Lula: "que tenham a dignidade de dizer que estavam mentindo"
Em Curitiba para 2º depoimento a Moro, ex-presidente voltou a refutar acusações que pesam contra ele
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a refutar as acusações que pesam contra ele, após prestar seu segundo depoimento ao juiz federal Sergio Moro no âmbito da Lava Jato, em Curitiba. "A única coisa que eu peço é que quem está me acusando tenha a dignidade de, se não provar um real errado na minha conta, vá à mesma televisão onde me acusa pedir desculpas", discursou, do alto de um caminhão de som.
Depois da oitiva na Justiça Federal do Paraná (JFPR), no bairro Ahú, ele se dirigiu à Praça Generoso Marques, no centro da capital paranaense, onde militantes e correligionários o aguardavam desde o início da tarde. Chegou por volta das 18h30 e falou já perto das 19h. De acordo com os organizadores, mais de sete mil pessoas acompanharam a chamada Segunda Jornada de Lutas pela Democracia. Entre os principais gritos, era possível ouvir o tradicional "olê olê olê olá, Lula, Lula", "Lula ladrão roubou meu coração" e "Lula guerreiro do povo brasileiro".
"Tenho consciência do porquê das mentiras que são contadas todo santo dia contra mim. Ao invés de ficar nervoso, fico orgulhoso. Investiram tanto acompanhando a minha vida, gravando Marisa e eu, Dilma e eu, me filmando e filmando meus filhos, invadindo a nossa casa, e até agora não encontraram uma única verdade (...) Ao final, vão ter de afirmar: 'não temos provas contra o Lula e mentimos'", prosseguiu o petista.
Com a voz rouca, o ex-presidente contou que pretende continuar sua peregrinação, em caravanas pelo Brasil. "Cometi graves erros nesse País. Sonhei em fazer da Petrobras a maior petroleira do mundo, em fazer uma indústria naval com coreanos e chineses, com que a energia limpa pudesse ser competitiva. Sonhei que era possível fazer o filho de uma empregada doméstica cursar um doutorado, um filho do pedreiro virar engenheiro, um jovem da periferia virar doutor e a juventude ter esperanças".
Lula agradeceu o apoio de colegas de partido e também citou o cantor Chico Buarque, ao relembrar da criação e atuação do Mercosul. "Como dizia o Chico: 'gosto do PT porque não fala grosso com a polícia nem fino com os Estados Unidos'". Ainda segundo o petista, ninguém que tenha defendido os pobres, "nenhum humano ou estadista resiste à sangria e ao ódio da elite perversa que domina o mundo". "Mas não vou cansar. Quem quase morreu de fome no Nordeste aos quatro anos não tem medo. Vou provar que a gente vai consertar esse País".
Os senadores petistas Lindbegh Faria, Humberto Costa, Fátima Bezerra e Gleisi Hoffmann e o peemedebista Roberto Requião participaram do ato, além de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, sindicalistas e ex-ministros, como Alexandre Padilha e Gilberto Carvalho. "No Congresso Nacional não vejo esperanças. A mobilização é o caminho", discursou Requião. Enquanto ele falava, alguns presentes pediram que deixasse o PMDB, mesmo partido do presidente "golpista" Michel Temer.
Presidente nacional do PT, Gleisi se referiu ao público como "companheiros e companheiras da República da Resistência", em uma referência ao termo "República de Curitiba", usado por apoiadores da Lava Jato. "(Trata-se da) resistência a esse ataque à democracia e ao Estado Democrático de Direiro. Quando atacam o presidente Lula, não atacam o homem, e sim o que ele representou e representa para o povo brasileiro e para o estado brasileiro", disse.
Para a petista, a condenação do ex-presidente por Moro é sim perseguição. "O que vemos aqui é gente que não tem compromisso com o povo mais pobre do nosso País. Os mesmos que ofendem o presidente são aqueles que ganham muito do Estado brasileiro, salário alto, acima do teto, e fazem discurso moralista (..) Se não querem Lula presidindo esse País, que o enfrentem nas ruas e nas urnas; não no tapetão", completou.
O interrogatório do ex-presidente começou às 14h15, com 15 minutos de atraso, e terminou duas horas depois. Ouvido pela primeira vez em maio na ação do triplex do Guarujá, em que foi condenado a 9 anos e meio de prisão, ele agora respondeu a perguntas sobre o processo em que é acusado de ter sido beneficiado pela empreiteira Odebrecht com a compra de um terreno de R$ 12,4 milhões destinado a ser a nova sede do Instituto Lula – mudança que acabou não saindo do papel – e mais um apartamento de R$ 504 mil em São Bernardo do Campo (SP).
Sem poder acompanhar a oitiva, os militantes foram para a praça. O ato foi encabeçado pelas frentes Brasil Popular (FBP) e Resistência Democrática (FRD) e pelo Fórum de Lutas 29 de abril. Vestidos de camisetas vermelhas, carregavam bandeiras, cartazes e faixas. Houve apresentações culturais e uma “aula pública” com o jurista Eugênio Aragão, professor da Universidade de Brasília (UnB), ex-procurador do Ministério Público Federal (MPF) e ex-ministro da Justiça durante o governo de Dilma Rousseff (PT).