Mortes provocadas por policiais no Rio crescem 18% neste ano
As mortes provocadas pela polícia do Rio de Janeiro cresceram 18% neste ano, em relação ao ano passado. De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), os policiais mataram 517 pessoas entre janeiro e setembro deste ano, ou seja, 79 a mais do que no mesmo período de 2014.
Essas ocorrências são registradas nas delegacias como “autos de resistência”, ou seja, os policiais registram o caso como sendo legítima defesa. Para especialistas, a culpa é da política de segurança pública do estado, que estimula uma guerra entre policiais e criminosos, sem buscar combater a origem da criminalidade.
Segundo a diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, essa política de guerra também tem seu efeito negativo no lado dos policiais. De janeiro a setembro deste ano, 21 policiais foram mortos em serviço no estado do Rio de Janeiro, cinco a mais do que no mesmo período do ano passado.
“Isso de algum modo faz parte da cultura organizacional que vê no enfrentamento ao criminoso um mecanismo para controlar o crime”, disse.
Samira Bueno acrescentou que esse comportamento, na prática, tem gerado muitas vítimas. “Se não pensarmos numa reformulação do modelo de segurança pública, não começarmos a rediscutir a política de drogas, não pensarmos em novos mecanismos de prover segurança pública, dificilmente conseguiremos garantir a vida dos agentes de segurança”, afirmou.
A diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública disse que, além de retirar do criminoso o direito ao devido processo legal, a morte provocada pelos policiais também pode gerar vítimas inocentes. “Não são raros os casos de pessoas inocentes, mortas em operações policiais, que acabam sendo registradas como autos de resistência”, disse.
Morte
Em maio do ano passado, Johnatha de Oliveira, de 19 anos, foi morto por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, na zona norte da cidade do Rio. Os policiais alegaram que o jovem estava atirando contra policiais quando foi morto.
A família dele, no entanto, disse que ele estava desarmado e tinha acabado de sair de casa quando, durante, os policiais começaram a atirar. Um dos tiros atingiu o jovem.
A morte de Johnatha foi investigada e os responsáveis identificados. No entanto, quase um ano e meio depois, o julgamento ainda está na fase de instrução. “Eu quero que, quem tirou a vida do meu filho, pague pelo erro que cometeu. Meu filho tinha uma vida toda pela frente. Ele tinha sonhos, que foram tirados por causa de uma política de segurança pública em que a vida da favela não tem vez”, disse a mãe de Johnatha, Ana Paula Oliveira.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do estado informou que prioriza a preservação da vida, por isso tem premiado policiais integrantes de batalhões que tenham diminuído índices de “letalidade violenta”, indicador criminal que soma homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e os autos de resistência.
Além disso, de acordo com a secretaria, diversas medidas foram tomadas para diminuir os índices de mortes em confronto, como a diminuição do uso de fuzis, a criação do Centro de Formação do Uso Progressivo da Força para policiais e a implementação da Divisão de Homicídios, que investiga todas as mortes decorrentes de intervenção policial.
*Colaborou Tâmara Freire, repórter do Radiojornalismo