'Metáfora da situação do Brasil': imprensa internacional destaca incêndio no Museu Nacional
Veículos chamaram a atenção ainda para a condição de abandono em que se encontrava a instituição.
O incêndio que atingiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro neste domingo é destaque na imprensa internacional.
A notícia ganhou a manchete do site da BBC News, que traz uma análise da jornalista Katy Watson, correspondente da BBC na América do Sul, sobre a tragédia.
Segundo ela, o incêndio pode ser visto como uma "metáfora" da situação atual do país.
"Não é apenas a história brasileira que está em chamas. Muitos veem isso como uma metáfora para a cidade - e para o país como um todo."
"O Rio de Janeiro está em crise. A violência crescente, o profundo declínio da economia e a corrupção na política se combinaram para tornar a cidade uma sombra do que já foi um dia."
E acrescenta:
"Este foi um museu por muito tempo ignorado e subfinanciado - agora, com consequências devastadoras para o patrimônio histórico do Brasil."
O jornal britânico The Guardian, que classificou o incêndio como uma perda "incalculável", também fez um paralelo com a situação do país em seu site, ressaltando os altos níveis de violência e desemprego.
"Alguns brasileiros viram o fogo como uma metáfora para os traumas do país, que enfrenta níveis terríveis de criminalidade e os efeitos de uma recessão que deixou mais de 12 milhões de pessoas desempregadas", diz um trecho da reportagem.
O artigo cita diversos depoimentos, entre eles o do antropólogo Mércio Gomes, ex-presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), que comparou o incidente ao incêndio da biblioteca de Alexandria, em 48 a.C.
"Nós, brasileiros, temos apenas 500 anos de História. Nosso Museu Nacional tinha 200 anos, mas é o que tínhamos, e está perdido para sempre."
O incêndio também repercutiu na imprensa americana. O New York Times destaca a "ameaça a centenas de anos de história", lembrando que a instituição estava abandonada.
"O museu foi abandonado nos últimos anos, enquanto o próprio país lutava contra uma economia estagnada e instabilidade política."
"De acordo com relatos da imprensa local, os professores que trabalham no museu chegaram a recolher dinheiro para ajudar a pagar pelos serviços de limpeza", acrescenta o texto.
O site do jornal americano também traz uma lista das peças mais importantes do acervo do museu, como Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil, e o meteorito Bendegó.
A revista americana Forbes afirma que "os dias de glória do museu tinham ficado para trás" e ressalta os problemas financeiros enfrentados pela instituição e pela cidade.
"A destruição do Museu Nacional do Rio é emblemática de uma cidade que sofre com anos de corrupção política", diz trecho da reportagem publicada no site.
O jornal argentino Clarín, por sua vez, classificou o incêndio como uma tragédia. Entre alguns depoimentos, a publicação cita uma declaração do vice-diretor da instituição, Luis Fernando Duarte, que atribui a "situação trágica" à "falta de apoio e de consciência" do poder público.
A reportagem lembra ainda que há 40 anos, em 8 de julho de 1978, um incêndio atingiu o Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, destruindo importantes obras do acervo, "como pinturas de Pablo Picasso, Salvador Dalí e Joaquín Torres-García, que eram parte de uma exposição temporária".
Já o jornal francês Le Monde destacou em seu site os "200 anos de história que desapareceram" e publicou um vídeo com imagens do incêndio.