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Mourão diz que Mandetta "cruzou linha da bola", mas defende permanência do ministro

14 abr 2020 - 13h11
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O vice-presidente, Hamilton Mourão, avaliou nesta terça-feira que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, "cruzou a linha da bola" e cometeu uma "falta grave" na entrevista que deu à TV Globo no domingo, ao mesmo tempo que defendeu que ele permaneça no cargo e que haja uma conversa de Mandetta com o presidente Jair Bolsonaro.

Vice-presidente Hamilton Mourão
14/02/2019
REUTERS/Ueslei Marcelino
Vice-presidente Hamilton Mourão 14/02/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

"Ele cruzou a linha da bola, não precisava ter dito determinadas coisas", disse o vice-presidente em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, usando uma expressão do polo, esporte que pratica.

"Cruzar a linha da bola é uma falta grave no polo. Nenhum cavaleiro pode cruzar na frente da linha da bola. Ele fez uma falta. Merecia um cartão", explicou.

Mourão ressalvou que Mandetta deixar o governo é uma decisão pessoal de Bolsonaro, mas defendeu a permanência do ministro. Mourão afirmou que o "trabalho técnico" da Saúde é "muito bom", assim como a coordenação feita pela Casa Civil das várias áreas do governo que tem ações para combate à epidemia.

"Eles (os ministros) ficam até que perdem a confiança do presidente. Existe muito tititi, mas julgo que o presidente não deve mudar ministro nesse momento. Cabe mais uma conversa ali, chamar ele e dizer para eles acertarem a passada, para que as coisas sejam discutidas intramuros e não via imprensa."

Essa conversa aconteceu na quarta-feira da semana passada. Depois de uma reunião ministerial extremamente tensa, em que Mandetta reafirmou que não pediria demissão e chegou a perguntar por que então Bolsonaro não o demitia. Aconselhado a tentar uma reaproximar, Mandetta pediu uma audiência ao presidente.

O encontro durou mais de uma hora e, oficialmente, seria para Mandetta apresentar todas as medidas tomadas para combater a epidemia, mas serviu para presidente e ministro chegarem a uma trégua frágil, em que cada um deveria seguir defendendo seus pontos de vista.

Na visão da ala militar do governo, a trégua foi quebrada pela entrevista de Mandetta transmitida pela TV Globo.

Ao Fantástico, o ministro da Saúde cobrou uma "fala única" do governo sobre a epidemia e disse que hoje há uma "dubiedade" nas orientações. "O brasileiro não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente, quem é que ele escuta", disse o ministro.

Mourão replicou, na entrevista, o pensamento majoritário entre os ministros que defendem Mandetta: o ministro cruzou uma linha, realimentou um conflito que estava amortecido, mas não é hora de mexer na equipe.

Ainda assim, Bolsonaro não reagiu. O único comentário do presidente sobre a entrevista foi o de que não assiste a TV Globo.

Mourão ainda negou que exista uma "tutela" dos ministros militares sobre o presidente e garantiu que, dentro do governo, cada área defende sua linha, mas a decisão final é sempre de Bolsonaro, e nem quis classificar a entrevista de Mandetta como uma "insubordinação", como fizeram alguns ministros em privado.

"Não digo que Mandetta foi insubordinado. Estamos na vida civil, é diferente", disse Mourão.

Para o vice-presidente, o governo tem que olhar para três curvas: a da epidemia, para evitar um pico e fazer com que o sistema de saúde possa atender as pessoas, a do Produto Interno Bruto (PIB), para que a queda não seja a pior possível, e a do desemprego.

"Em um pais em que grande parte dos trabalhadores estava na informalidade, essa (desemprego) é a preocupação maior do presidente. A reunião do Conselho de Governo hoje (terça) vai tratar de medidas para depois da epidemia", disse.

Questionado sobre a defesa que Bolsonaro faz de questões polêmicas, como o isolamento vertical --restrito apenas a grupos de risco--, Mourão defendeu que o país precisaria ter um isolamento mais inteligente, como por exemplo isolar regiões onde o vírus ainda não entrou. Mas admitiu que para isso o país precisaria ampliar a testagem, o que não aconteceu ainda.

O vice-presidente minimizou ainda as carreatas que tem sido feitas no país contra o isolamento social --e que tem sido incentivadas pelo presidente e por seus filhos, que chegaram a compartilhar imagens nas redes sociais.

"As pessoas que foram às ruas são as do que eu chamo de 'isolamento zona sul'. Pessoas que estão confinadas e que não têm seus salários afetados, que recebem comida de delivery dos melhores restaurantes. Essa turma está incomodada porque sua vida está compactada", disse.

"Foram manifestações bem pouco expressivas. Não vimos a favela descer em peso para protestar que estão confinados. Seria uma manifestação bem mais complicada do que carreatas."

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