Grupo diz que CNV não vai "a fundo" na questão indígena
Grupo Tortura Nunca Mais, composto por familiares de mortos na ditadura, afirma que CNV será "introdução" aos horrores cometidos pelo Estado contra índios
O Grupo Tortura Nunca Mais em São Paulo, composto por familiares de mostos e desaparecidos durante o regime militar (1964 - 1985), afirmou, nesta quinta-feira, por meio de sua conta no Twitter, que a Comissão Nacional da Verdade tem resistência em "investigar a fundo as violações cometidas pelo Estado brasileiro contra os povos indígenas". O grupo afirmou ainda que, ao que tudo indica, "a parte do Relatório Final da CNV sobre o genocídio indígena será apenas uma introdução aos horrores cometidos pelo Estado".
Um dos grupos de trabalho da CNV tem por objetivo investigar violações dos direitos humanos cometidas no período militar por agentes públicos contra camponeses e indígenas. Esse grupo é coordenado pela psicanalista Maria Rita Kehl. O Terra entrou em contato com a assessoria de imprensa da CNV, que disse não se pronunciar sobre críticas feitas por meio das redes sociais.
O Tortura Nunca Mais acompanhou, nesta quinta-feira, audiência da Comissão da Verdade do estado de São Paulo, na assembleia legislativa do Estado, também sobre a questão dos índios e povos tradicionais. Em depoimentos e documentos foram revelados relatos de que bombas de napalm, arma química de extrema letalidade, arsênico, dinamite e contágio intencional de varíola foram usados contra a etnia Waimiri Atroari residente no Estado do Amazonas. Até hoje os militares negam terem usado esse tipo de armamento, segundo o grupo.
Cerca de 10 mil Waimiri-Atroari teriam desaparecidos durante a construção da rodovia BR 174, conhecida como Manaus-Boa Vista. O Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que precedeu a Funai, foi responsável por parte das mortes, além de torturas e estupros contra os povos indígenas. Fotos das atrocidades foram encontradas no Arquivo Nacional.