atitude", disse, referindo-se à cena.
Ainda assim, Dias defendeu que a escolha de imagens como essa, de um funcionário distribuindo água, foi seletiva demais.
"O major distribuindo águas a manifestantes, fizeram um corte específico na produção dos vídeos que vocês olharem (sic). Aquilo é um absurdo para minha imagem. "
2. Por que essas imagens demoraram tanto para aparecer?
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Lula teria pedido diversas vezes ao general as imagens do sistema de segurança daquele dia. Uma das explicações dadas anteriormente era de que uma das câmeras tinha sido quebrada.
De acordo com o jornal, o presidente teria sido surpreendido pelo vazamento das imagens nesta semana.
Oficialmente, o governo diz que a Polícia Federal está investigando todas as imagens do dia.
Dias depois do ataque, o governo chegou a divulgar imagens da invasão do Palácio do Planalto — como as que mostram um invasor derrubando o relógio histórico — mas os trechos eram editados.
Gonçalves Dias nega que tenha impedido acesso do presidente às imagens, e disse que tudo foi distribuído aos órgãos competentes que investigam as invasões.
3. Por que Gonçalves Dias estava em Brasília naquele domingo?
Ainda não está claro porque o ministro estava no gabinete no dia dos ataques. As imagens mostram que ele anda sem escolta em meio aos invasores.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-comandante militar do Palácio do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, enviou reforços do Batalhão da Guarda Presidencial para o Palácio do Planalto dois dias antes dos ataques para Brasília.
Mas a presença do efetivo foi dispensada pelo GSI no dia 7 de janeiro — um dia antes da invasão. Não se sabe porque esse efetivo foi dispensado, justamente na véspera dos atos violentos.