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Luciano Hang, dono da Havan: 'Temos que bater palma quando alguém compra um avião, mas no Brasil a inveja é triste'

Empresário dono da rede de lojas Havan, Luciano Hang, uma das principais vozes pró-Bolsonaro nas redes sociais, diz que no país as pessoas têm 'ranço' de quem fica rico: 'nos EUA e na Coreia do Sul, ou em Cingapura, se bate palma para quem teve sucesso na vida'.

21 jun 2019 - 10h07
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'Eu acho um máximo', diz empresário sobre o apelido 'Véio da Havan', que ganhou nas redes sociais
'Eu acho um máximo', diz empresário sobre o apelido 'Véio da Havan', que ganhou nas redes sociais
Foto: BBC/Felix Lima / BBC News Brasil

Quem será, hein? Sapatênis amarelo, de cadarço colorido, calça jeans, moletom verde, antenado no celular...

Parece um torcedor da Seleção Brasileira, mas é Luciano Hang, 56 anos, que ganhou nas redes sociais o apelido de 'Véio da Havan'.

Um grande apoiador do governo de Jair Bolsonaro, o empresário dono da rede de lojas de departamentos Havan, com 126 estabelecimentos espalhados pelo país, deu entrevista à BBC News Brasil nas roupas que viraram seu uniforme desde o ano passado, quando começou a fazer campanha para o então candidato do PSL.

Com postagens que alcançaram mais de 80 milhões de pessoas em 2018, segundo seus próprios números, ele se tornou uma das principais vozes pró-Bolsonaro. Na internet, Hang foi ganhando popularidade com vídeos bem humorados - o início desta reportagem é uma referência a um deles, em que responde à alcunha de 'Véio' dada por seus críticos.

Nas imagens, a câmera vai subindo dos sapatos de Hang até seu moletom, enquanto uma assessora descreve o vestuário peça por peça antes de concluir: "Parece um jovem". Então o empresário abaixa o capuz, sorrindo, e completa a frase: "Mas é o Véio da Havan!".

"Eu acho o máximo", ele diz sobre o apelido. "Vivo 24 horas pensando em propaganda, então tudo o que fizeram para nós durante a campanha conseguimos inverter."

"De um limão", continua o entrevistado, "fizemos uma limonada". A mesma animação é adotada ao falar da previsão de crescimento de 65% num ano em que a economia "está parada": "a Havan anda na contramão do PIB". E a citar a gestão Bolsonaro: "Tudo o que ele fez até agora eu assino embaixo."

Post no Twitter de Luciano Hang sobre o apelido "Véio da Havan", que recebeu de seus críticos na internet
Post no Twitter de Luciano Hang sobre o apelido "Véio da Havan", que recebeu de seus críticos na internet
Foto: Reprodução/Twitter / BBC News Brasil

As críticas do empresário ficam por conta da ideologia "comunista" que teria dominado o País - mas que não impediu Hang de entrar na lista de bilionários da Forbes em 2019. Se não fosse um país comunista, diz, o Brasil "deveria ter milhares de bilionários".

Tal ideologia também contaminaria a gestão ambiental brasileira, na qual são usados argumentos como aquecimento global - que ele diz não existir - para justificar a inveja de quem é rico.

"Essa inveja funciona assim: eu não posso ter um helicóptero, então não deixa fazer helicóptero, eu não posso ter um apartamento de frente para o mar, então não deixa fazer prédio de frente para o mar", afirma.

Hang, que recentemente comprou um dos maiores jatos do mundo, no valor de R$ 250 milhões, diz que deveríamos "bater palma quando alguém compra um avião", mas essa postura não é comum por aqui.

"É aquilo que eu te falei para ti na frase do Tom Jobim: fazer sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal. A inveja é triste."

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - O senhor recebeu um apelido nas redes sociais, onde é chamado de 'Véio da Havan', e fez até um vídeo no Twitter brincando sobre isso. O que achou do apelido?

Luciano Hang - Eu acho o máximo. Sempre digo que nós, de um limão, fizemos uma limonada. Qualquer problema que a gente encontra, a gente reverte, porque nós adoramos marketing. Eu vivo 24 horas pensando em propaganda, então tudo o que fizeram para nós durante a campanha conseguimos inverter e mostrar a realidade de uma maneira muito espontânea, através de brincadeira. Transformar um limão em uma limonada e ganhar com isso.

BBC News Brasil - Pensa em adotar esse apelido?

Luciano Hang - Olha, nós temos camisa do Velho, agora tem caneca do Velho, daqui a pouco estou vendendo produto do Velho.

Mas, na realidade, as pessoas num primeiro momento acham que, colocando alguma coisa contra a gente, ficaríamos tristes ou iríamos retroceder em alguma coisa. Pelo contrário, nós aproveitamos a bola levantada para chutá-la ainda mais longe.

BBC News Brasil - O senhor foi cotado como vice-presidente na chapa do Bolsonaro e convidado pelo PSL para candidatar-se ao Senado e ao governo de Santa Catarina. Como foram essas conversas, com Bolsonaro especificamente?

Luciano Hang - No dia 5 de janeiro do ano passado, fiz a coletiva de imprensa e aí realmente houve muita fofoca, [de] que eu seria governador, senador e até o presidente [Bolsonaro] ligou para mim. Mas jamais para dizer "Luciano, quer ser meu vice-presidente?". Ele disse: "Luciano, não queres ser governador do Estado, não queres ser senador?". Eu disse que não queria ser nada político, que queria ser ativista político.

[Eu disse]: "Vou conversar com vários candidatos e decidir quem vou apoiar". Um deles foi o Bolsonaro. De janeiro até agosto, fiquei analisando os candidatos, para ter duas coisas que eu queria: liberalismo econômico e conservadorismo nos costumes. A pessoa que eu vi mais próximo disso foi o Bolsonaro e aí assumi a campanha dele a partir do dia 17 de agosto (...).

Quero continuar trabalhando na Havan, mas tendo ótimos políticos tocando o país, que não sejam corruptos, incompetentes e principalmente ideológicos. Essa ideologia que nós tivemos até hoje: comunista, marxista, gramscista.

BBC News Brasil - Quando fala de comunismo, críticos rebatem que o senhor acabou de entrar na lista de bilionários da Forbes, onde tem mais de 50 brasileiros. Como um país comunista consegue ter um número crescente de bilionários?

Luciano Hang - O Brasil, com duzentos e vinte milhões de habitantes, deveria ter milhares de bilionários, milhares de pessoas ricas. Imagina que a China botou, nos últimos cinco anos, 250 milhões de pessoas milionárias.

(Nota da redação: segundo relatório de 2018 do Credit Suisse, a China tem 3,4 milhões de milionários)

Se você olhar para os Estados Unidos, que tem 500 anos, como o Brasil, e pegar uma empresa dos Estados Unidos, ela é mais rica do que todas as empresas que estão no Ibovespa. Então, nós temos muito para fazer. O Brasil é um país comunista e precisa aprender a ser um país capitalista. (...)

Esse Brasil que nós vivemos é um país em que a pessoa nasce querendo ser um funcionário público. Deram tudo para o funcionário público.

Estive agora com o presidente (da Câmara dos Deputados) Rodrigo Maia. As pessoas entram na Câmara de Deputados ganhando um salário talvez de R$ 15 mil, R$ 14 mil, se aposentam com 50 anos, 55, ganhando R$ 33 mil por mês. Vão viver mais trinta anos de aposentadoria, então é um deficit pessoal de R$ 10 milhões por pessoa. Quem paga essa conta é o pobre coitado do desempregado.

BBC News Brasil - Mas o próprio Bolsonaro foi deputado por 28 anos e era funcionário público. Com um salário...

Luciano Hang - Sim, funcionário público. Faz parte do sistema que está errado, que ele quer mudar agora.

BBC News Brasil - Mas ele ficou 28 anos lá...

Luciano Hang - É o que eu digo para você, quando você é jovem, você até pode ser de esquerda. Mas com o decorrer do tempo, quando você vê o erro, tem que mudar. Tenho certeza que...

Quando conversei com Bolsonaro em fevereiro do ano passado, fiquei quatro horas com ele. Comentamos muito que a economia precisa mudar. Por sorte, ele se aliou com Paulo Guedes. E ele batia muito na parte de costumes, do conservadorismo. Nós vivemos hoje uma verdadeira bagunça nesse país. (...)

BBC News Brasil - O senhor diz que o Brasil tem potencial de ter milhares de bilionários, mas um argumento contrário seria a desigualdade de renda no Brasil, que poderia aumentar com essa multiplicação de bilionários. Como o senhor responde a isso?

Luciano Hang - É simples: você só vai tirar o povo da miséria dando emprego para eles. O governo não tem que ficar feliz da vida que aumentou o número de pessoas com Bolsa Família, é um absurdo. (...)

Quem paga a conta do governo? Quem paga essa carruagem lotada de gente ganhando uma fortuna? Sou eu, você, é o povo, o pobre pagando tudo dez vezes mais caro do que qualquer lugar do mundo.

Nós pagamos essa carruagem cheia de funcionalismo público, de corrupção, de incompetência, de idealismo furado. Nós pagamos isso.

BBC News Brasil - O símbolo desse governo, o presidente Bolsonaro, tem todos os filhos na política, como funcionários públicos.

Luciano Hang - É, mas dissestes bem. Eles estão de funcionário público, ganharam as eleições e não ganharam dinheiro através de corrupção, vendendo algum favor para alguma empresa, diferentemente dos outros presidentes que estiveram lá.

Alguns presidentes estiveram lá, temos os escândalos aí, porque venderam facilidades.

Quando você vai para política e disputa eleições, é o povo que escolhe. Não vejo nenhum filho do Lula que foi para política e disputou eleições, vejo aí escândalos de corrupção baseados em favorecimentos dentro do governo.

BBC News Brasil - Estamos em seis meses de governo Bolsonaro. Em março, numa entrevista, o senhor disse que o governo estava "100% no caminho certo". Essa porcentagem continua a mesma?

Luciano Hang - 110% hoje, continua. Tudo o que ele fez até agora eu assino embaixo. Diria hoje dez com estrelinha. Bateu na parte de costumes, está batendo lá com Damares, na educação e tudo, e está batendo na economia através do Guedes, fazendo as mudanças, MP da liberdade econômica, tirando o governo do cangote do empresário e deixando nós correr. (...)

Empresário diz não concordar com Bolsonaro em retirada de multa de quem não usar cadeirinha no carro
Empresário diz não concordar com Bolsonaro em retirada de multa de quem não usar cadeirinha no carro
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / BBC News Brasil

BBC News Brasil - O senhor diz que assina embaixo de tudo o que Bolsonaro fez até agora. Ele foi criticado inclusive por colegas de PSL por tirar a multa de motoristas que não usassem a cadeirinha no transporte de crianças. Há estudos que mostram que, sem a cadeirinha, o nível de mortalidade é maior. O senhor apoia até essas medidas?

Luciano Hang - Não, a cadeirinha sou favorável que continue [a exigência]. Não, a cadeirinha não pode ser tirada fora. Agora, radares nas estradas? É mais um imposto.

Aliás, fiz uma campanha na nossa cidade, quando um petista estava lá. Petista adora cobrar imposto. Eles queriam colocar 30 radares na cidade e eu fiz uma campanha assim: radares - é corrupção mais arrecadação, não é educação. (...)

BBC News Brasil - Mas e a parte da cadeirinha?

Luciano Hang - Sou favorável que continue a cadeirinha. Eu vendo cadeirinha, eu tenho cadeirinha. A cadeirinha tem que continuar.

BBC News Brasil - O senhor falaria com o governo sobre isso? Uma deputada do PSL chegou a falar "não sei o valor de uma cadeirinha, mas sei quanto custa um caixão", porque ela perdeu o filho em um acidente de carro.

Luciano Hang - Cadeirinha tem que continuar. Agora sou contra, por exemplo, leis que...Estive agora na Rússia, na Copa. E comecei a entrar nos táxis e cada táxi tinha uma cadeirinha de bebê. E aí não tem espaço para o cliente. Sabe o que ele fazia? Botava aquela baita da cadeirinha no porta mala, só que aí você não consegue carregar mala. Isso é uma lei idiota. (...) Quantas crianças vão pegar táxi? É 1%, 2%? Aí você não pode prejudicar os 99%.

Agora, quem tem um carro, tem que colocar cadeirinha. Eu também tive. Eu sinto que tem necessidade.

BBC News Brasil - O senhor estaria disposto a falar com Bolsonaro sobre isso? Porque é uma questão bastante polêmica.

Luciano Hang - Ô, querida, sabe o que eu sinto? Na minha empresa, a gente chegou onde chegou porque nós erramos e acertamos. Quando você toma uma decisão e errou, volta atrás e resolve. Agora não tem que ficar com aquela picuinhazinha, picuinhazinha, picuinhazinha com aquele probleminha. É simples. Toma decisão. Errou? Volta atrás. Toma outra decisão. Errou? Volta atrás.

E aí assim você segue para frente. Agora, se você não quer errar, fica sentado em casa, você não erra. Tem que tomar a coragem de tomar decisões e, se estiver errado, troca ela, acerta ela.

BBC News Brasil - Colunistas e analistas políticos dizem que esse movimento cria uma sensação de insegurança, de que o governo não sabe o que está fazendo.

Luciano Hang - Quem cria a sensação de insegurança é o próprio jornalista. Eu vejo a Folha de S.Paulo, por exemplo, [dizendo] "consultamos os especialistas". Põem esses especialistas para tocar minha empresa. Sabem nada, sabem nada. Especialista acadêmico, aqueles que vão dar aula, que nunca fizeram nada na vida. Esses especialistas? Valem nada. (...)

BBC News Brasil - O plano do senhor com a eleição do Bolsonaro era de abrir 20 lojas neste ano e de criar 5 mil empregos neste ano. O senhor está conseguindo cumprir essa meta?

Luciano Hang - Nós vamos abrir 25 lojas neste ano, cinco a mais do que eu tinha prometido. Eu tinha falado em R$ 500 milhões de investimento e deve passar para R$ 750 milhões. Abrimos já seis lojas, estamos com 126 lojas, tenho mais uma, duas lojas, em julho e quatro em agosto. Deve ter quatro por mês até dezembro. Então nosso plano de investimento continua normal.

BBC News Brasil - O mercado reduziu a previsão de crescimento do PIB para 2019 pela 15ª vez seguida, para 1%, e num post recente o senhor disse que o "Brasil está parado". O senhor acha que nossa economia está parada?

Luciano Hang - Está. A economia está parada, a inadimplência aumentou, mas a Havan, graças a Deus, anda na contramão do PIB. No ano passado, a gente cresceu 45% e, no ano anterior, 35%. E neste momento estamos crescendo 65%, então a Havan anda sempre descolada do PIB, sempre foi assim.

De 2009 a 2015, nós crescemos 50% ao ano. (...) Então quando as pessoas dizem "ah, você cresceu no governo da Dilma, do Lula...", eu [respondo que] sempre cresci, nunca fiquei olhando qual o crescimento do PIB para tocar minha empresa.

BBC News Brasil - Numa entrevista recente à Veja, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que daria uma nota de 7, 7,5 ao governo e que faltaria articulação política entre a direita e o centro. Que nota o senhor daria? Acha que falta articulação?

Luciano Hang - Na realidade, as pessoas não estão acostumadas a contar a verdade. Quando você trata daquilo que o presidente colocou no Carnaval... Como que chama aquilo? Shoulder, né?

Assessora: Golden?

Luciano Hang - Não, aquela de um homem fazendo xixi no outro lá.

BBC News Brasil - Golden shower?

Luciano Hang - É...Alguns ficaram horrorizados. Tá certo aquilo? Não.

Quando eu vou para a Coreia do Sul, que eu pego uma hora e meia de táxi até o meu hotel, não vejo nada pichado, não vejo uma sujeira na calçada, [é] tudo perfeito e organizado. É esse o país que eu quero.

(...) Quando chego aqui em São Paulo, vejo todos os muros com aqueles lambe-lambes de greve no dia 14, Lula Livre, Fora Temer, É golpe. Quem escreve isso? A esquerda.

E, para eles, é a forma de se comunicar. Para mim, é bandido que tem que ser preso. Quem picha muro dos outros é bandido e temos que colocar o dedo na ferida do que está certo e do que está errado.

Só que as pessoas acham que nosso problema maior é a economia, mas nosso problema maior é cultural, é educação. Só vamos fazer um país de progresso, quando colocarmos a ordem no nosso país. Falta ordem para ter progresso, é o que está escrito na nossa bandeira.

BBC News Brasil - Uma das críticas ao Bolsonaro é que ele está se concentrando muito na agenda de costumes e perdendo o foco para a economia.

Luciano Hang - É o que eu falo, que a imprensa, a grande imprensa, não quer falar de costumes, porque o marxismo cultural, o gramscismo, principalmente, é fazer com que a sociedade seja uma grande balbúrdia (...).

BBC News Brasil - Então para o senhor a base é a mudança de costumes, para depois fazer a economia andar?

Luciano Hang - Por que não podem andar juntos? Por que não posso reformar os costumes e [fazer] a economia andar junto?

Até acho que agora é Previdência, Previdência, Previdência. E a esquerda sabe disso. [Quando] acabar com um deficit de R$ 250 bilhões por ano, um país quebrado, vamos ter dinheiro para resolver os outros problemas. Ela [a esquerda] sabe que, se reformarmos a Previdência, eles não entram no poder pelos próximos 30 anos, por isso que estão desesperados, que estão fazendo bagunça, algazarras, anarquias, greves.

Porque a reforma da Previdência é o sepultamento da esquerda pelos próximos 30 anos.

BBC News Brasil - O senhor é um grande apoiador da Reforma da Previdência, mas foi condenado por sonegação de INSS de funcionários na década de 1990. Portanto, argumenta-se que o senhor teria interesses pessoais ao defender a proposta...

Luciano Hang - Olha só, a Havan vai faturar neste ano R$ 12 bilhões. Nós vamos pagar em impostos e benefícios R$ 3,2 bilhões neste ano. São R$ 250, R$ 270 milhões por mês.

A esquerda diz que eu fiz um refinanciamento de 115 anos e era R$ 168 milhões de INSS. Se eu pegar R$ 168 milhões de INSS e dividir por 1380 meses, me daria R$ 120 mil por mês. Alguém que paga R$ 270 milhões por mês faria o Refis para pagar R$ 115 mil por mês?

Isto é fake news. (...)

BBC News Brasil - Isso não aconteceu, então?

Luciano Hang - Não, claro que não. (...)

Tenho hoje uma CND, chamada Certidão Negativa de Débito, que é difícil um empresário conseguir. Uma empresa desse tamanho conseguiu a Certidão Negativa de Débito atualizada, que nada consta criminalmente, nada consta contra nós, mas ficam batendo para tentar nos amedrontar. Mas quem não deve, não teme. É jogar bola para frente, continuar atacando e fazendo gol.

(Nota da redação: Procurado, o INSS informou que questionamentos sobre contribuições são de competência da Receita Federal. A Receita, por sua vez, disse que, devido ao sigilo fiscal, não se manifesta sobre casos de contribuintes específicos.)

BBC News Brasil - Durante as eleições, o senhor foi acusado pelo Ministério Público do Trabalho de estar pressionando seus funcionários a votar em Bolsonaro. Se hoje um de seus funcionários chegasse para o senhor e dissesse "Luciano, te respeito, mas votei no Haddad, quero o Lula livre e sou uma pessoa de esquerda", o que o senhor faria?

Luciano Hang - Até vou fazer um negócio. Vou botar um vídeo na internet nessa semana: se o STF, que eu espero que não, mas se o STF der o semiaberto para o Lula, como eu tenho 13 lojas na Grande Curitiba, vou oferecer um emprego para o Lula na Havan, para dizer que não tenho nada contra a esquerda, né? Só não pode pegar o emprego de guarda noturno porque tem que dormir à noite na cadeia. Mas ele pode, por exemplo, trabalhar no caixa, só que não pode fazer nem caixa 2 e eu também não tenho caixa número 13, mas vou oferecer um emprego para o Lula na Havan, para provar que nós não temos nada contra a esquerda. Vou fazer um vídeo público oferecendo para o Lula um emprego na Havan. Como ele vai ficar em Curitiba, no semiaberto, tenho 13 lojas lá, né...

Não tenho nada contra a esquerda, para trabalhar comigo. Então vou oferecer um emprego para o Lula.

BBC News Brasil - Vamos falar um pouco sobre o que está sendo chamado de "Vaza Jato", com o site The Intercept publicando mensagens entre o então juiz Sérgio Moro e o promotor do MPF Deltan Dallagnol. O senhor já defendeu a Lava Jato e o Moro depois da publicação das matérias, e sempre se mostrou como um grande fã do ministro. Sua imagem dele mudou depois disso?

Luciano Hang - Não. Acho que o Moro e a Lava Jato fizeram a maior limpeza da história de corrupção e de desmantelamento de uma máquina pública podre. Sem a Lava Jato, o Brasil continuaria...Talvez a Dilma tivesse acabado os quatro anos dela, talvez o Lula entrasse como próximo presidente e nós teríamos um país cada vez mais pobre e miserável, cada vez mais sem ética, sem moral. (...)

BBC News Brasil - A BBC Brasil entrevistou juízes e acadêmicos que foram bastante críticos sobre o contato entre Moro e Dallagnol, disseram que era uma interferência...

Luciano Hang - Acho que esse contato existe com advogados, com juízes e com promotores. Sempre houveram (sic). Há, hoje...um advogado vai falar com o juiz, vai explicar a tese dele e assim acontece com o promotor.

BBC News Brasil - O senhor não veria problema se esse mesmo contato fosse feito entre o advogado de defesa de Lula e Moro?

Luciano Hang - Tenho certeza que muitas vezes o advogado de defesa foi lá falar com o Moro e assim por diante.

Agora, você vê tudo podre, tudo podre, tudo podre. Nós vamos defender os cupins? Ou o inseticida que vai matar o cupim? Eu defendo o inseticida. Não quero que a casa caia e o Brasil volte à miséria moral que vivemos nesse país. (...)

BBC News Brasil - O senhor disse que há um potencial no Brasil de ter muito mais bilionários...

Luciano Hang - Muito mais. Nós temos que enriquecer toda a nossa população. É muito simples: para você ter emprego, você tem que ter empresas, mas para você ter empresas, precisa ter empresários. Precisamos educar nosso povo a ser empreendedor.

A esquerda mata os empreendedores. Mata automaticamente as empresas e acaba com os empregos. Por que fazem isso? Porque querem que todo mundo dependa de bolsas, de governo, da máquina pública.(...)

E aí, cada vez mais as pessoas que têm cérebro, que podem fazer algo pelo país, vão embora. As cabeças pensantes vão morar em outro lugar e ficamos com um país de idiotas, onde ninguém mais consegue levantar sua voz, porque está tudo dominado, desde as escolas [até] a imprensa.

BBC News Brasil - Existe um argumento semelhante contra os cortes nas universidades, o que o governo chama de contingenciamento, de que essas mudanças seriam feitas para tirar a educação da população e deixá-la mais vulnerável.

Luciano Hang - Não, não. As universidades federais foram alinhadas para serem doutrinadoras por jovens de esquerda. Eu, Luciano Hang, sou favorável a acabar com todas as universidades federais, para privatizar tudo, e da seguinte forma: dar bolsas de estudo somente para pessoas pobres e esforçadas. Quem tem dinheiro, tem que pagar pelo seu estudo. Meus filhos têm que pagar pelo seu estudo.

Nós fizemos um levantamento. Em uma universidade federal, uma universidade pública, 20% são milionários, 50%, 60% tem carro e casa própria e vivem muito bem, classe média alta.

Quem tem acesso às universidades federais são ricos, 70% faz cursinho.

BBC News Brasil - 20% são milionários?

Luciano Hang - Milionários.

BBC News Brasil - Em que universidades?

Luciano Hang - Nós temos aí, fizemos agora... olha...fizemos um post aí nas minhas coisas.

[Nota da redação: A BBC News Brasil não encontrou a fonte desses números. Uma estimativa feita pelo economista Sergio Firpo em 2014 e divulgada em reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que metade dos calouros da USP estava entre os 20% mais ricos do Brasil - ou seja, com rendimento domiciliar per capita acima de R$ 1.200 em 2013, mas não necessariamente milionários]

BBC News Brasil - Em todas as universidades?

Luciano Hang - Não, uma. É...por exemplo, eu fiz universidade paga. Eu trabalhava, minha mãe trabalhava, meu pai trabalhava, como operário, nós três nos unimos para eu conseguir fazer a faculdade. Dei valor a isso.

A grande parte das pessoas que estuda em universidade federal hoje não tem [prazo] para acabar, pode fazer em cinco, seis, até dez anos, pode faltar. (...) Quanto mais tempo ficam lá, ficam sem trabalhar.

Os Estados Unidos não têm universidade pública.

BBC News Brasil - Mas a Europa tem.

Luciano Hang - E eu disse para você copiar a Europa? Por que vou copiar país que dá errado? Por que vou copiar França? Por que vou copiar Portugal? Para que vou copiar Grécia? Não vou copiar quem dá errado, só vou copiar quem dá certo. (...)

BBC News Brasil - Portugal, com um governo socialista, está sendo elogiado por sair da crise que assolou Grécia, Espanha e outros na região. E a França é um país muito admirado por seu avanço cultural...

Luciano Hang - Vou dizer uma coisa para você: país socialista e país comunista, quanto mais passam os anos, vai ficar pior. Daqui a 20, 30 anos, a França vai ser mais pobre do que é hoje. Portugal, eu sei porque estou sempre em Portugal…

O que está acontecendo com Portugal é que muitos brasileiros saíram dessa crise e foram morar lá. Levaram suas fortunas, compraram casas, porque Portugal tem uma carga tributária menor que a nossa.

Quando os brasileiros notaram que o Brasil poderia voltar a ter um governo comunista, foram tudo morar lá, tem muitos amigos meus morando lá, compraram casa, compraram empresa, fazenda de vinhos.

BBC News Brasil - Num governo socialista.

Luciano Hang - É porque lá é um pouco melhor do que aqui. Quer dizer, se eu vejo uma Venezuela pegando fogo, eu vou de repente vir para o Brasil, que é um pouco melhor do que a Venezuela.

BBC News Brasil - Então Portugal está fadado ao fracasso?

Luciano Hang - É...você disse que ele é socialista, eu acho que é também de extrema-esquerda, o primeiro ministro. E eu tenho amigos meus que moram lá, passam muito trabalho.

A economia está parada. É um país de oito milhões de habitantes, nove milhões de habitantes, pequeno, é um Estado nosso, do tamanho de Santa Catarina.

BBC News Brasil - Mas os números mostram recuperação da economia.

Luciano Hang - Uma recuperação porque muitas pessoas saíram de países piores e foram para lá, falam a mesma língua. Eu conheço várias pessoas, amigas minhas, empresários, que foram morar lá e compraram propriedades. Comprando propriedades, montando empresas, o país anda. Não é porque é mil e uma maravilhas, é porque é melhor do que aqui.

BBC News Brasil - Em uma entrevista anterior, o senhor disse que, no Brasil, as pessoas acreditam que quem ganha dinheiro vira um pessoa má e isso seria parte da cultura do país. Você pode explicar esse raciocínio?

Luciano Hang - Tom Jobim dizia que fazer sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal. Foi criado esse estigma de que o coitadinho, o tadinho, que Deus quis assim, o conformismo. E nós temos que criar uma outra cultura.

Fui para a Coreia do Sul trinta anos atrás. A Coreia do Sul tinha acabado de sair de uma guerra em 1955, das duas Coreias, e era um dos países mais pobres do mundo. Eu fui lá em 1993 e eles estavam refazendo sua educação, transformando em um país inovador, de tecnologia, de ciência, de matemática.

Quando cheguei lá era meia-noite. Estava eu e um coreano e eu olhava ao longe e estava cheio de luzes vermelhas. Nunca me esqueci porque pensei que era tudo casa noturna. Na época, no Brasil, casa noturna tinha tudo luz vermelha e aí eu disse para o coreano: "poxa, como tem casa noturna aqui. Vou ficar quinze dias aqui, sou solteiro, vou me divertir".

Na brincadeira, né. Aí o coreano falou: "Luciano, são igrejas neopentecostais. Aqui se prega a dedicação, o trabalho, o estudo e quando as pessoas conseguem ficar ricas, ganham uma dádiva de Deus".

Colocavam na cabeça da pessoa, através da religião, que você tem que estudar, que é através do seu esforço que vai transformar sua vida, a da sua família e a do país. E quando você consegue ficar rico, ganha uma dádiva de Deus.

Aí eu disse: "poxa, engraçado, no Brasil é diferente. Lá, a igreja prega que é mais fácil um camelo entrar no buraco da agulha do que um rico entrar no Reino de Deus". (...)

É essa cultura que quero mudar no país. Saí do zero e não fico me vitimizando, [dizendo] que saí lá da pobreza e me tornei presidente, querendo dividir a sociedade. Onde já se viu dizer para a população que um rico fica triste quando vê um pobre andar de avião? Isso é uma coisa absurda.

BBC News Brasil - Mas pessoas que postaram coisas como "esse aeroporto está virando uma rodoviária"...

Luciano Hang - Mas isso é aquela pessoa que é demente, aquela pessoa que está errada, não é a maioria. Tenho certeza que todo mundo fica feliz com a felicidade dos outros.

Tem que ficar feliz quando alguém sai do zero e se transforma em alguma coisa. Nós temos que bater palma quando alguém compra um avião, quando alguém compra um iate, um apartamento, um helicóptero, um carro novo, uma casa nova.

BBC News Brasil - Você acha que é um preconceito contra o rico?

Luciano Hang - Eu acho que é uma pregação durante muito tempo, principalmente das pessoas que queriam pegar o poder, de pregar a desunião da sociedade, onde o trabalhador tem que ser contra o patrão. (...)

BBC News Brasil - Mesmo sob o governo Bolsonaro, ainda somos comunistas?

Luciano Hang - Ele está tentando refazer isso tudo, né? Tudo, tudo. Porque o Brasil está virado de cabeça para baixo. Para virar ele de cabeça para cima, tem que fazer uma mudança de 100%. Né? É aí tem alguns traumas nisso. E o pessoal fica berrando.

Deixa o homem trabalhar! Minha empresa é de um dono único, agora imagine se cada coisa que eu fizesse, a imprensa viesse lá e trouxesse os especialistas dela, especialistas de faculdade, que nunca fizeram nada, especialistas de livro.

Eu gosto de ler livro de alguém que escreveu um livro pelo que ele fez ou pelo que ele estudou. Estou lendo um livro agora [chamado] Originais, recomendo para você.

É alguém que escreve o livro baseado em pesquisas de dez, vinte anos. Pesquisas americanas. Gosto de ler livros americanos porque eles têm pesquisas sobre o que estão fazendo. Eles lançam nas faculdades deles lá, mas é pesquisa. Não é filosofia, não é...

'Eu escuto isso a vida toda', diz empresário sobre aumento do desmatamento durante governo Bolsonaro
'Eu escuto isso a vida toda', diz empresário sobre aumento do desmatamento durante governo Bolsonaro
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / BBC News Brasil

BBC News Brasil - O senhor falou, na Câmara de Vereadores do Joinville, que o meio ambiente é o câncer do país. A fala reverberou bastante…

Luciano Hang - (...) Eu saí agora de Milão, com meu avião, [e] olhava para baixo e dizia para minha esposa: "quero ver como é isso daqui". Tudo plantado e construído. Ou vem a plantação ou vem a construção. Nos Estados Unidos, a mesma coisa. Eles deixam as suas reservas ou no deserto ou nas montanhas, onde você não pode fazer nada.

Aí no Brasil, 9% é usado para agricultura, 2% para as cidades, às vezes [em] grandes áreas têm que deixar 80% de preservação. Quando eu vou para o Chile, é a mesma coisa: quando olho lá para baixo, eu vejo tudo ocupado.

Nos Estados Unidos, tem a frase: farm's here, florest there, fazendas aqui e floresta no Brasil. Então as ONGS vêm para cá, as universidades alinham os estudantes dentro dessa filosofia que eu te falei, de comunismo, socialismo, marxismo, entram tudo para o poder público, jogam areia nas engrenagens e nada funciona.

BBC News Brasil - Os números de desmatamento aumentaram durante o governo Bolsonaro, e isso preocupa cientistas...

Luciano Hang - Eu escuto isso a vida toda, eu escuto isso a vida toda! Agora por que eles destruíram toda a Europa, tudo quanto é lugar? (...)

BBC News Brasil - O senhor acredita em mudança climática, aquecimento global?

Luciano Hang - Não, não, não, não. Não acho que é assim do jeito que é.

Vamos dizer que haja. O mundo é uma bola, certo? O mundo é uma bola.

BBC News Brasil - Há gente que questiona, né...

Luciano Hang - Ok, que seja. Não sei. Se é ou não é, não quero saber. Mas vivemos no mesmo ambiente que vive a Europa, a Ásia, a América, no mundo. Por que eu vou viajar num país como a Coreia, onde eu vejo todo ocupado, e aqui no Brasil não pode fazer nada?

Eles que são burros ou nós que somos burros? Eles podem se desenvolver e nós não? Eles podem vender o que querem e nós não?

BBC News Brasil - Mas argumentam sobre a importância para o equilíbrio global...

Luciano Hang - É muita ideologia, é muita ideologia, essa ideologia acabou com o nosso país. Aqui nada pode ser feito, lá pode fazer tudo. Eu estava num hotel agora na Itália e [tinha] um barulho de máquina, um barulho de máquina, aí abri [a janela], [às] seis horas da manhã, e eles estavam aterrando para fazer uma marina no mar. Isso no Brasil é impossível. (...)

Aqui no Brasil vou dizer para ti como é que funciona. Essa inveja funciona assim: eu não posso ter um helicóptero, então não deixa fazer helicóptero, eu não posso ter um apartamento de frente para o mar, então não deixa fazer prédio de frente para o mar.

BBC News Brasil - O senhor acha que é inveja?

Luciano Hang - Muito, muito, muito. Esse ranço que tem na sociedade. Temos que acabar com isso. Porque quando deixo de fazer um heliponto, um aeroporto, uma estrada, uma ferrovia, apartamentos de frente para o mar e tudo aquilo que gere desenvolvimento, eu não gero emprego, querida. (...)

BBC News Brasil - O senhor acha que a inveja faz parte dessa ideologia?

Luciano Hang - Também. É aquilo que eu te falei na frase do Tom Jobim: fazer sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal. É uma ofensa pessoal. A inveja é triste. Nos Estados Unidos e na Coreia do Sul ou em Cingapura, se bate palma para quem teve sucesso na vida, para quem ganha dinheiro, para quem constrói sua fortuna com o suor do seu rosto.

Aqui a gente tem inveja.

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