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Na contramão da OMS, Bolsonaro critica confinamento por vírus

Fala do presidente causou reação imediata do legislativo e de go

25 mar 2020 - 07h55
(atualizado às 07h59)
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Contrariando a Organização Mundial de Saúde (OMS) e especialistas em saúde pública de todo o mundo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, fez um pronunciamento na noite desta terça-feira (24) criticando as medidas de isolamento social e pedindo a reabertura das escolas em meio à pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Bolsonaro atacou imprensa e voltou a dizer que coronavírus é 'gripezinha'
Bolsonaro atacou imprensa e voltou a dizer que coronavírus é 'gripezinha'
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

Durante sua fala, o mandatário voltou a falar em "histeria" e criticou a imprensa por espalhar "pavor" na população. Ele ainda voltou a chamar a doença de "gripezinha ou resfriadinho".

"Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos sim voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas?", disse durante o pronunciamento.

Voltando a falar que os mais afetados pela pandemia são pessoas acima de 60 anos, Bolsonaro afirmou que os mais jovens devem ter a "preocupação em não transmitir o vírus para os outros", mas que devem voltar à vida normal.

"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como disse aquele famoso médico daquela famosa televisão", ironizou.

O mandatário falou ainda sobre as pesquisas com a cloroquina para combater a Covid-19 e disse acreditar em Deus para a capacitação de "cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo".

Adotado em mais de 150 países, o isolamento social é apontado por especialistas e pela OMS como a mais eficaz medida para evitar a rápida disseminação da doença, o que também evita a superlotação da rede hospitalar. A medida de supressão foi usada pela China para conter o avanço do novo coronavírus por todo o seu território, conseguindo frear os casos de transmissão comunitária em cerca de três meses, e vem sendo adotada sistematicamente pelo mundo.

De acordo com diversos veículos da mídia brasileira, o vídeo foi gravado sem o conhecimento dos ministros, pelo chamado "gabinete do ódio", e causou surpresa até mesmo entre os membros do governo, que estavam tentando aproximar a Presidência dos governos estaduais.

Até o momento, segundo dados do Ministério da Saúde, são 46 mortes no Brasil por conta do novo coronavírus e mais de 2,2 mil casos confirmados. No mundo, de acordo com o Centro John Hopkins, já são 425.493 pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2 e quase 19 mil mortes registradas.

- Reações: As reações ao discurso de Bolsonaro foram imediatas. Nas ruas das capitais brasileiras, pelo oitavo dia consecutivo, foram registrados panelaços durante o pronunciamento.

Na esfera política, as respostas também surgiram rapidamente. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que está em isolamento após contrair a Covid-19, chamou o pronunciamento de "grave" e destacou que o país precisa de uma "liderança séria".

"Neste momento grave, o país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque às medidas de contenção ao Covid-19", escreveu Alcolumbre, dizendo ainda que não é o momento de atacar tanto a imprensa como os governos estaduais.

"É momento de união, de serenidade e equilíbrio, de ouvir os técnicos e profissionais da área para que sejam adotadas as precauções e cautelas necessárias para o controle da situação, antes que seja tarde demais. A Nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade. O Congresso continuará atuante e atento para colaborar no que for necessário para a superação desta crise", finalizou.

Pelas redes sociais, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também criticou a fala de Bolsonaro.

"Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública. O momento exige que o governo federal reconheça o esforço de todos - governadores, prefeitos e profissionais de saúde - e adote medidas objetivas de apoio emergencial para conter o vírus e aos empresários e empregados prejudicados pelo isolamento social", escreveu.

O deputado ainda afirmou que os brasileiros devem "seguir as normas determinadas pela OMS e pelo Ministério da Saúde".

Quem também se manifestou foi o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ), um dos alvos de Bolsonaro por tomar medidas de contenção drásticas. "Em tempos de crise e desinformação, reafirmo o mesmo que todas as autoridades de saúde do mundo: fique em casa, lave as mãos e proteja quem você ama", postou.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB-SP), também reagiu negativamente e postou um vídeo nas redes sociais pedindo que a população respeito o isolamento e fique em casa para evitar a rápida disseminação da doença.

Ansa - Brasil
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