Ódio contra estrangeiros e não brancos: quem era Tobias Rathjen, apontado como autor do ataque que matou 9 na Alemanha
Em um manifesto de 24 páginas, o cidadão alemão expressa seu ódio por povos não brancos, se descreve como um solteiro involuntário e assegura que a ciência demonstra que certas raças são superiores.
O indivíduo que espalhou pânico na noite de quinta-feira em dois bares na cidade de Hanau, no centro da Alemanha, foi identificado pela imprensa local como Tobias Rathjen, apontado como autor dos tiroteios que deixaram 9 mortos.
Ele foi encontrado sem vida em uma casa junto ao cadáver de sua mãe, de 72 anos, segundo informou a polícia.
Por volta das 22h do horário local (18h no horário de Brasília), Rathjen abriu fogo contra uma multidão de pessoas que se encontravam no Midnight, um bar para fumar narguile no centro de Hanau. Esse ataque deixou pelo menos 3 mortos.
O suposto assassino teria fugido da cena no crime em um automóvel preto e feito sua seguinte parada no Arena Bar & Café, onde um segundo tiroteio matou pelo menos cinco pessoas, deixando ainda várias feridas.
O gabinete do procurador geral da Alemanha abriu uma investigação e, segundo um porta-voz, tem "elementos para sustentar a possibilidade de uma motivação xenofóbica".
Enquanto isso, o ministro regional do interior do Estado de Hesse, Peter Beuth, confirmou que os investigadores classificaram o incidente como um "suposto ato de violência terrorista".
Ódio contra estrangeiros e povos não brancos
De acordo com o tablóide local Bild, Tobias Rathjen é um homem de 43 anos, de nacionalidade alemã, ultradireitista e com licença para armas de caça.
Rathjen também haveria deixado um manifesto de 24 páginas e publicado um vídeo no YouTube antes do ataque. "Nem todos os que têm um passaporte alemão são valiosos e de raça pura", lê-se no documento supostamente escrito pelo suspeito e compartilhado pelo Centro Internacional para o Estudo da Radicalização do King's College, de Londres.
Segundo Peter Neumann, especialista em terrorismo e professor da universidade britânica, o manifesto está escrito em perfeito alemão, sem erros ortográficos nem gramaticais, e o suspeito enfatiza que tem curso superior.
"Ódio aos estrangeiros e aos povos não brancos. Embora ele não mencione o islã, há um chamado para extermínio de vários países do norte da África, Oriente Médio e Ásia Central (que tem uma população majoritariamente muçulmana)", tuitou Neumann.
Trump e Jürgen Klopp teriam 'roubado suas ideias'
De acordo com o professor, o suspeito "justifica seu chamado a matar os povos de países inteiros em termos explicitamente eugenistas, dizendo que a Ciência mostra que certas raças são superiores".
Em seu manifesto, Rathjen também salienta "a necessidade de destruir certas pessoas cuja expulsão da Alemanha não é mais possível".
Ele se descreve como um suposto incel (homens que não conseguem ter relações sexuais e amorosas e culpam as mulheres e os homens sexualmente ativos por isso) e afirma nunca ter tido relação com uma mulher — durante os últimos 18 anos, segundo ele, por escolha própria.
Para o professor Neumann, "a chave para compreender seu estado mental pode estar no fato de ele afirmar haver estado sob vigilância de serviços de inteligência durante toda sua vida. Disse que várias figuras proeminentes, como o presidente Trump e o técnico do Liverpool, Jürgen Klopp, roubaram suas ideias".
Nascido em Hanau, educado em Bayreuth
Embora não haja referência a um possível ataque na Alemanha no vídeo publicado por Rathjen, o suspeito fala de crianças que são maltratadas e assassinadas em instalações subterrâneas nos Estados Unidos.
"Os cidadãos americanos devem despertar e rebelar-se contra essa situação".
Gravado em um apartamento, o material foi publicado na internet cinco dias antes dos ataques de quarta-feira.
Em seu perfil no YouTube, o suspeito revela que nasceu em Hanau, estudou administração de empresas na Universidade de Bayreuth e fez estágio em bancos.
Segundo Peter Buth, ministro do Interior, Rathjen não estava até o momento no radar da polícia.
Depois do ataque contra uma sinagoga na cidade de Halle, no leste da Alemanha, em outubro do ano passado, as autoridades alemãs intensificaram o monitoramento de grupos de extrema direita, recrutando centenas de oficiais.
O autor daquele atentado, Stephan B., também publicou um manifesto abertamente racista e transmitiu ao vivo o tiroteio. Posteriormente, admitiu uma motivação antissemita de extrema direita.
Na sexta-feira passada, a Alemanha prendeu 12 membros de um grupo de extrema direita que planejava atacar mesquitas e outros locais associados a refugiados e migrantes.