Mãe de modelo presa faz protesto unificado: "não estou só"
Protesto unificado das famílias de Bárbara Querino, Marcelo Dias e Igor Barcelos pede 'liberdade aos jovens negros presos injustamente'
Três famílias se uniram para protestar contra o sistema judiciário brasileiro após afirmarem que parentes foram presos por crimes que não cometeram. Amigos e familiares de Bárbara Querino, Marcelo Dias e Igor Barcelos se reúnem na tarde desta quinta-feira (13), em frente ao Tribunal de Justiça, na Praça da Sé, para o “Ato Unificado: Liberdade aos jovens negros presos injustamente”. Os três são acusados de crimes distintos e alegam inocência.
O caso mais conhecido é o de Bárbara. Aos 19 anos e trabalhando como modelo, a jovem foi presa em 16 de janeiro, acusada de ter participado de um roubo de carro no dia 10 de novembro. Em depoimento, uma das vítimas afirmou que “o rosto dessa era, me foi bem familiar por causa dos cabelos”.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, ela e outros acusados "resolveram e planejaram a prática de roubo". Eles teriam usado uma pistola para abordar o veículo em um semáforo. No carro, estavam um casal e a filha de 8 anos. Foram levados, além do carro, joias e outros pertences das vítimas.
A família da jovem, no entanto, garante ter fotos e vídeos que provam que Bárbara estava no Guarujá, litoral de São Paulo, no dia do crime. O juiz desconsiderou a prova documental apresentada porque “dela não se pode extrair qualquer dia e horário de postagem das mensagens juntadas, provenientes de mensageria de Bárbara, quando estivesse no município mencionado”. Bárbara foi condenada a cinco anos e quatro meses de prisão.
Mãe de Bárbara, Fernanda Querino contou ao Terra que ficou muito abalada com a condenação da filha. “Foi um choque. Eu mesma chorei muito, muito, passei muito mal, porque a gente estava confiante que ela iria ser absolvida porque a gente tinha todas as provas”, disse. Desde o início da campanha pelo Facebook, ela e Mayara Vieira, administradora da página Todos Por Babiy, conseguiram a ajuda de uma empresa de perícia, que produziu um laudo sobre as imagens para que elas sejam avaliadas em maior profundidade.
Mayara, assistente social e amiga de Bárbara, acredita que o juiz sentiu fragilidade nos depoimentos apresentados, mas tem esperança de que o novo olhar sobre as imagens resolva a situação da jovem. “Vamos ver se o juiz aceita em primeira instância e recorre dessa condenação, se ele absolve ela através dessa primeira instância”, disse. A promotora Fernanda D’Amico, responsável pelo caso, afirmou através da assessoria do Ministério Público que não vai se pronunciar sobre o caso.
Conexões
A atenção atraída pelo caso de Bárbara levou Mayara e Fernanda a se unirem às famílias de Marcelo e Igor para trocar informações sobre os casos e realizar um protesto em conjunto. Igor foi condenado a 15 anos e seis meses e, devido ao momento do processo, a defesa preferiu não divulgar mais detalhes sobre o caso. Já a família de Marcelo aguarda a audiência, marcada para o dia 1º de outubro, e espera uma absolvição após o habeas corpus dele ter sido negado.
Marcelo Dias, presidente da ONG Novos Herdeiros, foi acusado de formação de quadrilha e tráfico de drogas. Segundo a irmã, Tatiana Dias, ele foi preso em flagrante no dia 9 de junho por estar próximo a uma cena de crime enquanto buscava cadeiras para um bingo de arrecadação de fundos para a organização. Desde a prisão de Marcelo, a família afirma que se desdobra para arcar com os custos do processo e manter o projeto funcionando. Com o apoio da comunidade, iniciaram a hashtag #MarceloLivre para divulgar informações e buscar visibilidade para o caso.
“A ONG continua funcionando. Tem aula de ginástica, eles têm parceria com um mercado da região, que faz o projeto Viva Bairro. Lá tem aula de capoeira, de boxe, aulas de inglês aos sábados”, explica Tatiana. Devido ao trabalho na região, a família conseguiu um abaixo-assinado na comunidade pedindo a libertação de Marcelo, com mais de mil assinaturas.
Contatada pelo Terra, a assessoria do Ministério Público de São Paulo afirmou que o promotor de Justiça André Pascoal da Silva não dará entrevista sobre o assunto. Em decisão contra o pedido de liberdade provisória de um dos réus no processo, o juiz afirma que “foram quase cinco quilos de cocaína, a demonstrar que se trata de ação criminosa que concretamente afeta o que se espera da paz e tranquilidade social”.
O ato
As três famílias se reuniram para organizar o evento, que será realizado no centro de São Paulo na tarde desta quinta. Ao lado de apoiadores, eles buscam chamar atenção para a reivindicação dessas famílias. “Na nossa ideia, o trajeto teria o início no Tribunal de Justiça, depois a gente passa pela Praça da Sé e finaliza no Ministério Público”, explicou Mayara à reportagem.
Para Fernanda, além de ter mais gente que lute pelo caso de sua filha, o apoio de gente que passa pela mesma situação tem sido fundamental para continuar na luta. “Agora eu vi que não estou sozinha. A Mayara sempre me amparou, mas agora essas três famílias se reuniram para poder gritar por justiça pelos nossos filhos. Agora eu me sinto bem mais forte e bem mais confiante.”