MTST protesta contra racionamento de água na periferia de SP
Movimento afirma que população das zonas sul, leste e oeste da capital sofre diariamente com cortes de água; Sabesp nega
Cerca de 5 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) realizaram nesta quinta-feira um protesto para denunciar o que consideram ser racionamento de água em bairros da periferia de São Paulo. O governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), nega que haja racionamento, mas, nesta semana, relatório da Sabesp admitiu cortes de água durante a noite. Além disso, o secretário de Recursos Hídricos reconheceu hoje a situação crítica do Sistema Cantareira e informou que, se não chover, o reservatório terá água para apenas mais 52 dias.
A manifestação dos sem-teto começou no largo da Batata, em Pinheiros (zona oeste), e seguiu para a sede da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), no mesmo bairro, onde uma comissão do MTST foi recebida. Às 19h15, após a reunião, os manifestantes seguiram em direção à marginal Pinheiros e chegaram a bloquear por um tempo a pista local sentido Castello Branco. Na sequência, o protesto retornou ao largo da Batata, onde foi encerrado às 20h30.
De acordo com Guilherme Boulos, um dos líderes do movimento, a crise de abastecimento de água pela qual passa o Estado afeta principalmente bairros das zonas sul, oeste e leste da capital: Capão Redondo, M'Boi Mirim, Jardim Ângela e Grajaú; Paraisópolis e Jardim Colombo; Itaquera, Guaianases e Cidade Tiradentes. O MTST também denunciou racionamento de água nos municípios Taboão da Serra e Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
"O governador do Estado tem ido na televisão e em vários cantos para dizer que não existe racionamento em São Paulo (...) Talvez no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, não falte água mesmo", disse Boulos para uma multidão de sem-teto, de cima de um carro de som. "Mas vários companheiros têm relatado que, se ligar a torneira após as 19h, não sai nada. Duvido que falte água nos condomínios dos Jardins e de Higienópolis", continuou.
Segundo o MTST, o objetivo do protesto é cobrar uma solução da Sabesp. "Este é um ato de denúncia. É preciso um plano emergencial para essas regiões", disse Boulos. "Não podemos aceitar que só os trabalhadores mais pobres, da periferia, paguem a conta pela falta de água", continuou.
Questionado por jornalistas sobre um eventual objetivo político da manifestação, Boulos rechaçou a ideia e disse que não faz sentido dizer que o MTST apoia o PT, por exemplo. "Nós somos o movimento que mais bateu no PT no último ano."
Boulos disse ainda que, apesar de a principal bandeira do movimento ser a luta por moradia, os militantes não deixam de buscar uma "vida mais digna". "Nós, do MTST e da Periferia Ativa, já deixamos claro mais de uma vez que a nossa luta é por uma vida mais digna, não apenas por casa. Não adianta ter casa e não ter água para beber", afirmou.
Mudança na pressão
A reunião na Sabesp terminou com o compromisso da companhia em realizar reuniões frequentes nas regiões afetadas. Os primeiros encontros já têm data e serão realizados nos dias 7 e 8 de outubro.
Segundo Josué Rocha, um dos coordenadores do MTST que participou da reunião, a Sabesp "não tem como negar" o racionamento. "É inegável dizer que está faltando água. Eles afirmaram que estão fazendo modificações na pressão e, por isso, em alguns momentos do dia não tem água. A gente sabe que isso, traduzindo, é racionamento", afirmou a jornalistas. Rocha ponderou, contudo, que o corte de água é "seletivo".
A Sabesp, no entanto, informou que "apresentou dados demonstrando que não há falta d´água, conforme número de reclamações, que este ano têm sido inferiores às de 2013". Em nota enviada à imprensa, a companhia disse ainda que "apresentou cronograma de obras e ações para áreas de expansão e crescimento acelerado, em especial melhorias na região do Jardim Ângela e Jardim São Luís, com entrega agora para novembro".