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O que se sabe sobre as centenas de brasileiros que voltaram do Reino Unido em voos bancados pelo governo britânico

Itamaraty não confirma informação veiculada pelo The Guardian de que 600 brasileiros teriam sido deportados do Reino Unido em voos secretos

1 dez 2024 - 16h47
(atualizado às 18h07)
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Segundo Itamaraty, retorno de brasileiros faz parte de programa voluntário
Segundo Itamaraty, retorno de brasileiros faz parte de programa voluntário
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O jornal The Guardian publicou neste domingo (1/12) uma reportagem afirmando que centenas de brasileiros, incluindo dezenas de crianças, foram deportados do Reino Unido entre agosto e setembro deste ano.

A informação, no entanto, não foi confirmada pelo Itamaraty. Por meio de nota, o ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou à BBC News Brasil, que o governo do Reino Unido "propôs organizar voos de retorno voluntário ao Brasil" aos imigrantes brasileiros, realizados por companhias aéreas comerciais e bancados pelos britânicos.

A informação sobre o programa consta, inclusive, no site do Itamaraty, assim como o site do Home Office também oferece informações sobre retorno voluntário.

Ainda segundo o Itamaraty, "não se trata de deportação, e sim de decisão voluntária dos participantes de aderir à iniciativa britânica". A organização de retorno desses brasileiros é por meio do Programa de Retorno Voluntário, mantido pelo Home Office, o ministério do Interior britânico.

Segundo o Itamaraty, o programa oferece passagens aéreas e auxílio financeiro para os migrantes que desejam retornar e se restabelecer em seu país de origem.

No entanto, segundo a reportagem do Guardian, as "deportações" dos brasileiros ocorreram em "voos secretos", em meio a medidas contra a migração ilegal intensificadas pelo governo britânico.

A BBC News Brasil procurou o Home Office, mas ainda não recebeu retorno.

Segundo o Itamaraty, o consentimento brasileiro ao programa, que está incorporado aos princípios de assistência consular brasileira, "baseia-se no requisito de que a participação dos nacionais é voluntária e poderá ser revisto, a qualquer tempo, caso esses termos sejam alterados."

Desde março deste ano, o Reino Unido adotou novas regras de imigração, apertando cerco contra imigrantes no país.

A principal mudança foi o aumento do salário mínimo exigido — tanto para conseguir um visto de trabalho quanto para trazer um dependente: 38.700 libras brutas por ano (ou cerca de R$ 297 mil, na cotação atual).

Outros destaques das novas regras de imigração são: estudantes não vão mais poder imigrar com dependentes, exceto se estiverem fazendo cursos de pós-graduação designados como "programas de pesquisa".

Além disso, também não vão mais poder mudar seu visto de estudante para um de trabalho antes da conclusão dos estudos.

O programa de retorno voluntário é feito para imigrantes que não têm permissão para viver no Reino Unido. Para aderir ao programa é preciso responder a alguns critérios, como ter passado o prazo de permanência do visto ou ter feito pedido de asilo ao Reino Unido. Pessoas que desejam retirar pedido de permanência no país ou aquelas que têm um atestado do Home Office confirmando que são vítimas de escravidão moderna também podem ser elegíveis.

O serviço de retorno voluntário também pode fornecer até 3 mil libras (cerca de R$ 23.072 na cotação atual) em suporte financeiro para sair do país. O dinheiro é fornecido por meio de um cartão que só pode ser usado no país de origem.

Os brasileiros estão entre as três nacionalidades que mais retornaram aos seus países de origem no ano passado. Segundo informações contidas no site do Home Office, "no ano que terminou em 30 de setembro de 2023, "as principais nacionalidades entre os retornados foram albanesa (20%), indiana (15%) e brasileira (12%)".

Ainda segundo o ministério dos Interiores britânico, entre junho de 2021 e junho deste ano, a quantidade de retornos voluntários quase triplicou. Já os retornos forçados quase dobraram no mesmo período.

O Itamaraty não respondeu quantos brasileiros voltaram do Reino Unido entre agosto e setembro, por meio do programa. Segundo o The Guardian, foram 600 pessoas, dentre elas, 109 crianças.

'Ilusão'

No ano que terminou em junho de 2023, 1.180.000 pessoas vieram para o Reino Unido com a expectativa de permanecer pelo menos um ano, e cerca de 508.000 partiram.

Isso significa que o saldo migratório — a diferença entre o número de pessoas que chegam e que partem — foi de 672 mil.

Em 2022, o saldo migratório atingiu um recorde de 745.000.

A grande maioria das pessoas que chegou ao Reino Unido era proveniente de países fora da União Europeia.

De acordo com o Itamaraty, existem 230 mil brasileiros vivem atualmente no Reino Unido. É a segunda maio comunidade brasileira na Europa, perdendo somente para Portugal, com 513 mil.

Morar e trabalhar na Inglaterra pode ser o sonho de muitos brasileiros, mas a realidade pode ser diferente daquela imaginada.

Em outubro, a BBC News Brasil revelou a vida precária - com moradias em acampamentos - que muitos brasileiros levam naquele país, chamando o sonho de uma vida melhor de "ilusão".

O maior impacto é o alto custo de vida no Reino Unido, que vive os reflexos de uma crise econômica que teve o auge em 2022, quando a inflação chegou aos dois dígitos, e em 2023, quando o país ficou oficialmente em recessão.

Assim, a maior parte da população foi impactada com altas nos preços dos alimentos, de energia e, em especial, dos aluguéis - que só no último ano subiram 8,4%.

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