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Já me vacinei contra a febre amarela, devo tomar outra dose? Eis a resposta para essa e outras dúvidas

Ministério da Saúde decidiu antecipar campanha com dose fracionada da vacina, para evitar avanço do vírus no país.

9 jan 2018 - 18h53
(atualizado em 18/1/2018 às 17h25)
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Depois de viver o pior surto de febre amarela silvestre registrado desde 1980, a população brasileira se vê diante de um novo aumento de casos da doença, especialmente na região Sudeste.

Ministério deu por encerrado surto de febre amarela silvestre em julho, mas novos casos em São Paulo reacenderam alerta; acima, vacinação em outubro | Foto: EPA
Ministério deu por encerrado surto de febre amarela silvestre em julho, mas novos casos em São Paulo reacenderam alerta; acima, vacinação em outubro | Foto: EPA
Foto: BBC News Brasil

De julho de 2017 até 14 de janeiro de 2018, o Ministério da Saúde confirmou 35 casos, com 20 mortes. Os números são atualizados semanalmente. Com 20% dos diagnósticos recentes, o município de Mairiporã, na Grande São Paulo, chegou a decretar "estado de calamidade pública".

A corrida aos postos de saúde por vacina e os casos já confirmados de mortes por febre amarela silvestre levaram o ministério a antecipar a nova campanha de vacinação, que "fraciona" o estoque de vacina para economizá-lo e atingir cerca de 19 milhões de pessoas, com o objetivo de frear o avanço da doença.

"Não sabemos a extensão do que vai acontecer com a febre amarela neste ano e, por precaução, estamos regulando nosso estoque para eventual necessidade. Se surgirem outros focos em outros Estados, teremos condições de cobrir", afirmou o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

A BBC compilou uma série de perguntas enviadas por leitores sobre a febre amarela. Encontre as respostas abaixo.

Falta vacina contra febre amarela no Brasil?

O Ministério da Saúde afirma que hoje o país tem vacina de febre amarela suficiente para atender a população das áreas onde se recomenda a imunização, mas não divulga o número de doses que estão disponíveis - argumenta que isso é uma informação estratégica.

"No presente momento o Brasil produz o quantitativo (de vacina) que necessita", disse à BBC Brasil, por email, o Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz, que produz a vacina distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Em entrevista à imprensa nesta terça-feira, o ministro da Saúde substituto, Antônio Nardi, afirmou que, com o fracionamento, o Brasil terá o volume suficiente para vacinar toda a população do país - caso isso seja necessário.

Portanto, o governo diz que há doses suficientes para as necessidades atuais. Mas, de acordo com especialistas, o soro pode, sim, faltar em breve se a doença continuar avançando.

Mosquitos do gênero Sabethes estão entre os transmissores da febre amarela silvestre | Foto: Raquel Portugal/Fundação Oswaldo Cruz
Mosquitos do gênero Sabethes estão entre os transmissores da febre amarela silvestre | Foto: Raquel Portugal/Fundação Oswaldo Cruz
Foto: BBC News Brasil

"O Brasil é o maior produtor dessa vacina do mundo, mas para vacinar de uma hora para a outra toda a população das grandes metrópoles, ninguém tem", disse à BBC Brasil Pedro Luiz Tauil, professor da UnB (Universidade Federal de Brasília) e um dos maiores especialistas em doenças tropicais do Brasil.

Segundo ele, a proposta de fracionar as doses ocorre porque "não existe vacina suficiente para toda a população de cidades como São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, se for necessário".

"A área de recomendação de vacina cresceu demais. O objetivo é proteger as pessoas contra o ciclo silvestre e reduzir o risco de urbanização da doença."

Salvador e Rio de Janeiro ainda não são consideradas áreas de recomendação para a vacina de febre amarela, mas serão incluídas na campanha das doses fracionadas. Parte da Grande São Paulo já é considerada área de recomendação temporária para a imunização.

A estratégia de fracionamento de vacinas foi utilizada em Angola e no Congo durante um surto de febre amarela silvestre em 2016, porque não havia doses suficientes para a população dos dois países.

Apesar de não ser ideal, a medida é recomendada pela Opas/OMS como uma "solução às necessidades eventuais de campanhas de larga escala".

Quando há um surto que ameaça a capacidade de abastecimento, por exemplo, e a doença pode se espalhar para áreas densamente povoadas rapidamente e isso deve tentar ser evitado a todo custo.

"O fracionamento não tem a intenção de servir como estratégia de longo prazo nem de substituir as rotinas estabelecidas nas práticas de imunização" ressaltou a organização.

O Brasil pode receber ajuda internacional para ter mais vacinas?

É possível. Em março de 2017, a OMS enviou cerca de 3,5 milhões de doses de vacina para o Brasil, para ajudar a controlar o surto.

Até o momento, no entanto, o Ministério da Saúde diz que não pediu novas doses para a comunidade internacional, e que tem estoque estratégico suficiente.

O que é a vacina fracionada?

A partir de 25 de janeiro, 77 municípios dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia terão campanhas de vacinação com doses padrão e doses fracionadas contra a febre amarela. Os municípios foram escolhidos pelos governos estaduais. Confira aqui se o seu é um deles.

Segundo o pediatra e especialista em vacinas Juarez Cunha, um dos diretores da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a vacina continua sendo essencialmente a mesma - um soro que utiliza o vírus atenuado para fazer com que o organismo crie anticorpos contra ele.

A diferença é que a dose fracionada contém 0,1 mL do soro, o que representa um quinto da dose padrão. Quem receber esse tipo de vacina não ficará protegido para sempre - a imunização deve durar pelo menos oito anos, segundo estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos/Fiocruz).

O objetivo da campanha é vacinar as pessoas que ainda não foram imunizadas e que vivem em áreas que ainda não eram consideradas de risco.

Quem receber a dose fracionada - que só será administrada na campanha de 15 dias - terá um selo diferente em sua carteira de vacinação e precisará renovar a vacina em alguns anos, um período a ser determinado pelos estudos em andamento.

Já fui vacinado(a) há anos; preciso tomar novamente?

Vale a seguinte regra, segundo o Ministério: quem já foi vacinado com a dose padrão uma vez não precisará recebê-la novamente.

A frequência da vacinação ainda causa confusão entre os brasileiros porque o país alterou recentemente o seu protocolo contra a febre amarela, por causa do surto de 2017.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, desde 2014, apenas uma dose da vacina. Somente em abril de 2017, no entanto, o governo brasileiro decidiu adotar a norma.

Até então, o protocolo do país recomendava duas doses, com intervalo de dez anos, para a proteção contra a doença. Por isso muitas pessoas que se vacinaram há dez anos ou mais ainda têm dúvidas.

Estudos científicos utilizados como base pela OMS demonstraram que apenas uma dose é suficiente para que o organismo continue tendo anticorpos para o resto da vida.

Ainda não recebi a vacina; devo tomar a dose padrão ou a fracionada?

Durante a campanha em São Paulo, Rio e Bahia, não será possível escolher qual dose receber. Isso é determinado pelo protocolo do Ministério da Saúde.

Pessoas a partir dos dois anos de idade deverão receber a dose fracionada. Já as que têm condições clínicas especiais (portadoras de HIV/Aids, ou que estão em fase final de quimioterapia), gestantes e viajantes para outros países - que já precisam de avaliação médica antes de tomar a vacina - continuarão tomando a dose padrão, assim como crianças com idade entre nove meses e dois anos.

Nos demais municípios onde a vacina é oferecida em todo o Brasil, também continua sendo aplicada a dose padrão. Ela é indicada para crianças a partir de nove meses de idade (ou seis meses, caso estejam em áreas de risco) e para adultos não vacinados até os 59 anos de idade.

Mas ela é contraindicada para pacientes em tratamento de câncer, pessoas com doenças que prejudicam o sistema imunológico e pessoas com reação alérgica grave à proteína do ovo.

Grávidas e mulheres que estejam amamentando um bebê com menos de seis meses devem buscar orientação médica antes de tomar a vacina. A cautela é para evitar a possibilidade de reações alérgicas graves. A orientação geral é que elas só sejam imunizadas se estiverem em área de risco de transmissão da doença.

Idosos acima de 59 anos de idade também precisam passar pelo médico para avaliar o estado do sistema imunológico e se o risco de serem contaminados pela doença é alto ou não.

Em quais Estados é recomendado tomar vacina?

Atualmente, a vacinação para febre amarela é recomendada e oferecida em 21 Estados: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Isso não foi sempre assim. Em 1997, as regiões Nordeste, Sudeste e Sul ainda eram consideradas "indenes" pelo Ministério da Saúde, ou seja, não afetadas pelo vírus. Mas atualmente, toda a região Sul e quase todo o Sudeste têm recomendação permanente de vacinação, além de partes dos Estados da Bahia e do Piauí.

Desde 2017, o Espírito Santo tornou-se área de recomendação temporária, assim como parte da Grande São Paulo.

Nesta semana, a Organização Mundial de Saúde afirmou que considera todo o Estado de São Paulo como área de risco de transmissão da doença e recomenda que estrangeiros se vacinem antes de vir ao Estado. Mas o Ministério da Saúde manteve apenas parte do território paulista como área de vacinação recomendada.

O Brasil não exige que viajantes estrangeiros se vacinem contra a febre amarela antes de entrar no país - apenas recomenda a imunização caso eles visitem áreas onde o vírus circula.

Fonte: Ministério da Saúde
Fonte: Ministério da Saúde
Foto: BBC News Brasil
Fonte: Ministério da Saúde
Fonte: Ministério da Saúde
Foto: BBC News Brasil

Há um novo surto da doença no Brasil?

De acordo com o Ministério da Saúde, há aumento da incidência de febre amarela, mas ainda não há surto.

O vírus costuma circular mais no país entre dezembro e maio. Por isso, o monitoramento da doença acontece entre julho de cada ano e junho do ano seguinte.

Entre 2016 e 2017, foram confirmados 777 casos e 261 mortes pela doença no país. Em agosto, o governo federal deu o surto como encerrado, porque há alguns meses não havia mais registros da doença.

Entre julho de 2017 e janeiro de 2018, o Ministério confirma, além dos 35 casos da doença em humanos, 411 casos em macacos. Os números são atualizados semanalmente.

"A febre amarela é uma doença sazonal. No ano passado acabou aquela fase, a doença praticamente desapareceu e agora em dezembro voltou. E vamos ter casos até maio. É sempre assim", afirma o epidemiologista Pedro Tauil, da UnB.

Mosquitos que transmitem febre amarela na área rural são diferentes dos da área urbana; transmissão da doença não é registrada em cidades desde 1942 | Foto: Reuters
Mosquitos que transmitem febre amarela na área rural são diferentes dos da área urbana; transmissão da doença não é registrada em cidades desde 1942 | Foto: Reuters
Foto: BBC News Brasil

Por que não encontro vacina no meu posto de saúde ou no laboratório particular?

Por causa do aumento da busca pelo soro, unidades de saúde básica têm registrado filas quilométricas, especialmente no Estado de São Paulo.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, nem todas as unidades de todos os municípios têm a vacina. Cabe aos municípios decidir e divulgar quais unidades farão a imunização dos cidadãos. Questionada pela BBC Brasil, a Secretaria disse que não tem registro de que as vacinas estejam acabando nos municípios.

No entanto, a Secretaria não respondeu qual é o plano para a reposição dos estoques nos postos de saúde.

Em alguns casos, como na cidade de Mairiporã (SP), a prefeitura passou a exigir comprovante de residência antes de aplicar a vacina, para priorizar os moradores.

As pessoas que optaram por buscar a imunização em clínicas e laboratórios particulares também relatam dificuldade de encontrar a vacina. A BBC Brasil falou com dez laboratórios de São Paulo e todos eles estão sem estoque há cerca de uma semana - e sem previsão de receber mais doses.

Mas na rede particular, a vacina oferecida é a Stamaril, produzida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur. Não há relação entre o estoque dela e o da vacina nacional, da Fiocruz, oferecida pelo SUS. Por isso, o Ministério da Saúde não responde pelos estoques nas clínicas.

Em nota, a Sanofi Pasteur afirmou que suas vacinas "são produzidas fora do país e, por isso, podem sofrer com restrição na capacidade de produção e distribuição. Além disso, a companhia tem recebido um aumento inesperado de demanda e, para o processo de importação, devem-se cumprir diversas regras sanitárias que exigem tempo".

"Informamos também que em 2017 houve um aumento de 300% na disponibilização de doses, em comparação com 2016. Para 2018, a empresa continua buscando novas alternativas para suprir a demanda das clínicas particulares", diz o comunicado.

Posso visitar parques e áreas de mata sem correr risco?

A recomendação das autoridades continua a mesma: quem vai viajar para áreas em que a vacina é recomendada em todo o Brasil (veja o mapa acima) deve se vacinar pelo menos dez dias antes e tomar outras medidas de prevenção contra o vírus, como usar repelente.

Na capital paulista, 23 parques municipais e estaduais nas zonas norte, sul e oeste estão fechados por causa da confirmação das mortes de 63 macacos infectados pela febre amarela.

Mas os parques que foram reabertos - Horto Florestal, Parque da Cantareira e Parque Ecológico do Tietê - estão exigindo que os visitantes estejam vacinados contra a doença.

23 parques da capital paulista estão fechados preventivamente desde outubro, após a morte de macacos por febre amarela | Foto: Reuters
23 parques da capital paulista estão fechados preventivamente desde outubro, após a morte de macacos por febre amarela | Foto: Reuters
Foto: BBC News Brasil

A febre amarela chegou às áreas urbanas?

Até o momento, não. A febre amarela silvestre, que ocorre em áreas rurais, transmitida pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, é a variedade que ainda provoca surtos no Brasil. O país não registra casos de febre amarela urbana, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, desde 1942.

Há casos de morte registrados este ano em metrópoles como São Paulo e Salvador. No entanto, eles não são casos autóctones, ou seja, contraídos dentro das cidades.

De acordo com as autoridades de saúde, são casos de pessoas contaminadas pelo vírus no interior dos Estados, em áreas rurais, e tiveram a doença registrada nas capitais.

Mas possibilidade de que o vírus volte para as grandes metrópoles, onde é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, preocupa especialistas e autoridades.

Quais os sintomas da doença e como se proteger?

A febre amarela causa sintomas como dor de cabeça, febre baixa, fraqueza e vômitos, dores musculares e nas articulações. Em sua fase mais grave, pode causar inflamação no fígado e nos rins, sangramentos na pele, hemorragias e levar à morte.

Para evitar a doença, o Ministério recomenda usar repelente em crianças a partir de dois meses de idade e evitar usar perfume em áreas de mata.

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