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O labirinto das investigações do caso Marielle

14 set 2018 - 04h21
(atualizado às 08h57)
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Já se passaram seis meses, e as investigações do assassinato da vereadora, que chegaram a ser dadas como próximas do fim, ainda não renderam respostas concretas. Um reflexo da complexidade da criminalidade no Rio.Quando a execução de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes estava prestes a completar 60 dias, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que a investigação estava chegando à etapa final. Nesta sexta-feira (14/09), os crimes completam seis meses sem solução.

Protesto no Rio de Janeiro depois da morte da vereadora Marielle Franco
Protesto no Rio de Janeiro depois da morte da vereadora Marielle Franco
Foto: DW / Deutsche Welle

Na ocasião do pronunciamento de Jungmann, a Polícia Civil trabalhava com a hipótese de que a morte da vereadora teria sido motivada por ela contrariar interesses de milicianos envolvidos em disputas de territórios na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Essa linha de investigação se baseava no depoimento de uma testemunha que relacionou o crime ao assassinato de um assessor informal do vereador Marcello Siciliano (PHS), colega de Marielle na Câmara do Rio.

Em junho, porém, a revista Veja noticiou que o promotor Homero Freitas Filho, coordenador da força-tarefa criada pelo Ministério Público do Rio para acompanhar o caso, tinha dúvidas sobre a validade do depoimento da testemunha em questão. Ele considerou o relato incoerente, uma vez que a atuação de Marielle na região era "incipiente" e não justificaria sua morte.

No decorrer das investigações, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio reforçaram a postura de manter em sigilo o andamento do caso. Mas, no mês passado, ganhou força a tese em torno da motivação política do crime. Em entrevista a um programa do canal Globo News, o ministro Jungmann revelou que o crime envolvia a participação de agentes do Estado. "Envolve, inclusive, setores ligados seja a órgãos de setores do Estado, seja a órgãos de representação política", disse.

Dois dias após a declaração, a Veja publicou que três deputados da cúpula do MDB-RJ estão sendo investigados por participação no assassinato da vereadora. São eles Edson Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo - os dois últimos, ex-presidentes da Assembleia Legislativa do Rio. O trio está preso desde o ano passado, acusado de envolvimento com uma máfia de empresários de ônibus do estado.

De acordo com essa hipótese, a execução de Marielle seria uma vingança contra o deputado estadual Marcelo Freixo, com quem a vereadora trabalhou por 11 anos. Uma ação judicial movida por ele impediu que Albertassi disputasse uma cadeira de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado, o que levaria qualquer processo judicial contra ele e outros denunciados no mesmo processo para o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Os três deputados investigados se posicionaram por nota à reportagem negando qualquer envolvimento com a morte da vereadora.

Paralelamente, o jornal O Globo revelou a existência de outra linha de investigação na Polícia Civil, a qual não é conflitante com as outras. Uma reportagem do dia 20 de agosto informa a descoberta do Escritório do Crime, um grupo de elite de matadores no Rio, formado por policiais e ex-policiais, entre eles um major da ativa e um ex-oficial do Bope. Seus membros seriam altamente especializados em execuções por encomenda, sem deixar rastros.

O envolvimento desse grupo no caso seria uma das hipóteses levantadas pela polícia para justificar a dificuldade na elucidação do assassinato. A reportagem diz, ainda, que a execução de Marielle pode ter custado 200 mil reais aos mandantes. Após a repercussão internacional do caso, a quadrilha teria pedido mais dinheiro. Com atuação no país inteiro, a quadrilha conhecida como "escritório do crime" cobra de 200 mil reais a 1 milhão pelos "serviços".

A polícia chegou a essa hipótese a partir do interrogatório de um integrante da quadrilha. Dados de antenas de celulares, cruzados com um aparelho usado pelo suspeito, indicaram que ele estava no bairro do Estácio, onde aconteceu o crime, no dia e hora do assassinato. Além disso, o carro usado pelos assassinos foi flagrado enquanto passava pelo Itanhangá, onde fica a Favela Rio das Pedras, um dos redutos dos matadores.

Federalização em debate

Ao longo dos últimos meses, a possibilidade de federalizar a investigação das mortes de Marielle e Anderson apareceu algumas vezes no debate público. No mês passado, Jungmann colocou uma equipe da Polícia Federal à disposição, mas a Polícia Civil do Rio recusou a oferta, de acordo com o ministro. Ouvido pela DW Brasil, o deputado estadual Marcelo Freixo afirmou não apoiar a iniciativa e criticou a atuação de Jungmann no caso.

"Não acho que a Polícia Federal tenha mais conhecimento sobre o caso do que a Polícia Civil, tampouco sobre o contexto do Rio de Janeiro. Portanto, não apoio a federalização. Ao longo desse processo, Jungmann mais atrapalhou do que ajudou. Falou que o caso estava próximo de uma solução, e vemos que não era realidade", disse o deputado.

Apesar de apoiar a permanência do caso na esfera estadual, Freixo cobrou celeridade na investigação e criticou a insistência na linha de investigação inicial, considerada equivocada pelo deputado. Ele vai prestar depoimento à polícia até a próxima semana sobre a possível participação de membros do MDB-RJ no crime.

"A gente quer que a polícia descubra quem ordenou a execução da Marielle e por que ela foi morta. Enquanto isso não se tornar público, nenhum político, jornalista ou juiz estará em paz no Rio de Janeiro", afirmou.

No fim do mês passado, a arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle, esteve reunida com o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha. Ela manifestou preocupação com a demora para a conclusão do caso e buscou informações sobre o programa de proteção a defensores de direitos humanos do governo federal. Mônica disse ao portal G1, na ocasião, que considera apoiar a federalização do caso.

No início do mês passado, ela pediu proteção à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, pois vem sofrendo ameaças. Mônica vai participar do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, na Suíça, no próximo dia 20, onde pretende denunciar a demora nas investigações do crime.

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