'Idade do Bumbum'? A obsessão da música e das artes plásticas com as nádegas
Estamos em plena "Idade do Bumbum". Se no século 18, a Idade da razão era obcecada pela mente, hoje as coisas estão um pouquinho mais carnudas. O bumbum já é algo tão presente no nosso imaginário cultural que acreditamos que um deles seja capaz de "quebrar" a internet.
Adoramos essa parte do corpo em músicas como se ela fosse um deus a quem queremos fervorosamente agradar.
Canções como My Humps (dos Black Eyed Peas), Anaconda (de Nicki Minaj), Baby Got Back (de Sir Mix-a-lot) e Bootylicious (das Destiny's Childs) glorificam o bumbum de tal maneira que há cada vez mais mulheres dispostas a passar por uma cirurgia para aumentá-los - tanto que a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica chamou 2015 de o "Ano do Traseiro".
E agora, até representações exaltadas de nádegas estão ganhando espaço nas grandes premiações do refinado mundo das artes visuais.
Em setembro, uma foto de uma jovem contemplando a fenda murmurante de um gigantesco bumbum instalado na galeria Tate Britain, em Londres, chamou a atenção para o nível da nossa atual obsessão.
A obra, batizada de Project for a Door ("Projeto para uma porta", em tradução literal), é uma escultura de 5 metros de altura realizada pela artista britânica Anthea Hamilton, que foi indicada para o Turner Prize deste ano, um dos mais prestigiados (e polêmicos) prêmios da arte contemporânea.
A peça se baseia em um projeto nunca executado pelo arquiteto italiano Gaetano Pesce para um prédio de apartamentos em Nova York.
Inspiração pré-histórica
Noventa e nove anos depois de o dadaísta francês Marcel Duchamp escandalizar o mundo das artes ao propor a instalação de um urinol em uma galeria, e quase duas décadas após a artista britânica Tracey Emin deixar críticos indignados ao expor uma cama amarrotada cheia de camisinhas usadas, absorventes manchados, bitucas de cigarro e garrafas vazias, é de se pensar que nossa sensibilidade passou a ser mais resiliente.
Pode até ser. Talvez um par de nádegas, por si só, seja algo capaz de atrair uma enorme fascinação, representando uma fonte única e inesgotável de inspiração cultural.
A foto da jovem hipnotizada pela escultura de Hamilton praticamente fecha o ciclo da história do olhar humano.
A obra mais antiga de arte figurativa de que se tem notícia, a chamada Vênus de Hohle Fels (descoberta na Alemanha em 2008 e com mais de 40 mil anos), revela o quanto estamos predestinados a caprichar nas proporções do bumbum.
Forjada em marfim de mamute, a diminuta estatueta é um amontoado de seios protuberantes e nádegas inchadas - exageros que, segundo historiadores, podem explicar a função da peça como um totem da fertilidade.
Desde então, o traseiro provou ser um marco essencial da genialidade visual para uma série de artistas: do holandês Hieronymus Bosch, no século 15, a Salvador Dalí, no século passado, e às selfies "destruidoras" de Kim Kardashian.