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Militares contestam veracidade de foto e se silenciam na CNV

29 jul 2014 - 15h58
(atualizado às 16h12)
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Foto entregue por Claudio Guerra mostra o coronel Freddie Perdigão, marcado em vermelho, no local do acidente que matou Zuzu Angel
Foto entregue por Claudio Guerra mostra o coronel Freddie Perdigão, marcado em vermelho, no local do acidente que matou Zuzu Angel
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Três militares que foram convocados na manhã desta terça-feira para prestar depoimento na Comissão Nacional da Verdade (CNV) pediram a saída da imprensa do local e, ainda assim, não responderam aos questionamentos. Nesta manhã, seriam ouvidos o general reformado Nilton de Albuquerque Cerqueira e os capitães Jacy e Jurandyr Ochsendorf. Os três são defendidos pelo advogado Rodrigo Roca, que os orientou a ficarem em silêncio. "A questão não é colaborar, nem se defender. É evitar que erros históricos se repitam e acabem virando uma verdade", disse o advogado, afirmando que a comissão foi induzida a um "erro histórico" ao divulgar uma foto do acidente em que morreu a estilista Zuzu Angel, na qual aparece o coronel Freddie Perdigão. A imagem foi entregue à CNV pelo ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) Claudio Guerra.

"Com esse engano, causou-se um transtorno muito grande, acredito eu, para os parentes e para os companheiros de farda (do coronel Perdigão). Quem declarou isso a Vossa Excelência, ou se enganou, ou te enganou, que é pior ainda", disse o advogado ao coordenador da CNV, Pedro Dallari.

Dallari classificou a justificativa de incoerente: "Se há erro, o erro só pode ser corrigido com depoimentos, com elementos e com documentos. Não com silêncio. A declaração de que (o convocado ou convidado) não vai se manifestar sobre um assunto não ajuda na investigação", disse Dallari. Ele ressaltou que a foto do acidente foi recebida de uma testemunha de grande credibilidade, que participou ativamente dos eventos. "Não podemos aceitar que haja contestação das informações por quem se nega a prestar depoimento, porque aí seria uma inversão da própria lógica do processo de investigação."

Nesta semana, estão previstos depoimentos de 20 militares convocados e de um convidado no Arquivo Nacional, para tratar de 11 temas, entre eles o atentado à bomba no Riocentro, a Casa da Morte de Petrópolis e a morte do deputado Rubens Paiva.

Apesar de lamentar, o coordenador da comissão minimizou a situação: "É claro que, para a CNV, seria muito importante que houvesse mais colaboração, mas eu diria que já temos elementos suficientes. A fala deles era importante do ponto de vista do direito de defesa, de eles poderem apresentar a sua versão dos fatos. Para mim, essa estratégia pode fazer sentido juridicamente, embora, do ponto de vista da imagem, seja péssima, porque quem fala que não tem nada a declarar em geral é quem é culpado. Se eles fossem inocentes, apresentariam a sua versão dos fatos."

Nilton Cerqueira comandava a PM do Rio na época do atentado do Riocentro
Nilton Cerqueira comandava a PM do Rio na época do atentado do Riocentro
Foto: Tânia Rego / Agência Brasil

O general Nilton Cerqueira comandava a Polícia Militar do Rio de Janeiro na época do atentado do Riocentro, em 1981, e há um ofício em seu nome que pede a retirada do policiamento no dia do show em que ocorreria o atentado. Em outra audiência pública sobre o caso, a CNV apontou essa estratégia como uma das formas de contribuir com o clima de terror no episódio, em que a bomba acabou explodindo no carro com os militares dentro. A participação de Nilton também é apontada no Araguaia e na Operação Pajuçara, em que foi morto o líder militante Carlos Lamarca, na Bahia. "Ele esteve relacionado diretamente a esses eventos. É protagonista de eventos dramáticos da história do Brasil".

Mais de dez perguntas foram feitas a Nilton, mas nenhuma foi respondida. De acordo com a advogada Rosa Cardoso, integrante da CNV, ele disse apenas que pediu para os jornalista deixarem o salão porque "a imprensa distorce tudo" e afirmou "que era um absurdo a comissão investigar o fato 30 anos depois".

Os irmãos Jacy e Jurandyr são apontados como participantes da farsa montada para sustentar a versão de que o deputado Rubens Paiva foi resgatado por guerrilheiros e fugiu, encobrindo o fato de ter sido torturado e morto. "Estavam vinculados ao DOI-Codi e participaram diretamente da operação de simulação da fuga de Rubens Paiva. Depois, a comissão apurou que Rubens Paiva não fugiu, foi executado no DOI-Codi, e o que se fez foi forjar a fuga do parlamentar. Os capitães Jacy e Jurandyr tiveram participação direta no evento, como foi relatado por um colega deles."

Antes do depoimento de Jurandyr, membros da CNV chegaram a insistir que ele falasse, e, se não fosse falar, que a imprensa pudesse acompanhar  as perguntas. Em resposta, o militar respondeu apenas que "permaneceria calado" e que "preferia a ausência da imprensa".

O jurista João Paulo Cavalcanti Filho, que pediu a permanência da imprensa, classificou a posição de uma "deselegância", uma vez que os jornalistas tiveram que sair do salão no início de cada depoimento. Cinegrafistas e fotógrafos foram impedidos pela segurança pela Polícia Federal de fazer imagens do embarque dos dois últimos depoentes, Jacy e Jurandyr, em carros no pátio interno do Arquivo Nacional.

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