Nós estamos vivendo um Brasil de fome, diz presidente de associação de favelas
Além de milhares de mortes a cada dia, a pandemia de Covid-19 tem deixado milhões de brasileiros com fome, principalmente aqueles "largados à própria sorte" nas favelas espalhadas pelo país.
"Nós estamos vivendo um Brasil de fome", disse Gilson Rodrigues, presidente da G10 Favelas, organização voltada a apoiar os cerca de 14 milhões de brasileiros que moram em favelas no país.
"Uma parte das pessoas está fazendo home office e a outra passando fome dentro de casa", acrescentou.
Cerca de 125 milhões de brasileiros sofreram com algum grau de insegurança alimentar no ano passado, quando a Covid-19 chegou ao Brasil, de acordo com o estudo "Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil", coordenado pela Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade de Brasília (UnB).
No total, 59,4% dos entrevistados pela pesquisa disseram estar em situação de insegurança alimentar, sendo 31,7% de forma leve, 12,7% moderada e 15% grave -- quando a diminuição na compra de alimentos em um domicílio também atinge crianças.
O estudo, realizado entre os meses de novembro e dezembro de 2020, também apontou uma redução no consumo de carne, frutas e legumes, itens essenciais da cesta básica que tiveram um aumento nos preços com a subida da inflação.
A insegurança alimentar se mostrou mais frequente entre domicílios com único responsável, sendo ainda mais acentuada entre mulheres negras ou pardas, segundo o levantamento.
"A partir do momento que a gente depende de uma doação, a gente não vive dignamente", disse Lilian Silveira, que está desempregada e foi em busca de uma cesta básica distribuída pelo G10 Favelas na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, nesta quarta-feira. A organização atende 15 mil famílias no local.
O Brasil é o país com o segundo maior número de óbitos por Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, mas atualmente lidera na média diária de novas mortes, sendo responsável por uma em cada quatro vítimas fatais da doença no mundo por dia, segundo levantamento da Reuters. Quanto ao número de casos confirmados, o Brasil ocupa o terceiro lugar global, atrás da Índia e dos EUA.
No ano passado, o governo federal concedeu um auxílio financeiro, inicialmente de 600 reais mensais e depois de 300 reais, às pessoas mais afetadas pela pandemia. Muitos brasileiros, no entanto, sofreram com a disparada dos preços dos alimentos ao longo do ano. Neste mês o governo retomou o pagamento, com valor médio de 250 reais.