Metade da população perdeu tudo e rede de saúde de Canoas (RS) está quase destruída, diz prefeito
Com mais 91 mil pessoas em abrigos, cidade gaúcha é uma das mais atingidas pelos temporais no Rio Grande do Sul
Praticamente metade da população de Canoas (RS) perdeu tudo com as enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde o final de abril. A afirmação é de Jairo Jorge (PSD), prefeito do município, o terceiro maior do Estado, que ainda não teve nem chance de calcular todos os prejuízos provocados pelos temporais.
"Cerca de 155 mil pessoas tiveram perda total ou uma perda muito expressiva e terão de recomeçar quase do zero", disse em entrevista ao Terra. Canoas tem 347.657 habitantes, de acordo com o Censo de 2022.
Com 19 mortes confirmadas até esta segunda-feira, 13, --mais que o dobro da última sexta-feira, 10, quando oito óbitos haviam sido notificados-- e 17 pessoas ainda desaparecidas, a cidade já recebeu mais de 66 mil solicitações de resgate desde o início das chuvas. Como mais chuvas e ventos fortes neste final de semana na Região Metropolitana de Porto Alegre, Canoas segue emitindo pedidos para que moradores deixem suas casas. Neste domingo, o prefeito anunciou que os níveis dos rios da região podem subir para 5,5 metros.
"Muita gente não acreditou que a água viria com esta força. Hoje, temos dois terços da cidade com ordem de evacuação. Dois terços da cidade estão concentrados em todo o lado leste de Canoas", relata o prefeito. Os bairros com alertas vigentes, segundo a administração municipal, são Rio Branco, Fátima, Mato Grande, Harmonia, Mathias Velho, São Luis e Niterói.
Mais de 90 mil pessoas precisaram ir para um dos cem abrigos montados pela cidade, que viu parte de sua infraestrutura desaparecer. Além de diques de proteção que se romperam com a força das enxurradas, o prefeito aponta que Canoas perdeu completamente 41 das 83 escolas de educação infantil. O maior impacto, no entanto, é sentido na área da saúde -- três da quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e 19 das 27 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) também foram destruídas.
Reforço
Na última quinta-feira, 9, um segundo hospital de campanha começou a ser montado para dar conta dos atendimento em Canoas. A unidade funcionará ao lado do Hospital Nossa Senhora das Graças, na Av. Santos Ferreira, 1864, Bairro Marechal Rondon. Militares de Brasília, Florianópolis, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul trabalham na instalação da unidade de saúde.
Os atendimentos disponibilizados no Hospital de Campanha serão: leitos de estabilização, sala cirúrgica para procedimentos simples, oito leitos de observação e medicação, raio-x e laboratórios de análises clínicas. Desde o último domingo, 5, Canoas já conta com um hospital de campanha, montado junto à Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), onde são há triagem feita por equipes da Cruz Vermelha, e atendimentos realizados pela Força Nacional do SUS especializada em enchentes.
Além da ajuda na área da saúde, o prefeito destaca que a cidade precisa de cestas báscias, cobertores, material de higiene e limpeza. Uma central de distribuição de cestas báscias foi montada para agilizar o atendimento de quem não está conseguindo comprar itens nos mercados. Ele reforça também que, ao contrário de diversas publicações falsas em redes sociais, a prefeitura não está barrando a ajuda de voluntários e nem pegando doações para si.
Segundo o prefeito, determinadas medidas emergenciais anunciadas pelos governos estadual e federal são fundamentais, mas "não podem parar aí". Ele cita a liberação de saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como uma medida relevante para o momento, mas acredita ser preciso pensar em mais alternativas.
"Acho que será preciso criar um auxílio mobília, um auxílio reforma. Porque as pessoas perderam fogão, geladeira. Como as pessoas vão financiar tudo isso? Tem gente que tinha casa de madeira aqui e não é fácil começar do zero", afirma. Jairo espera se reunir ainda esta semana com representantes dos governos estadual e federal para discutir a questão.