Grupo quer refazer Marcha da Família com Deus 50 anos depois
Protesto convocado para dezenas de cidades no dia 22 de março busca mobilização social “em defesa da fé, família e pátria” e pede uma “intervenção militar constitucional”
Em março de 1964, cerca de um milhão de pessoas saíram às ruas do Brasil em uma série de protestos contra aquilo que consideravam ser a ameaça comunista corporificada no governo do presidente João Goulart. As mobilizações, que ficaram conhecidas como "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", antecederam o golpe militar de 1964, que, poucas semanas depois, abriu o período ditatorial brasileiro.
Hoje, em flerte com teorias cíclicas da História, um movimento com motivações que ecoam esses gritos pré-1964 se organiza em torno da sua reedição. Através do Facebook e outras redes sociais, ativistas críticos da esquerda política e defensores do que consideram os "valores da vida e da família" organizam e convocam para o dia 22 de março a “Marcha da Família com Deus II – O retorno!”.
No início de março, quando estava aberta a público, a página do evento batia pouco acima dos 2,5 mil confirmados para as marchas convocadas para dezenas de cidades de todo o País. Nesta segunda-feira, era possível visitar a página fechada do grupo, na qual havia 2,6 mil membros. Uma outra página da mesma rede convoca para o "22 de Março - SP e todo o Brasil contra o Comunismo."
São números sensivelmente inferiores aos de 1964, mas as causas são similares. “Marcha pacifica contra tudo o que o comunismo e a cultura da morte tem desenvolvido e tem tentado em nosso país para destruir os valores da vida e da família”, definia a convocatória em tom similar às causas anticomunista e de defesa da “família” dos protestos de 1964.
“Marcharemos em favor da família onde a família possa ter seus direitos preservados exigiremos a criação do Ministério da Família e o seu respeito dentro da sociedade e mostrar nossa rejeição a todos os comunistas e esquerdistas a todas as formas de leis que impõe uma ditadura homossexual em cima de nós, mostrar que rejeitamos a PL 122 e todas as formas grantescas e comunistas contra a família", completava o texto disponível até a última semana.
Evento nacional a favor da "Intervenção militar constitucional"
As páginas da internet ligadas à organização do evento divulgam uma lista de locais escolhidos para a concentração no dia 22. A maioria dos pontos são endereços do Exército ou da Polícia, mas há também locais públicos. Em São Paulo, o protesto anticomunismo foi convocado para as 15h com saída na Praça da República em direção à Praça da Sé. No Rio de Janeiro, o evento partirá no mesmo horário da Candelária.
Além do grupo nacional, há páginas regionais, tais como os dos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná e das cidades de Lavras e Itajubá (MG). "Somos a favor de Intervenção Militar, que é diferente de Governo, Regime ou Ditadura Militar (do qual em partes não aceitamos), a Intervenção tem como utilidade e finalidade dar ao Exército o direito de tratar político corrupto como ladrão e mandar para a prisão, desde prefeito até mesmo à Dilma!", dizia o texto do grupo paranaenese disponível nesta segunda-feira.
"A única causa que deve mover as pessoas a participarem da Marcha é a manifestação da unidade do pensamento conservador/liberal no Brasil, já que hoje esse são os valores predominantes no país - basta verificar a aceitação massiva das declarações da apresentadora Rachel Sheherazade, por exemplo", afirmou ao Terra o gaúcho Jorge Henrique dos Santos, 31 anos, que tem interesse em participar da Marcha caso ela seja um evento coordenado em várias cidades.
"A Marcha de 1964 nada mais foi do que a consequência lógica de um governo corrupto e que visava instaurar no Brasil o comunismo - semelhante ao governo petista. Com a Graça de Deus, os militares de 1964 entenderam seu dever de defender a Constituição e tomaram de forma legítima o governo brasileiro."
De acordo com informações disponíveis até o final da semana passada, a organização nacional da Marcha tinha oito organizadores – quatro dos quais são apresentados como residentes fora do Brasil. O Terra buscou contato com estes cidadãos – entre os quais há moradores de Paris (França), Caracas (Venezuela), Moscou (Rússia), e Nova York (Estados Unidos) -, mas não havia obtido resposta até o fechamento desta matéria.