Lula diz que falta 'vergonha' de países para eliminar trabalho infantil
O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira, ao encerrar a 3ª Conferência Global Sobre Trabalho Infantil, que não faltam recursos no mundo para enfrentar o problema, mas “vontade política e vergonha” dos países. Lula disse que o mapa do trabalho infantil coincide, em geral, com o da fome e da miséria, e clamou pela destinação de orçamento para políticas sociais.
“Não falta recurso no mundo, e sim vontade política e vergonha para enfrentar o problema”, disse Lula em conferência realizada em Brasília. “A política para combater o trabalho infantil, a política para combater a fome, não é uma política eventual que a gente faz quando tem dinheiro e pare de fazer quando não tem dinheiro. É preciso que os governos coloquem no gasto da União, nos Orçamentos, a quantia destinada para que a gente possa acabar com o trabalho infantil no Brasil e no mundo”, completou.
Segundo dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), 168 milhões de crianças continuam em situação de trabalho. O encontro realizado nesta semana em Brasília reafirmou o compromisso de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2016.
Em um discurso para uma plateia composta por adolescentes e representantes de diversos países, Lula contou sobre situações humilhantes que passou na infância ao ajudar a família e que tentou amenizar o problema ao criar o programa Fome Zero em seu governo. “É por isso que eu assumi o compromisso porque eu não queria que se repetisse com as crianças o que aconteceu comigo, de vir comer um pedaço de pão pela primeira vez aos 7 anos de idade”, contou.
Ressaltando que a desigualdade é uma das principais causas do trabalho infantil, Lula lembrou críticas que sofreu ao criar o programa Bolsa Família, há dez anos. “Tudo que a gente dá para os ricos é investimento, tudo que a gente dá para os pobres, é gasto. A ponto de dizerem na minha cara, em muitos lugares, que a gente estava criando um exército de vagabundos, de pessoas que não iam trabalhar, porque o Lula estava dando esmola”, disse.
Criticas à imprensa
No início do discurso, Lula criticou a imprensa por dar mais importâncias para assuntos “banais” em vez de destacar os “resultados extraordinários” de redução do trabalho infantil. Entre 2000 a 2012, houve uma queda de 67% do número de crianças entre 5 e 14 anos no trabalho.
“Eu tinha a impressão que esse evento estava proibido para a imprensa, porque um assunto dessa magnitude, com os resultados extraordinários conquistado por muitos países do mundo, com resultado do Brasil, mereceu menos atenção do que qualquer outro assunto mais banal que o noticiário brasileiro”, disse.
“É uma pena que muitas vezes as coisas sérias não são tratadas com seriedade. É uma pena que muitas vezes as coisas banais, as coisas secundárias, sejam tratadas de forma quase que sensacionalista e quando o Brasil realiza a terceira conferência contra o trabalho infantil para mostrar o que aconteceu neste País e para ter informação do que aconteceu no mundo não merece a atenção devida que deveria acontecer. Porque certamente nos países ricos não tem problema de trabalho infantil, porque também não tem pesquisa. Mas se tiver pesquisa, a gente poderia até descobrir que essa crise econômica que se instalou em 2008 que está causando desemprego na juventude espanhola (...) deve ter gerado algum trabalho infantil, que não tem pesquisa”, disse.