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Já é possível vislumbrar o fim da Lava Jato, diz Janot

28 ago 2017 - 14h44
(atualizado às 14h53)
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O procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot
O procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot
Foto: Adriano Machado / Reuters

Após mais de três anos de Lava Jato com inúmeras prisões e denúncias contra políticos e empresários, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nessa segunda-feira que já é possível se vislumbrar o fim da Lava Jato, dado o farto e profundo material encontrado pelos investigadores, acrescentando que o País não pode ficar eternamente refém da operação

Janot, que deixará o cargo em 17 de setembro, ao longo do seu mandato foi um dos grandes defensores da operação e bateu de frente com muitos interessados em enfraquecer a Lava Jato.

Segundo ele, ao longo desses anos foram adotadas medidas e aprovadas legislações que literalmente visavam minar a Lava Jato, e chegou a comparar essa iniciativas as manobras feitas na Itália durante a operação Mãos Limpas.

"Se vocês reparem, as tentativas legislativas que ocorreram na Itália para desvirtuar as investigações boa parte delas já ocorreu ou está em curso aqui no Brasil", disse ele a jornalistas em evento do jornal O Globo, no Rio de Janeiro.

O procurador-geral não teme que essas força contrárias à Lava Jato consigam abortar a operação. Para ele, a investigação não pertence ao Ministério Público Federal mas sim à sociedade brasileira, que não permitiria tais iniciativas.

Ele acrescentou que a Lava Jato já foi muito além do que se imaginava e, diante do volume do materiais colhidos e de sua relevância, já é possível se enxergar o fim da operação.

"A Lava Jato não pode ser uma investigação permanente, ela não existe por si mesma e tem escopo", disse. "Acredito que com os últimos episódios a gente vislumbra o final e temos linha traçada até onde a operação pode ir e até aonde se espera que vá... o Estado não pode ficar refém de uma investigação eterna", acrescentou.

Janot criticou veladamente a sua sucessora, Raquel Dodge, que se encontrou fora da agenda pública com o presidente Michel Temer ao afirmar que ele "nunca fez isso", mas disse não acreditar em problemas para a Lava Jato.

"Não temo a Lava Jato conduzida pela Raquel Dodge, vai continuar sim, não há o que temer", disse, fazendo um trocadilho com o sobrenome do presidente da República.

Leniência precisa melhorar

Em nome da boa continuidade das investigações, Janot defendeu um ajuste no sistema de acordo de leniência no país.

Ele entende que o modelo adotado atualmente está "uma bagunça" uma vez que a empresa colaboradora não sabe com quem negociar entre todas das instâncias envolvidas: Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Advocacia-Geral da União (AGU), Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CCU) e Tribunal de Contas da União (TCU).

Além disso, Janot acredita que o Ministério Público não poderia ficar fora do processo de negociação já que o órgão é que oferece as denúncias na esfera penal.

"Qual o interesse de fazer um acordo e não acertar o lado penal que a empresa tem todo interesse? A leniência está uma bagunça e tem que ser aprimorada", disse.

Trabalho até o fim

Nos próximos 20 dias de mandato, Janot afirmou que ainda tem muito trabalho pela frente, mas não falou em ações específicas, como uma nova denúncia contra Temer.

"Não vou deixar de praticar ato de ofício meu até 17 de setembro e tudo que estiver maduro seguirá seu rumo natural , como eu sempre fiz", disse Janot, que chegou a dizer que a mala de dinheiro filmada em São Paulo com o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, seria apenas a primeira de uma série de malas de 500 mil reais.

No final de junho, Janot apresentou denúncia por corrupção passiva contra o presidente da República, mas a Câmara dos Deputados não deu autorização para que a acusação fosse examinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Desde a primeira denúncia, há uma forte expectativa de que seja apresentada pelo menos mais uma acusação formal contra Temer.

O procurador-geral garantiu que seu combate intenso contra envolvidos em crimes de corrupção, propina e outros não tem objetivo eleitoral, como se chegou a especular. Disse que "não é candidato à Presidência, a governador nem a síndico de prédio... não sou candidato a nada".

O procurador da República revelou ainda desejo de trabalhar no futuro na iniciativa privada, de preferência na área de compliance e governança, mas garantiu que jamais irá atuar como advogado para defender políticos corruptos

"Assumo compromisso público de não defender corruptos. Esse é um compromisso comigo mesmo."

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