Jacarezinho: o que se sabe sobre operação policial que deixou ao menos 25 mortos no Rio
Operação policial mira combater traficantes locais, que estariam aliciando crianças e adolescentes.
Ao menos 25 pessoas, incluindo um policial civil, foram mortas num tiroteio no Rio de Janeiro.
A ação aconteceu durante uma operação policial na favela de Jacarezinho, na Zona Norte do município.
A polícia civil afirma que lançou a operação após receber denúncias de que traficantes locais estariam aliciando crianças e adolescentes para a prática de ações criminosas.
Dois passageiros do metrô foram atingidos por balas perdidas, mas sobreviveram.
A polícia civil confirmou a morte do policial André Leonardo de Mello Frias durante a operação.
Num post no Facebook, a Secretaria de Polícia Civil afirmou que Frias "honrou a profissão que amava e deixará saudade" e que "lamenta, ainda, pelas vítimas inocentes atingidas no metrô".
Um morador foi atingido no pé, dentro de casa, e passa bem. Dois policiais civis também se feriram.
O que diz a Polícia Civil
A Polícia Civil do Rio de Janeiro comunicou por volta das 7h30 da manhã desta quinta-feira (06/05) a realização de uma operação contra traficantes no Jacarezinho.
Segundo o comunicado, a polícia identificou, através de trabalho de inteligência e fazendo uso de quebra de sigilos autorizada pela Justiça, 21 integrantes da quadrilha, responsáveis por garantir o domínio do território através do uso de armas.
"Foi possível caracterizar a associação dessas pessoas com a organização criminosa que domina a região, onde foi montada uma estrutura típica de guerra provida de centenas de 'soldados' munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios militares", afirmou a polícia.
Ainda conforme a corporação, a região do Jacarezinho é considerada um dos quartéis-generais da facção Comando Vermelho na Zona Norte do Rio de Janeiro.
"Em razão da dificuldade de se operar no terreno, por conta das barricadas e das táticas de guerrilha realizadas pelos marginais, o local abriga uma quantidade relevante de armamentos", diz a nota oficial.
"Além do uso das mencionadas práticas típicas de guerra, em dezembro de 2020 e abril de 2021, os criminosos do Jacarezinho sequestraram trens da SuperVia, demonstrando que a sua forma de atuação se assemelha àquelas empregadas por grupos terroristas", conclui o documento.
STF proibiu operações em favelas durante a pandemia
A operação desta quinta-feira no Jacarezinho acontece apesar de decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu, desde junho de 2020, operações policiais em favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia.
A decisão permite ações apenas em "hipóteses absolutamente excepcionais". Para isso, os agentes precisam comunicar ao Ministério Público sobre o motivo da operação.
Até o início desta tarde, o MP ainda não havia informado o motivo alegado.
Conforme reportagem do UOL de início de abril, a proibição pelo STF às operações em favelas reduziu em 34% o número de mortes por agentes de segurança na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2020. Foi a primeira queda registrada desde 2013.
Conforme a plataforma digital Fogo Cruzado, que registra dados da violência no Rio, o único caso de operação policial em comunidades com mais mortes foi em uma operação na Baixada, em 2005, que resultou em 29 óbitos. Em terceiro lugar estaria uma chacina ocorrida em Vigário Geral, em 1993, com 21 mortos; seguida por operação na Vila Vintém, em 2009, que resultou em 19 mortos.
Acontece hoje no Jacarezinho, na zona norte, a 2ª maior chacina da história do Rio de Janeiro. Até o momento, há 25 mortos. 1º Baixada (2005) - 29 mortos, 3º Vigário Geral (1993) - 21 mortos e 4º Vila Vintém (2009) - 19 mortos. #ChacinaDoJacarezinho
— Fogo Cruzado (@fogocruzado) May 6, 2021
Na nota no Facebook sobre a morte do policial civil André Frias, a Secretaria de Polícia Civil defendeu a necessidade das operações em favelas.
"A ação foi baseada em informações concretas de inteligência e investigação. Na ocasião, os criminosos reagiram fortemente. Não apenas para fugir, mas com o objetivo de matar", escreveu o órgão, na postagem.
"Infelizmente, o cenário de guerra imposto por essas quadrilhas comprova a importância das operações para que organizações criminosas não se fortaleçam."