Jovem descobre que foi adotado ilegalmente e reencontra pais biológicos após 28 anos
Médico compartilhou a situação nas redes sociais e teve ajuda de desconhecidos para encontrar família
Um médico de 28 anos descobriu quem eram seus pais biológicos neste ano, contando com a ajuda de desconhecidos na internet. Tudo começou quando João deu entrada na cidadania portuguesa e percebeu dados inconsistentes de seus pais. Ele acabou descobrindo que a própria história era diferente do que ele sabia até então.
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Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibido neste domingo, 1°, João contou que precisou procurar muito para que todas as peças do quebra-cabeça se conectassem. Depois de 28 anos, ele finalmente encontrou sua mãe biológica.
João não sabia que era filho adotivo. Ele cresceu em Guarapuava, no interior do Paraná, e sempre suspeitou que havia sido adotado, mas seus pais sempre rebatiam e desconversavam. A vida seguiu, ele se formou médico e se mudou para Curitiba. Em 2023, a desconfiança voltou quando ele decidiu buscar a cidadania portuguesa por ancestralidade.
Um dos documentos necessários era a certidão de casamento dos pais. O cartório enviou o documento para João, que se surpreendeu ao descobrir que a mãe era divorciada, ao contrário do que ela sempre dizia. Ele também descobriu que ela era nove anos mais velha.
Confuso, João compartilhou a situação em um vídeo nas redes sociais, para pedir ajuda para solucionar o problema. Com outros documentos, ele encontrou mais inconsistências, e questionou os pais sobre se era filho biológico deles ou não.
Os pais não admitiram e negaram um exame de DNA. Alguns internautas que viram o vídeo de João nas redes sociais confirmaram as suspeitas dele de ter sido adotado ilegalmente.
"Quando uma dessas pessoas veio conversar comigo, falou para mim: 'Sim, João, você realmente é adotivo. Inclusive, eu que falei para eles adotarem, porque eles já tentavam ter filhos há muito tempo. Até a irmã do meu pai confirmou, inclusive, que eu fui adotado ilegalmente", contou ao Fantástico.
A busca
Depois de descobrir a mentira dos pais, João passou por uma jornada para descobrir quem eram seus pais biológicos e onde eles estavam. Um exame genético ajudou a identificar parentes distantes. Ele teve ajuda para montar sua árvore genealógica a partir desses indícios e chegou ao nome do possível bisavô. Ele foi atrás dos possíveis descendentes, perguntando se havia o caso de alguma criança adotada, vendida, perdida ou roubada.
Um homem respondeu e sinalizou que João poderia ser filho de seu irmão, que hoje mora em Novo Xingu, noroeste do Rio Grande do Sul. O exame de DNA confirmou. Sem reação, João ficou chocado com o resultado, mas ainda faltava encontrar sua mãe biológica.
O pai de João deu pistas sobre um antigo relacionamento com uma mulher, fora do casamento na época. Pela internet, João encontrou uma outra filha de sua possível mãe biológica, Ana Maria, que vivia em Apucarana, no Paraná.
A mulher se emocionou ao saber que o filho biológico tinha o mesmo nome que ela teria dado para ele. Ana contou que foi sozinha para a maternidade em Guarapuava dias antes da data prevista para o parto. Segundo ela, uma enfermeira a coagiu para entregar o bebê para um casal, amigo de um médico.
"Eu me senti mais nojenta. Sabe quando você pega dinheiro achando que... eu vendi meu filho. Era isso que eu pensava", contou. A mulher afirmou ter recebido R$ 100 para entregar o bebê.
O reencontro
Após 28 anos do acontecido, João e Ana Maria se reencontraram e fizeram um teste de DNA, que comprovou que ela era mãe biológica do médico.
“Eu quero alterar o meu nome. Infelizmente, o meu sobrenome Dias, ele se tornou um sinônimo de violência na minha vida. A adoção não é um problema, adotar é lindo. Mas mentir sobre a vida inteira de alguém é crime. A adoção ilegal priva crianças de direitos", ressaltou João.
Os pais adotivos de João se pronunciaram por meio do advogado Marinaldo Ratter. "O João é deixado na porta daquele lar e é acolhido por aquela família. Sequer a família conhece a família biológica de João ou a pessoa que entregou o João para que eles pudessem adotá-lo", afirmou a defesa, que disse que é possível o perdão judicial por registrar um filho de outra pessoa como o próprio.
Segundo o advogado relatou ao Fantástico, a família adotiva não teria contado a história verdadeira a João por medo de perder o amor dele.