Jornalista brasileira é presa e tem visto cassado após protesto no Equador: ‘Me sinto sequestrada’
Um protesto indígena realizado nos últimos dias no Equador acabou de forma violenta na última quinta-feira. A marcha da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador reuniu milhares de pessoas em Quito e terminou em conflito com policiais. Entre os presos e feridos, havia uma brasileira, a jornalista Manuela Picq.
Um vídeo gravado pelo jornal local mostra Manuela, que é namorada de um dos principais ativistas indígenas do Equador, Carlos Pérez Guartambel, sendo agredida por policiais ao final da manifestação na quinta-feira. Ela e Carlos foram feridos e levados presos para o hospital.
Manuela passou a noite sob custódia policial e, nesta sexta-feira, teve seu visto cancelado. Ela era residente no Equador, onde dá aulas na Universidade San Francisco de Quito. A brasileira, que também tem nacionalidade francesa, afirma que ainda não foi informada sobre o motivo da cassação de seu visto e que se sente 'sequestrada' no país.
"Não me deixaram nem escolher o hospital onde eu seria examinada. Estive sempre na presença de um policial, até para ir ao banheiro. Não me disseram do que eu fui acusada, nem por que cancelaram meu visto", disse a brasileira em entrevista ao jornalista Cesar Ricaurte, da rádio Rayuela.com
"Estão inventando uma situação criminal para me tirarem do país. Me sinto sequestrada, tudo é arbitrário e ilegal, é difícil prever o que vai acontecer nos próximos dias. O processo não é um processo jurídico, é um processo político, de discriminação política."
Manuela, que também escreve artigos para a rede Al Jazeera e outros jornais independentes, namora Carlos Pérez Guartambel há três anos e participava frequentemente dos protestos indígenas ao lado dele, que é o principal líder da causa no país. A mídia local especula que a jornalista tenha sido presa em retaliação, porque o namorado já sofria ameaças de prisão do governo Rafael Corrêa nos últimos meses, segundo os jornais.
A família de Manuela ainda não conseguiu contato com ela e está obtendo informações sobre a situação da jornalista por meio de amigos próximos que estão no país.
"A última vez que consegui falar com ela foi há dois dias. O cônsul brasileiro no Equador está me passando as informações e alguns amigos dela também. Estamos desesperados, porque não conseguimos saber o que está acontecendo", disse a mãe de Manuela, a economista Lena Lavinas, à BBC Brasil.
A reportagem passou o dia todo tentando contatar o governo do Equador e o Ministério do Interior, que está cuidando do caso, mas nenhum deles se manifestou até agora.
Da parte brasileira, o Itamaraty disse por meio de nota que "a Embaixada do Brasil em Quito está ciente da detenção de Manuela Picq e mantém contato constante com o Ministério do Interior e com a Chancelaria locais sobre o caso, de modo a garantir à cidadã brasileira pleno direito de defesa enquanto permanecer sob custódia da Justiça local. Um funcionário da Embaixada foi designado para prestar assistência à brasileira."
Protestos
O presidente do Equador, Rafael Corrêa, enfrenta uma onda de protestos desde junho envolvendo políticos, setores da classe média e alta, empresários e os próprios indígenas, que haviam começado a marcha contra o governo no início do mês.
O próprio presidente afirmou no fim de julho que esta era a 'pior crise política' que ele havia enfrentado em oito anos de governo.
Além de Manuela Picq e Carlos Pérez Guartambel, outras pessoas também foram presas no protesto da última quinta.
A jornalista, por sua vez, aguarda uma audiência para definir sua situação no país. Enquanto isso, a família dela espera por mais informações.
"É muito grave porque eles estão extraditando uma pessoa que tem emprego, casa, que trabalha lá. Ela é uma professora, uma pessoa de bem, é inaceitável que ela seja expulsa como se fosse um bandido", disse a mãe, Lena.
"Não me disseram por que eu estava sendo presa ontem e não me disseram nada quando cassaram meu visto. Só dizem que está cancelado e não dizem porquê. Não sei qual acusação eles têm contra mim. Está difícil saber o que vai acontecer. Não sei o que vão fazer comigo", afirmou Manuela ao jornalista Cesar Ricaurte.