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Oscar Niemeyer

Engenheiro que trabalhou com Niemeyer relata 'travessuras técnicas'

6 dez 2012 - 14h07
(atualizado às 14h14)
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Daniel Favero

Quando se observa a ousada arquitetura de Oscar Niemeyer, aos olhos dos mais leigos surge a dúvida de quem foi o engenheiro que conseguiu colocar isso de pé. No caso do mais célebre arquiteto brasileiro, essa pessoa era o engenheiro estrutural José Carlos Sussekind, que durante 40 anos, ajudou a concretizar o que era idealizado por Niemeyer.

Veja fotos das principais obras de Oscar Niemeyer

Conheça a trajetória do arquiteto

Sussekind diz que as obras de Niemeyer evoluíram ao longo do tempo, à medida que a experiência de construções anteriores, permitia novas ousadias. "Às vezes, as pessoas pensam: 'puxa, esse prédio é um recorde', mas ele não nasceu do nada, certamente, nos 10, 20 ou 30 anos anteriores, conforme fosse o caso, nós tínhamos feito outros casos que davam um passo de cada vez, até ampliando, eventualmente, a audácia, para que a gente se sentisse seguro para acompanhar o que acontecia", afirma o engenheiro.

Os projetos de Niemeyer traziam sempre um ou dois grandes desafios em termos de engenharia, mas sempre para justificar a "audácia de atacado" em suas obras, como define Sussekind. "Eu achava encantador trabalhar com ele porque, diferentes de muitos casos e problemas que aparecem, ele tinha uma audácia de atacado. Qualquer projeto dele você olha e tem um problema de uma audácia, mas são uma ou duas coisas, são dois grandes problemas, e, no final, um projeto todo está feito. Isso sempre me agradou muito, o Oscar, a arquitetura dele, e, por consequência, a estrutura. Era um trabalho de sempre de atacado e nunca de varejo, quer dizer, a beleza da coisa dele estava no atacado, ele sempre dizia que não estava no material do acabamento, mármore ou qualquer outra coisa, ele dizia que 'quando a estrutura estiver pronta, minha arquitetura está lá'", diz o engenheiro, que define sua parceria com Niemeyer como "travessuras técnicas".

O engenheiro, ainda abalado com a recente morte do amigo, diz que Niemeyer era muito criterioso quanto à autoria de se suas obras, mas ao mesmo tempo, era muito tolerante com as pessoas. "Se fosse perguntar do lado das pessoas, ele era a pessoa mais tolerante e menos exigente do mundo. ele sempre arranjava uma desculpa para dizer que todas as pessoas são boas, mas ai a gente falava brincando 'mas esse não Oscar', daí ele tirava do baú um frase do Lenin dizendo que se a pessoa tivesse 10% de coisas boas, então era boa", conta.

Essa generosidade e fé nas pessoas foi o que fez com que os caminhos de Sussekind e Niemeyer se cruzassem, quando o engenheiro ainda estudava e trabalhava em um escritório de cálculo estrutural no Rio. "O doutor Oscar me chamou porque queria consultar sobre alguma coisa, não tinha nenhum engenheiro, e a coisa mais próxima, era eu, que iria me formar dali a um ano. E eu fui lá e ele me perguntou uma coisa, se podia ou não, e eu não tinha tarimba para dizer se podia ou não. Disse que iria estudar, isso era tudo que ele não gostava, mas acho que ele gostou da minha cara e disse: 'pode vir no dia seguinte' (...) então foi daí que ele gostou da minha cara", afirma, ao relatar que o contato cresceu de verdade 10 anos depois, quando ele voltou de forma mais efetiva para o Brasil.

Apesar da complexidade das obras, Niemeyer trabalhava de forma muito rápida. Suas reuniões tinham 20 minutos de conversa técnica e outras duas horas de bate-papo, como lembra Sussekind. "Tem um exemplo disse que é o Memorial da América Latina, do qual um dos prédios é recorde mundial também. Ele me chamou em um sábado de manhã, lembro que estava fora do Rio, ele tinha pensado nos prédios todos, eram uns seis ou sete prédios, cheguei à 11h e ao meio-dia já tinha acabado a conversa. Claro que depois demorou seis meses para ser detalhado por equipes enormes, mas ele era muito rápido mesmo".

Para ele, uma das últimas grandes obras de Niemeyer foi o Centro administrativo do Governo de Minas Gerais, inaugurado em 2009. Empreendimento que possui o maior vão livre do mundo.

"Esse é um ótimo exemplo da evolução, ninguém acordaria e resolveria fazer aquele projeto, é porque outras coisas foram feitas antes e passo a passo a gente chegou lá. O projeto de Minas, de certa maneira é um filho, ou neto do projeto, do ponto de vista estrutural, da sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. O prédio de Minas retrata magnificamente a arquitetura de Niemeyer como um todo, eu sei que foi o último grandíssimo projeto dele na escala monumental, e tudo dele está lá", diz.

Para Sussekind, não existe sucessor de Niemeyer ao mesmo tempo em que todos são sucessores dele, assim como ocorre com grandes nomes das artes que atingiram o mesmo patamar do arquiteto brasileiro. "Ninguém é sucessor do Oscar e todos são sucessores do Oscar, assim como ninguém é sucessor do Mozart, e todos são sucessores do Mozart, a arte dele é de tal escola que a humanidade tomou conhecimento dele, qualquer pessoa, até leiga sabe fazer uma leitura do prédio do Oscar, do que ele quis fazer. A genialidade dele não se transporta da coisa artística para ninguém ,o sucessor do Oscar não é ninguém e são todos os arquitetos ao mesmo tempo", finaliza.

Morre Oscar Niemeyer

O arquiteto Oscar Niemeyer morreu às 21h55 do dia 05 de dezembro de 2012, aos 104 anos, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, de infecção respiratória. Ele estava internado na instituição de saúde desde o dia 6 de novembro, onde alternou quadros de melhoria e de piora na saúde.

Considerado um dos nomes mais influentes da arquitetura moderna mundial, Niemeyer foi responsável pelas principais obras da construção de Brasília, inaugurada em 1960. Carioca, nasceu em 15 de dezembro de 1907 no bairro de Laranjeiras, no Rio.

Niemeyer costumava dizer aos engenheiros que trabalhavam com ele: ''quando a estrutura estiver pronta, minha arquitetura está lá"
Niemeyer costumava dizer aos engenheiros que trabalhavam com ele: ''quando a estrutura estiver pronta, minha arquitetura está lá"
Foto: AFP
Fonte: Terra
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