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Mães de bebês com microcefalia enfrentam distância, cansaço e maratona de exames

7 dez 2015 - 17h03
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Moradoras do interior de Pernambuco vão a Recife a procura de antendimento para bebês
Moradoras do interior de Pernambuco vão a Recife a procura de antendimento para bebês
Foto: BBC / BBC News Brasil

"Ele vai enxergar, mulher. Ele enxerga", diziam outras mães a Poliana Alves Pereira, de 20 anos, que esperava sua consulta no Hospital Universitário Oswaldo Cruz com o bebê José Ravi, de um mês.

As cinco mães reunidas tinham em comum o fato de que seus bebês nasceram nas últimas semanas com microcefalia — assim como outros 641 bebês em Pernambuco até o momento.

No ambulatório infantil de Doenças Infecto-Parasitárias do hospital, para onde são encaminhados todos os novos casos que precisam ser investigados, há um fluxo constante de mães — algumas acompanhadas, mas a maioria sozinhas. São pelo menos 20 casos nos dias mais cheios da semana, terça e quinta-feira.

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Poliana, uma agricultora de Carnaíba (a cerca de 400 km da capital Recife), é uma delas. Ela descobriu a má-formação no bebê depois que ele nasceu, com um perímetro cefálico de 31 cm, inferior ao considerado normal.

No começo da gravidez, ela teve coceiras e irritação na pele (sintomas da zika), "mas nos meus exames não deu nada alterado".

"Minhas ultrassonografias davam só 'retardo no crescimento', mas o médico falava que era no tamanho da criança, não falou que era na cabeça. Só quando ele nasceu eu vi, porque a cabecinha dele era muito estranha", disse à BBC Brasil.

Sua primeira consulta em Recife, no entanto, só acontece agora, um mês e seis dias depois do nascimento de José Ravi, por causa da dificuldade de conseguir horário de atendimento.

Exames

Ela saiu de sua cidade na noite anterior, de ônibus, e chegou na capital no começo da manhã. Ficará hospedada dois dias em uma casa de apoio do município para fazer os exames do bebê.

"Foi um choque porque toda mãe quer um bebê perfeito. Aí quando me disseram microcefalia, eu fui correndo olhar na internet pra saber o que era."

"Aí depois me disseram que microcefalia vem de pequenez na cabeça. E que ele teria retardamento."

Mães de bebês com microcefalia trocam experiências à espea de consulta
Mães de bebês com microcefalia trocam experiências à espea de consulta
Foto: BBC / BBC News Brasil

Até agora, ela sabe apenas que seu filho pode ter problemas de visão. "Ele tem duas cicatrizes nos olhos. Não vai enxergar igual a gente", contava para a reportagem e para outras mães.

Nas últimas semanas, ela já fez o trajeto até a capital pernambucana três vezes. Mas a primeira tomografia de José Ravi só será feita no dia 28 de dezembro.

O exame é um dos primeiros feitos pelas mulheres que moram em Recife, já que permite avaliar o quanto o cérebro pode estar comprometido.

No caso de bebês com microcefalia, todo o tempo é precioso, já que a análise dos exames indica como eles precisarão ser estimulados para desenvolver outras regiões do cérebro. Quanto mais cedo, melhor.

'Filho é filho'

No começo da manhã, muitas das mulheres ficam tímidas ao falar com jornalistas, mas ao se juntarem na espera pelas consultas, começam quase automaticamente a comparar medidas de perímetro cefálico e sintomas.

"O meu chora demais, chora o tempo todo", diz Poliana.

"A minha também", completa outra. "E de vez enquanto prende a respiração, fica roxinha. Se não cuidarmos, ela vai-se embora."

Sem saber exatamente como seus bebês podem ter sido afetados pela má-formação, elas também trocam palavras de encorajamento.

No decorrer do dia, as mães entram e saem das salas de exames muitas vezes — como muitas vêm do interior, a equipe médica tenta marcar todos no mesmo dia.

Vans de prefeituras do interior de Pernambuco levam mães e bebês com microcefalia para Recife
Vans de prefeituras do interior de Pernambuco levam mães e bebês com microcefalia para Recife
Foto: BBC / BBC News Brasil

De lá, saem com os bebês chorando, visivelmente exaustas e, em alguns casos, impacientes.

Algumas chegaram às 5h da manhã para esperar consultas que só acontecerão às 13h — as vans cedidas pelas prefeituras de suas cidades vêm cedo trazendo todos os que precisam de atendimento médico.

Na última semana, o governo de Pernambuco anunciou que hospitais e unidades de saúde das cidades de Caruaru, Serra Talhada e Petrolina estão sendo equipadas para receber casos do interior do Estado, para evitar que as mães continuem tendo que vir de longe para a capital.

Mas as que já vieram enfrentam a maratona de exames equilibrando bolsas, panos e um cuidado especial com os bebês frágeis nos braços. Não sobra espaço, por exemplo, para comida ou água.

Poliana fala frequentemente do cansaço, do calor e da fome. "Preciso ir pra casa comer e tomar um banho", reclama. Já é meio-dia, mas os exames ainda não acabaram por hoje.

"A pessoa fica triste, né. Porque toda mãe quer um bebê perfeito. Mas não pode ficar porque filho é filho e a gente tem que aceitar como Deus dá."

"Do meu ponto de vista, tem muitas mães que dariam tudo pra ter um filho e eu tive o privilégio de ter um especial, né?", diz.

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