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Grupos neonazistas se multiplicam em um Brasil mais conservador

13 jun 2023 - 11h05
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Em novembro passado, poucas horas antes de uma reunião para imigrantes haitianos na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, a organizadora do evento Andrea Muller recebeu uma mensagem assustadora.

"Cancelem a Mostra Haiti ou faremos uma chacina em Itajaí", dizia o assunto do email, visto pela Reuters.

"Santa Catarina é terra de brancos e para brancos", escreveu o remetente anônimo, assinando com a saudação nazista "Sieg Heil".

No final das contas, não houve banho de sangue e o evento foi realizado com a presença de policiais. No entanto, o email, que a polícia de Santa Catarina ainda está investigando, indica um número pequeno, mas crescente, de casos de neonazismo no Brasil que aumentaram durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, de 2019 ao fim de 2022.

A Polícia Federal afirmou ter visto um salto no número de investigações abertas sobre suposta incitação ao neonazismo desde 2019, com um "aumento significativo" este ano.

Eles disseram que 21 investigações sobre suposta fabricação, venda, distribuição ou ostentação de suásticas "com o objetivo de propagar o nazismo" foram abertas até agora este ano, contra apenas uma em 2018, ano em que Bolsonaro foi eleito.

Alguns especialistas dizem que esses pequenos números não captam a escala nacional do problema. Em abril, um dia depois de ataque a uma escola de Santa Catarina que deixou quatro crianças mortas, o ministro da Justiça, Flávio Dino, ordenou que a Polícia Federal investigasse organizações neonazistas que possivelmente operavam além das fronteiras estaduais. Perpetradores usaram braçadeiras com suásticas nazistas em dois ataques anteriores a escolas este ano no Brasil.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) disse que também notou "um aumento sem precedentes no número de grupos extremistas, a maioria deles abertamente neonazistas".

Pesquisadores da Unicamp rastrearam um aumento de mais de dez vezes no número de células neonazistas no Brasil desde 2015. Embora outros questionem a escala dessas descobertas, não há dúvida de que os números estão crescendo.

Em um vídeo no YouTube apresentando suas conclusões, os pesquisadores da Unicamp disseram que Bolsonaro "alimentou" a ascensão de tais grupos com seus discursos "incendiários".

Guilherme Franco de Andrade, especialista em extrema-direita da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, foi mais cauteloso. Ele disse que o crescimento do neonazismo provavelmente está mais ligado a um aumento do conservadorismo brasileiro do que a Bolsonaro.

"Bolsonaro individualmente não tem a capilaridade, expressão suficiente, para organicamente influenciar o crescimento do neonazismo. Ele influencia sim o pensamento conservador, mas creditar diretamente ao Bolsonaro, qualquer liderança ou papel enquanto intelectual orgânico é um erro", afirmou.

A assessoria de imprensa de Bolsonaro não respondeu a pedidos de comentário.

ÓDIO NO SUL

O problema do neonazismo é particularmente agudo em Santa Catarina, onde grande parte da população tem ascendência alemã e italiana. O Estado é o mais branco do país, com 84% dos moradores se declarando brancos no último Censo.

Arthur Lopes, um delegado da polícia que lidera investigações sobre grupos neonazistas, disse que a composição étnica oferece uma plataforma para que essas visões prosperem.

Lopes, cujo escritório em Florianópolis está abarrotado de caixas de apetrechos nazistas apreendidos, contou que agora passa grande parte do dia na dark web, onde os fascistas se reúnem para evitar os olhares das autoridades.

Em novembro, a equipe de Lopes realizou sua maior apreensão, prendendo oito supostos neonazistas enfurnados em uma propriedade rural que se autodenominavam Crew 38. Vários dos homens estavam tatuados com símbolos nazistas e frases em inglês como "White Power."

Durante a operação, a equipe de Lopes encontrou bandeiras vermelhas, brancas e pretas, camisetas com o logotipo dos Hammerskins, uma ramificação de uma organização neonazista dos Estados Unidos e CDs do que Lopes chamou de "bandas supremacistas brancas". Lopes suspeita que eles estavam vendendo os itens para as células dos Hammerskins nos EUA e na Europa.

Luis Eduardo de Quadros, advogado que representa os oito homens, declarou que seus clientes são velhos amigos que gostam de ouvir esse tipo de rock, mas "não têm nada contra negros ou judeus". Ele disse ter recebido ameaças de morte por defendê-los.

Lopes disse que processar pessoas ligadas ao nazismo pode ser complicado sob a lei brasileira, que ele disse ser "fraca" e "ultrapassada", já que o uso de outros símbolos além da suástica que aludem ao regime nazista e discursos que negam ou defendem o Holocausto geralmente ficam impunes.

Talita de Almeida, moradora de Itajaí e programadora de 32 anos que esteve presente no evento haitiano, disse que o email ameaçador abriu seus olhos para uma nova realidade no Brasil.

"É bem assustador. Eu confesso que fiquei com medo, até porque eu sou negra e sou LGBT", afirmou.

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