Graça Foster diz que espionagem causou desconforto à Petrobras
Presidente da estatal, porém, afirmou no Senado que não há registros de que informações tenham sido acessadas pelos EUA
A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse nesta quarta-feira que não há, até o momento, qualquer registro ou evidência de que informações da empresa foram acessadas pela espionagem americana, mas admitiu que a possibilidade de informações sigilosas da estatal terem sido acessadas causa "no mínimo desconforto, porque não sabemos se vazou e o que vazou". A dirigente participa de audiência pública no Senado para tratar do tema.
Graça Foster mostrou confiança na segurança dos dados enviados à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), porque não são transmitidos pela internet. "Os dados são repassados à ANP por sistema fechado dentro dos centros. Fazemos transferência de dados, e não de interpretações ou processos avaliados. Não falamos de informações. O envio é físico por meio de CDs e DVDs, em mãos", disse.
Além disso, segundo explicou, o banco de dados com o "conhecimento explícito da companhia" está armazenado no Centro Integrado de Processamento de Dados, protegido com criptografia e diversas barreiras de segurança, como acesso por biometria, sistema de eclusa, pesagem do cidadão nos momentos de entrada e saída, além de monitoramento por câmeras.
"Para crer que fomos invadidos, temos de ter o registro ou evidência de invasão, e a amostra do que foi capturado. Por hora, não temos isso", disse Graça Foster, durante a audiência pública. "Mas ter nosso nome mostrado (em meio às denúncias de espionagem) gera preocupações sobre o que possa ter sido vazado. Vimos nosso nome ali, o que nos causou, no mínimo, grande desconforto, porque não sabemos se vazou e o que vazou."
Segundo a presidente da estatal, diretores da companhia informaram não haver nenhum registro anormal no sistema da empresa "em 2012 e 2013". Em termos de segurança da informação, acrescentou, "entendemos que temos o que de melhor a Petrobras poderia ter", disse. Ela acrescentou que os fatos "nos levam a discutir o que mais há para se fazer".
"Até o final de 2013, teremos investido R$ 3,9 bilhões por conta da segurança da informação. Para o período 2013-2017, serão investidos R$ 21,2 bilhões. Isso mostra a importância absoluta de investimentos vultosos em segurança da informação. Além disso, temos 243 doutores e mestres em tecnologia da informação e em telecomunicações", argumentou a dirigente.
Segundo Graça Foster, é comum o sistema reportar incidentes. "Ataques cibernéticos costumam ocorrer na internet com vários objetivos, que vão desde a diversão até ações criminosas, por motivações financeiras, ideológicas, políticas, concorrenciais ou comerciais." A dirigente disse que, entre 9 de agosto e 9 de setembro de 2013, a estatal recebeu 195,9 milhões de e-mails. Desses, 179,4 milhões foram bloqueados após detecção de spam, malware, vírus ou bloqueio de conteúdo.
Entre as estratégias da empresa para evitar que informações sigilosas sejam acessadas está também o "estímulo à fidelidade à empresa", pelos funcionários. "Mas fidelidade, assim como a tecnologia, não é 100%. (Até porque) não podemos garantir que seguraremos todos (os funcionários) na Petrobras. Além do mais, estamos falando de ser humano."
A audiência pública reúne senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Espionagem e das comissões técnicas de Assuntos Econômicos (CAE) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE).
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA) funcionou em Brasília, pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, então candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.