O que se sabe sobre o zika vírus e a microcefalia?
Avanço da epidemia pegou o País de surpresa e suscitou dúvidas, muitas delas ainda sem resposta
O Brasil enfrenta uma epidemia de zika, doença "prima da dengue", desde o meio do ano. No fim de 2015, o Ministério da Saúde confirmou a relação entre o vírus e a microcefalia, má-formação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada.
No Brasil, estão sendo investigados 3.448 casos suspeitos. Outros 270 foram confirmados pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira (27) e 462, descartados. A região Nordeste é a mais afetada pelo surto.
Segundo o governo, na epidemia atual, os bebês nascem com perímetro cefálico inferior a 32 cm. Mas muitas questões ainda não foram respondidas. Veja abaixo que se sabe (e o que falta saber) sobre o zika vírus e a microcefalia.
O que é o zika?
É um arbovírus (do gênero flavivírus), ou seja, costuma ser transmitido por um artrópode, que pode ser um carrapato, mas normalmente é um tipo de mosquito. No caso do zika, ele é transmitido por um mosquito do gênero Aedes, como o Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a chikungunya. Também está relacionado com a febre amarela, febre do Nilo e a encefalite japonesa.
Qual a origem do zika?
O vírus foi identificado pela primeira vez em 1947 em Uganda, na floresta de Zika. Ele foi descoberto em um macaco rhesus durante um estudo sobre a transmissão da febre amarela no local. Exames confirmaram a infecção em seres humanos em Uganda e Tanzânia em 1952, mas somente em 1968 foi possível isolar o vírus, com amostras coletadas em nigerianos. Diversas análises genéticas demonstraram que existem duas grandes linhagens do vírus: a africana e a asiática.
Qual a relação entre o zika e a microcefalia?
O Instituto Evandro Chagas identificou a presença do vírus em amostras de sangue e tecidos de uma menina recém-nascida no Ceará, que acabou morrendo com microcefalia e outras más-formações congênitas. A confirmação da relação entre o vírus e a microcefalia é inédita na pesquisa científica mundial.
O que ainda não sabemos sobre a ligação entre o zika e a má-formação fetal?
O Ministério da Saúde diz que ainda há muitas questões a serem respondidas. Uma delas é como ocorre exatamente a atuação do zika no organismo humano e a infecção do feto. Uma pesquisa do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) e da PUC-PR confirmou que o vírus zika consegue atravessar a placenta durante a gestação, mas não se sabe ao certo qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial do governo, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez.
Quantas pessoas já morreram no Brasil vítimas do zika?
Segundo o Ministério da Saúde, já foram notificados 68 casos de morte por má-formação congênita após o parto (natimorto) ou durante a gestação (aborto espontâneo). Foi confirmado que desses casos, todos no Nordeste, 12 tinham a infecção congênita. Ainda estão sendo investigadas 51 mortes e outras cinco já foram descartadas.
Também foi confirmada pelo governo a morte de pelo menos outras duas pessoas. O primeiro caso foi o de um homem com histórico de lúpus e de uso crônico de medicamentos corticóides, morador de São Luís (MA). Exames mostraram a presença do genoma do zika no sangue e em órgãos como cérebro, fígado, baço, rim, pulmão e coração.
O segundo é o de uma menina de 16 anos, do município de Benevides, no Pará, que morreu no fim de outubro. Com suspeita inicial de dengue, ela apresentou dor de cabeça, náuseas e manchas vermelhas na pele e mucosas. Testes deram positivo para o zika.
Houve surtos anteriores de zika?
Sim, mas não como acontece nesse momento. A primeira vez que o vírus foi detectado fora de sua área geográfica original, a África, foi em 2007, na ilha de Yap, que integra a Micronésia, no oceano Pacífico. Também houve casos nas Ilhas Cook e Nova Caledônia, no Pacífico, e no final de 2013 houve um surto na Polinésia Francesa.
Mais de 10 mil casos foram diagnosticados. Desse total, cerca de 70 evoluíram para estado grave. Esses pacientes desenvolveram complicações neurológicas, como meningoencefalite e doenças autoimunes, como leucopenia (redução do nível de leucócitos no sangue).
Na América, o vírus foi detectado pela primeira vez em fevereiro de 2014 por autoridades chilenas, que confirmaram um caso na Ilha de Páscoa. A transmissão se deu de maneira autóctone (ocorrida dentro do território nacional e não em pessoas que viajaram para o exterior).
Em maio de 2015, o Brasil confirmou seu primeiro caso desse tipo de transmissão em um paciente da região Nordeste.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, há casos autóctones em Barbados, Bolívia, Colômbia, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, Saint Martin, Suriname, Ilhas Virgens Americanas e Venezuela.
Também houve casos diagnosticados nos EUA, Inglaterra, Espanha, Itália, Portugal e Dinamarca, entre outros países, mas os pacientes contraíram o vírus em outros locais.
Qual o tempo de incubação do vírus?
Após incubação entre 3 e 12 dias, surgem os primeiros sintomas. No entanto, a infecção também pode ocorrer sem sintomas. Segundo um estudo publicado na revista médica The New England Journal of Medicine, uma em cada quatro pessoas desenvolve os sintomas. A maioria dos pacientes se recupera, sendo que a taxa de hospitalização costuma ser baixa.
Quais os sintomas do zika?
O vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue, contudo mais brandos: febre alta, dor de cabeça e no corpo, manchas avermelhadas, dores musculares e nas articulações. Pode causar inflamações nos pés e nas mãos, conjuntivite e edemas nos membros inferiores. Os sintomas costumam durar entre 4 e 7 dias.
Há outros sintomas menos frequentes, como vômitos, diarreia, dor abdominal e falta de apetite. No entanto, é bom lembrar que cerca de 80% dos casos são assintomáticos, ou seja, a pessoa não percebe que está doente. Análises recentes no Brasil indicam que o zika pode contribuir para agravamento de quadros clínicos e levar à morte.
Qual o tratamento para o zika?
Não há vacina nem tratamento específico para o zika vírus, apenas medidas para aliviar os sintomas, como descansar e tomar remédios para controlar a febre. O uso de aspirina não é recomendado por causa do risco de sangramento. É aconselhável beber muito líquido.
Há prevenção?
Como a transmissão ocorre pela picada do mosquito, é recomendável o uso de mosquiteiros, além da instalação de telas. Também são indicados repelentes com um composto chamado icaridina e roupas que cubram braços e pernas para reduzir as chances de ser picado.
O que o governo está fazendo para lidar com a epidemia de zika e a microcefalia?
O Ministério da Saúde fez um apelo para uma mobilização nacional no combate ao mosquito Aedes aegypti e anunciou que, no dia 13 de fevereiro, cerca de 220 mil homens das Forças Armadas irão às ruas orientar moradores sobre a prevenção ao Aedes aegypiti. Também prometeu repelentes para 400 mil grávidas beneficiárias do Bolsa Família.
O ministério afirma que distribuirá 500 mil testes para realizar o diagnóstico do vírus zika. No dia 13 de novembro, Cláudio Maierovitch, diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis, recomendou que as mulheres não engravidassem. "Não engravidem agora. Esse é o conselho mais sóbrio que pode ser dado", disse. Em seguida, o Ministério da Saúde baixou o tom e hoje recomenda cautela a mulheres que pretendem engravidar. Também recomenda que grávidas usem roupas de manga comprida, calças e repelentes apropriados para gestantes.
É importante que as gestantes mantenham o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo médico.
A Presidência também determinou a convocação do chamado Grupo Estratégico Interministerial de Emergência em saúde Pública de Importância Nacional e Internacional (GEI-ESPII), que envolve 19 órgãos e entidades, para a formulação de plano nacional do combate ao mosquito.
Fontes: Ministério da Saúde, Organização Panamericana de Saúde, Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), Biblioteca Nacional de Medicina e Institutos de Saúde dos Estados Unidos e WebMD.