Museu do Ipiranga: reabertura após 9 anos revelará reforma que dobrou tamanho e modernizou instalações
Fechada às pressas em 2013 por risco de desabamento, a instituição passou nos últimos três anos por obras, que custaram R$ 235 milhões, para recuperar seu edifício, criar uma nova área e recuperar o jardim em frente.
Passados nove anos — três deles de obras que custaram R$ 235 milhões —, o Museu do Ipiranga será reaberto ao público maior e mais moderno em 8 de setembro, como parte das comemorações do bicentário da Proclamação da Independência.
A instituição, que foi interditada às pressas em 2013 por causa de problemas sérios de conservação e segurança, está em obras desde 2019.
O edifício-monumento, tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal, foi totalmente restaurado em sua fechada e no interior e, agora, terá um mirante no topo.
Ainda foi construída uma nova área para ampliação das instalações, e o jardim em frente ao museu também foi recuperado.
A maior parte dos recursos - R$ 183 milhões - foram captados na iniciativa privada por meio da Lei Rouanet e somados a aportes do governo estadual e de empresas, sem incentivo fiscal.
Desde o início das obras, foram encontrados no museu e nos seus arredores cerca de 1.250 artefatos, que remontam à sua construção e aos usos daquele local antes disso, em especial para eventos religiosos de diferentes vertentes.
Construção
O Museu do Ipiranga foi inaugurado há 127 anos. É um dos mais antigos do país.
Seria originalmente um monumento à Independência, a ser instalado onde D. Pedro 1º proclamou o fim do Brasil colônia. A ideia surgiu na Assembleia Constituinte de 1823, um ano depois da separação de Portugal.
Mas o projeto foi abandonado e só foi retomado 32 anos depois, em 1855, pelo coronel José Antônio Saraiva, presidente da então Província de São Paulo. Mas levaria outras três décadas até começar a ser construído de fato.
O italiano radicado no Brasil Tommaso Gaudencio Bezzi (1844-1915) foi contratado para fazer o projeto, que foi baseado nos palácios europeus renascentistas. O nome de Bezzi foi polêmico na época, com críticas na imprensa à escolha de um italiano e não de um brasileiro.
Sua arquitetura eclética, com abóbadas e colunas, gera fascínio e alguns mal-entendidos. Os curadores dizem que até hoje tentam, por exemplo, desfazer a crença de que Dom Pedro 1º morou ali.
Durante as obras de construção, o Governo Provisório do novo regime republicano quis dar uma destinação "útil" ao monumento. Chegou-se a cogitar que abrigasse uma escola pública, mas a decisão final foi transferir o Museu do Estado, criado cinco anos antes, para ali.
O Museu Paulista abriu as portas pela primeira vez em 7 de setembro de 1895. Originalmente, era dedicado à História Natural, com ênfase na Zoologia.
'Independência ou Morte'
Seu primeiro era formado no início por peças etnográficas e arqueológicas, além de objetos de naturezas diversas, como itens históricos, zoológicos e botânicos.
Foi montado a partir do extinto Museu Provincial da Associação Auxiliadora do Progresso e das coleções privadas Sertório e Pessanha, que tinham sido adquiridas previamente pelo conselheiro para o Museu do Estado.
A partir do centenário da Independência, em 1922, foi reforçado o caráter histórico da instituição, com a formação de novos acervos que dão destaque à história do Brasil e de São Paulo.
O museu incorporou ao longo do tempo acervos de outras instituições e ampliou suas coleções.
A obra mais conhecida, Independência ou Morte, pintura de Pedro Américo (1843-1905) que retrata o momento da Proclamação da Independência, está ali desde o princípio, no Salão Nobre.
Feita por encomenda do Governo Imperial, a gigantesca tela a óleo, com 4,15 metros de altura e 7,6 metros de largura foi restaurada junto com o museu.
Américo fez pesquisas sobre o movimento pela separação de Portugal, os trajes da época e entrevistou testemunhas para elaborar a pinturas histórica.
Foi exposta pela primeira vez em Florença, na Itália, em 1888, e, no Brasil, na inauguração do Museu do Ipiranga.
Crise
Seu nome oficial é Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP) — a instituição é vinculada à USP desde 1963.
Mas ficou popularmente conhecido pelo nome do bairro na Zona Sul da capital paulista onde está instalado. Os moradores da região habituaram-se a correr pelo Parque da Independência, no entorno do museu.
Mas, antes de ser fechado em 2013, o museu atravessava uma séria crise financeira que corroeu sua estrutura física.
Em agosto daquele ano, foi interditado às pressas, porque um laudo apontava que havia um risco iminente de desabamento.
Seu acervo foi transferido e abrigado temporariamente em outros locais enquanto a reforma estava em curso. Uma parte ficou exposta no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
Reabertura
Com as obras, o Museu do Ipiranga dobrou de tamanho e poderá agora receber até 12 exposições simultâneas.
As mostras incluirão cerca de 3,5 mil dos 450 mil itens e documentos de seu acervo.
Também poderá receber temporariamente pela primeira vez acervos de outras instituições, graças à instalação de ar-condicionados na área em que foi expandido.
O museu ganhou um novo espaço de 6,8 mil m² que terá café, loja, auditório, espaços para atendimento educativo e uma grande sala de exposições temporárias.
Também conta agora com um novo sistema de prevenção de incêndios e um sistema inteligente para gerenciar sua segurança e manutenção e a conservação de seu acervo.
A expectativa é que até 1 milhão de pessoas visitem o local anualmente após sua reabertura.
Dois dias antes, haverá uma cerimônia evento com autoridades e patrocinadores. O dia 7 será reservado para alunos de escolas da região e os funcionários que trabalharam na obra, e haverá projeções feitas por drones, além de apresentações musicais.
O público em geral poderá conhecer o "novo" Museu do Ipiranga a partir de 8 de setembro. A entrada será gratuita nos dois primeiros meses. As reservas podem ser feitas a partir de sexta-feira (3/9).
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62746935