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OMS contraria Bolsonaro e nega crítica ao isolamento

31 mar 2020 - 17h13
(atualizado às 17h46)
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O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta terça-feira que os governos precisam garantir apoio financeiro aos trabalhadores informais para que possam cumprir as medidas de isolamento durante a pandemia de coronavírus, contrariando declaração do presidente Jair Bolsonaro.

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus
28/02/2020
REUTERS/Denis Balibouse
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus 28/02/2020 REUTERS/Denis Balibouse
Foto: Reuters

O chefe da OMS disse em publicação no Twitter que pessoas sem renda fixa ou reserva de recursos precisam de políticas sociais para atravessar o momento com dignidade e cumprindo as recomendações da própria agência de saúde da ONU e das autoridades sanitárias nacionais.

"Pessoas sem renda regular ou qualquer reserva financeira merecem políticas sociais que garantam dignidade e as permitam cumprir com as medidas de saúde pública para Covid-19 aconselhadas pelas autoridades nacionais de saúde e a OMS", disse Tedros no Twitter.

"Eu cresci pobre e entendo esta realidade. Peço aos países que desenvolvam políticas que forneçam proteções econômicas para pessoas que não podem receber ou trabalhar em meio à pandemia de Covid-19. Solidariedade!", acrescentou.

A publicação de Tedros foi feita após Bolsonaro dizer nesta manhã a apoiadores que o diretor-geral da OMS teria se associado a ele e defendido que trabalhadores informais voltem a trabalhar, a despeito das medidas de restrição de movimentação impostas para conter a disseminação do coronavírus.

O presidente fez referência a uma declaração de Tedros na qual o chefe da OMS pediu que os governos "levem em consideração" pessoas que "têm que trabalhar todos os dias para ganhar o pão de cada dia".

"Eu sou da África, como vocês sabem, e sei que muitas pessoas têm que trabalhar todos os dias para ganhar o pão de cada dia. E governos precisam levar essa população em consideração, ok? Se fechamos ou limitamos movimentações, o que acontece com essas pessoas que precisam trabalhar todo dia e têm que ganhar o pão diariamente? Cada país, com base em sua situação, deve responder a essa pergunta", disse Tedros.

Na fala, que foi reproduzida em um vídeo editado publicado na página de Facebook de Bolsonaro, o diretor-geral da OMS não defende em nenhum momento que trabalhadores informais voltem a trabalhar. No discurso completo, Tedros defende o isolamento e diz que a medida dá tempo para que os países se preparem para o impacto da epidemia.

Questionada pela Reuters sobre a declaração de Bolsonaro, a OMS não respondeu de imediato. A agência também não respondeu se a publicação de Tedros no Twitter era uma resposta à fala de Bolsonaro.

Ao citar o diretor-geral da OMS nesta manhã, Bolsonaro disse que poderia fazer um pronunciamento à nação para comentar o assunto. O Palácio do Planalto confirmou que foi convocada rede nacional de rádio e tevê para uma fala de Bolsonaro às 20h30 da noite.

Bolsonaro tem criticado desde o início da crise do coronavírus as medidas de isolamento social decretadas por Estados e municípios brasileiros --assim como em diversos países-- para conter a disseminação do coronavírus. O presidente entrou em atrito inclusive com seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que recomenda o isolamento.

Para Bolsonaro, que já se referiu ao novo coronavírus, como uma "gripezinha", os impactos econômicos das medidas de isolamento serão piores do que o próprio vírus. O presidente tem repetido que a fome provocada pela falta de renda pode matar mais do que a Covid-19.

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