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Governo do Paraná diz que assinará parceria com Rússia para vacina contra Covid-19

11 ago 2020 - 20h03
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O governo do Estado do Paraná assinará um acordo com a Rússia para uma parceria em uma vacina contra a Covid-19, disse nesta terça-feira o diretor-presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná, Jorge Callado, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que ainda não recebeu qualquer pedido relacionado ao possível imunizante russo.

Foto de divulgação fornecida pelo Fundo de Investimento Direto Russo com frascos de vacina contra a Covid-19 desenvolvida por um laboratório russo, em Moscou
06/08/2020
RDIF/Divulgação via REUTERS
Foto de divulgação fornecida pelo Fundo de Investimento Direto Russo com frascos de vacina contra a Covid-19 desenvolvida por um laboratório russo, em Moscou 06/08/2020 RDIF/Divulgação via REUTERS
Foto: Reuters

"Para que tenha qualquer troca de informações, qualquer reunião mais avançada é necessária a assinatura do acordo entre o governo do Paraná e a Rússia, que está prevista para acontecer", disse Callado em entrevista à GloboNews.

"Após esse ajuste com o governo da Rússia, as tratativas tecnológicas e científicas começam", acrescentou.

O governo do Paraná informou, em nota, que o governador Ratinho Júnior (PSD) se reunirá na quarta-feira com uma delegação russa liderada pelo embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Akopov, mas não confirmou que o acordo para a vacina será assinado nessa ocasião.

Segundo o governo paranaense, o encontro terá como objetivo "definir os termos de um possível acordo entre as partes".

A vacina russa foi aprovada menos de dois meses após o início dos testes em humanos, o que levou pesquisadores a questionarem se a Rússia não está colocando o prestígio nacional à frente da ciência.

A aprovação pelo Ministério da Saúde russo veio antes do início dos testes clínicos em Fase 3 com milhares de voluntários -- a etapa considerada normalmente como essencial para o registro de uma vacina.

Apesar de o chefe do fundo soberano da Rússia, Kirill Dmitriev, ter dito que a vacina deve ser produzida no Brasil após aprovação regulatória, o diretor-assistente da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, alertou que uma eventual produção fora da Rússia não deve ser feita até que os testes das Fases 2 e 3 sejam concluídos, para garantir sua segurança e eficácia.

"Qualquer produtor de vacina tem que seguir este procedimento que garante sua segurança e tem a recomendação da OMS", disse Barbosa, que é ex-presidente da Anvisa, em entrevista coletiva virtual realizada pelo braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas.

A Anvisa informou, em nota, que o laboratório russo responsável pelo desenvolvimento da vacina não apresentou pedido de autorização de protocolo de pesquisa ou de registro no Brasil, e que também não houve solicitação de qualquer entidade ou parceiro da referida vacina.

Callado, da Tecpar, foi cauteloso com a parceria e disse que o acordo do governo paranaense com a Rússia é um "começo" e que depende da realização dos estágios necessários.

"É algo muito preliminar, não existe compromisso de produção enquanto essas etapas não forem validadas, não forem consolidadas e não forem liberadas pela Anvisa, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa", disse ele na entrevista à GloboNews.

O ex-diretor da Anvisa Ivo Bucaresky se mostrou cético com relação à vacina russa por ter sido desenvolvida tão rapidamente e com poucas pessoas testadas.

"Dessa vacina da Rússia eu tenho medo", disse Bucaresky à Reuters. "O governo russo foi no mínimo ousado, para não dizer inconsequente, ao jogar uma vacina tão pouco testada para vacinar a população", acrescentou.

Dois outros especialistas com passagem por altos cargos da Anvisa, que falaram sob condição de anonimato, disseram à Reuters não acreditar que a Tecpar tenha capacidade de fazer produção em massa da vacina.

O governo do Paraná minimizou essa preocupação, afirmando em comunicado que o instituto "é um órgão com capacidade técnica para participar do processo".

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que a pressão política por uma vacina tem se sobreposto às preocupações científicas, mas afirmou confiar que o Paraná tem capacidade tecnológica para produzir a vacina e que o Brasil tem protocolos claros para aprovação de medicamentos e vacinas.

"Eu lhe garanto que deve ter muito presidente com muita inveja do Putin, falando: 'Eu poderia também pegar essa vacina, ver se temos uns frascos, trazer e mandar dar. Eu queria também sair nessa foto'", disse ele em entrevista à Reuters.

"Agora, o Brasil deve ter uma posição de zelar pelos testes, de zelar pela vida da população... Se eles (russos) aplicaram em 150 milhões de cidadãos russos será um bom termômetro."

OUTRAS VACINAS

A expectativa por uma vacina é enorme no Brasil, o segundo país do mundo mais afetado pela pandemia --atrás apenas dos Estados Unidos--, com mais de 3 milhões de casos e 103.026 mortes confirmadas pela Covid-19 até o momento.

Atualmente, três vacinas estão passando por testes da Fase 3 no país aprovados pela Anvisa: a candidata do laboratório britânico AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford; a desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan; e a possível vacina da parceria Pfizer e BioNTech.

Outra empresa chinesa, a Sinopharm, também poderá realizar testes de sua candidata a vacina no Brasil, após assinatura de um acordo com o governo do Paraná no final do mês passado.

O governo federal já firmou acordo com a AstraZeneca para compra de até 100 milhões de doses da vacina da empresa, enquanto o governo de São Paulo participa do desenvolvimento da possível vacina da Sinovac.

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