Lula dá depoimento a Moro como réu da Lava Jato: veja como foi o dia em Curitiba
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve, nesta quarta-feira, seu primeiro encontro com o Sergio Moro, juiz da operação Lava Jato na primeira instância e, com isso, responsável por julgar os processos contra ele no caso.
Réu de três ações sob a alçada do magistrado, o petista desta vez foi interrogado sobre as acusações de que recebeu vantagens indevidas das empreiteiras OAS em troca de contratos com a Petrobras.
Segundo o Ministério Público Federal, a companhia pagou R$ 3,7 milhões a Lula por meio da reserva e reforma de um tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo, e pelo custeio do armazenamento de seus bens depois que o petista deixou a Presidência.
Lula nega ser proprietário do imóvel e que tenha recebido propina da OAS.
O depoimento ocorreu em meio a um clima de expectativa - a defesa do ex-presidente tem afirmado constantemente que ele é vítima de "um histórico de perseguição e violação às garantias fundamentais pelo juiz de Curitiba", e chegaram a pedir que Moro fosse afastado do caso. O magistrado refuta as acusações - e a solicitação foi negada pela instância superior.
Lula ficou cerca de cinco horas no prédio da Justiça Federal.
Nos primeiros trechos tornados públicos, Lula é questionado sobre o tríplex e diz que "nunca houve a intenção de adquirir" o apartamento de três andares, só uma unidade simples no prédio. Também diz que chegou a visitar o tríplex mas nunca teve a intenção de comprá-lo - apesar da insistência do executivo da OAS Leo Pinheiro.
"Leo estava querendo vender o apartamento e o senhor sabe que, como todo e qualquer vendedor, (ele queria) vender de qualquer jeito. Eu disse ao Leo que o apartamento tinha 500 defeitos", afirmou Lula.
Já Leo Pinheiro havia dito à Justiça que o apartamento sempre pertenceu a Lula, apesar de no papel estar no nome da OAS, e que "tinha a orientação de não colocá-lo à venda porque pertencia à família do ex-presidente".
Lula também negou que tivesse pedido a Leo Pinheiro que destruísse provas - algo que o executivo da OAS havia declarado em depoimento.
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse após o depoimento desta quarta que "o que vimos hoje no tribunal foi um ataque com motivações políticas" e criticou Moro, chamando a audiência de "farsa" e "um ataque à democracia".
Moro, durante a audiência, disse a Lula que ele foi "tratado com respeito" durante os procedimentos judiciais e que ele será julgado "com base na lei".
Milhares de apoiadores aguardavam o fim do depoimento em uma praça a poucos quilômetros do prédio da Justiça Federal, onde Lula discursou após falar à Justiça.
Agradeceu aos manifestantes por "apoiarem uma pessoa que está sendo massacrada" e disse que está se preparando "para voltar a ser candidato a presidente desse país. Nunca tive tanta vontade, vontade de fazer melhor, de fazer mais, e provar que se a elite brasileira não tem competência pra consertar este país, o metalúrgico primário vai provar que e possível consertar este país."
Cerco policial
Diante da tensão entre apoiadores e críticos de Lula, o acesso ao edifício estava fechado desde a noite de terça, quando manifestantes chegaram em maior número à cidade.
Havia temores de confrontos entre grupos favoráveis ao ex-presidente e contrários a ele, o que acabou não se confirmando diante do forte policiamento.
Apoiadores de Lula se concentraram no acampamento da Frente Brasil Popular, que reúne vários movimentos sociais, próximo à rodoviária.
Críticos ao petista eram em menor número - após vídeo de Moro pedindo que os simpatizantes da Lava Jato ficassem em casa, vários grupos decidiram não ir a Curitiba.
O local ficou cercado por policiais, e os manifestantes pró e contra Lula foram mantidos afastados entre si e do acesso à Justiça Federal.
Durante o depoimento, a imprensa ficou em um espaço reservado situado distante do prédio. Os moradores do grande perímetro cercado foram escoltados por agentes para entrar e sair de casa - todos tiveram que comprovar residência na região e cadastrar seus veículos para conseguir usá-los.
Impacto político
Ao aterrissar em Curitiba, Lula foi recebido por petistas e posou para fotos e vídeos com correligionários como a senadora Gleisi Hoffmann, o deputado federal Zeca Dirceu e o presidente do partido, Rui Falcão.
O ex-presidente chegou ao prédio da Justiça Federal acompanhado de militantes por volta das 13h45, reforçando o caráter político que o depoimento assumiu.
Segundo especialistas entrevistados pela BBC Brasil, era pequena a possibilidade de o interrogatório ter relevância jurídica para o processo contra o ex-presidente.
Já o impacto político poderia ser expressivo.
Líder nas pesquisas de intenções de voto para as eleições de 2018, Lula pode ser impedido de concorrer tenha uma condenação em segunda instância até o pleito, e tem adotado o discurso de que é perseguido pela Lava Jato.
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