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Padre excomungado cria igreja "sem preconceito" em São Paulo

12 out 2015 - 10h55
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Foto: Talita Zaparolli/Especial para Terra

Fora da Igreja Católica desde abril de 2013, o padre Roberto Francisco Daniel, conhecido como padre Beto, celebrou nesse domingo em Bauru, no interior de São Paulo, a primeira missa na sede própria da nova denominação fundada por ele, a "Humanidade Livre". A igreja é criada quase nove meses após a primeira missa alternativa celebrada, ainda de forma improvisada, no ginásio poliesportivo do Greb (Grêmio Recreativo Energético de Bauru) - onde os cultos religiosos vinham acontecendo desde então.  

"Somos muito gratos ao Greb, mas precisávamos de uma sede própria. É um sonho que vai sendo realizado. A sensação que a gente tem é de deixar um legado mesmo. Uma proposta que não seja centrada na minha figura, mas que continue. Continue fazendo o bem para as pessoas", justifica o padre com um largo sorriso.  

Cerca de 120 pessoas participaram da celebração que teve início às 19h30 e durou pouco mais de uma hora. Além das leituras bíblicas e ritos similares aos católicos, algumas músicas embalaram os fiéis, sendo elas Andar com fé de Gilberto Gil, A paz de Zizi Possi, Carinhoso de Pixinguinha e Romaria, de Renato Teixeira - sendo esta última em homenagem ao dia de Nossa Senhora Aparecida, comemorado nessa segunda-feira (12). 

Entre os fiéis estava a aposentada Jupira Rodrigues, 81 anos. Ela conta que frequentava as missas celebradas por Beto em paróquias da Igreja Católica e que depois da excomunhão só retornou em ocasiões específicas. "Só em missa de sétimo dia, por exemplo. Foi uma injustiça muito grande o que fizeram com ele. Isso [excomunhão] não quer dizer nada pra nós. Ele é muito querido, um 'senhor padre'", elogiou. 

Já os músicos Marco Belinasi e a esposa, Regina Mancebo, tocam voluntariamente nas missas desde o início. Eles e outros profissionais se revezam aos domingos. "Recebemos um convite e como a gente já conhecia ele, e como o nosso repertório é bem vasto, resolvemos participar. E a proposta dele é essa, não colocar muitas músicas sacras. Tem muitas músicas brasileiras muito bonitas pra se cantar. É sempre bom participar das missas, é gratificante. E a palavra dele é moderna, fala de forma mais simples. Estar na companhia dele é agradável", disse Marco.  

Foto: Talita Zaparolli/Especial para Terra

O prédio, com madeiramento e tijolos a vista e que se assemelha a um chalé, foi alugado por R$ 3 mil mensais. Voluntários ajudam com doações e no final das missas são comercializados alimentos como salgados e bolos feitos por parceiros que contribuem com a igreja e usam o espaço para divulgar os produtos fabricados. O imóvel fica na quadra dois da rua Henrique Savi, na Vila Cidade Universitária, e atualmente passa por reformas. A estimativa de investimento nas obras é de R$ 80 mil – custeados pelo próprio padre. Duas arquitetas assinam o projeto. 

"Nós procuramos muito. Nós não queríamos entrar naquele padrão de igreja, com um salãozão. Queríamos algo especial, que tivesse a cara de uma proposta nova, da Humanidade Livre, que é algo alternativo, descontraído e que não tenha padronização. E de repente achamos esse lugar que tem cara de casa, de chalé, que é bem o nosso estilo. É rústico, todo material é natureza, é pedra é madeira, é aconchegante e tem o rosto de família, que é o que a Humanidade Livre é", contou o religioso.  

Ele explica que no projeto de reforma consta a ampliação do salão, uma secretaria, uma sala de atendimentos, além da construção de uma capela para o Santíssimo - espaço para orações e para guardar as hóstias consagradas. "Também haverá uma cozinha com churrasqueira. Porque o espaço também vai ser multiuso, aqui vão ter cursos de formação, mas também confraternizações e vamos alugar para casamentos. Daqui também vamos tirar a renda pra igreja sobreviver", afirmou Beto.  

O pé de manga e os coqueiros existentes no local serão preservados. Ele faz questão de lembrar que, enquanto a reforma não for concluída, irá usar dois cavaletes e uma porta de madeira da própria obra como altar. O cálice usado para consagração do vinho durante a Eucaristia também é de madeira, modelo bem mais simples que o usado pela Igreja Católica, folheado a ouro. "Comprei pela internet por R$ 30", brincou. 

A inauguração oficial, ainda sem data definida, só será feita quando as obras forem concluídas. "Fizemos questão de entrar antes porque a comunidade vai vendo a evolução da obra, que isso não é meu. Que isso é nosso, pra eles se sentirem donos disso daqui", explicou.  

Expansão 

O chamado dos fiéis também vem de outras regiões do País. Padre Beto afirma que existe a possibilidade da abertura da igreja Humanidade Livre em Feira de Santana (BA) e em Recife (PE). Segundo ele, dois religiosos que já pertenceram a Igreja Católica manifestaram o desejo de levar a nova igreja para seus fiéis. "Eles não têm comunidade, estavam parados. Eles estão criando uma comunidade, então é um trabalho de formiguinha", explicou.  

Já a professora de matemática Cristiane Flôres, espírita kardecista, que mora em Porto Alegre (RS) lamentou não poder ter participado da primeira celebração. "Ele representa a grande mudança que a maioria das religiões deveriam se basear. Ao invés de ter uma vida presa aos comandos de normas da igreja, ele demonstra a vida que realmente os verdadeiros cristãos deveriam seguir. Os passos e ensinamentos que Jesus nos deixou. Jesus não nos aprisionou em regras, mas em exemplos de amor, solidariedade, compaixão e vontade de viver. Quem tem vontade de viver com felicidade seguindo regras sem poder questionar como se não tivéssemos capacidade de pensar? Somos tão neandertais assim que precisamos de coleiras ao ivés de palavras de bom senso?", questionou. 

Ela afirma que pretende encarar os mais de 1.200 km que separam Porto Alegre de Bauru para participar de uma das missas.  

Recado 

Foto: Talita Zaparolli/Especial para Terra

No primeiro informativo impresso distribuído aos fiéis após a missa, com informações sobre endereço, horário da celebração, entre outros, padre Beto assina um texto explicando como surgiu a nova denominação. Ele faz questão de agradecer ao bispo da Diocese de Bauru, Dom Caetano Ferrari, pela excomunhão.  

"A Humanidade Livre surgiu  de uma excomunhão. Nós somos consequência das decisões tomadas pelos responsáveis da Diocese de Bauru, pois graças a eles tivemos a liberdade para criar algo novo. Por isso, queremos agradecer ao bispo da Diocese de Bauru e aos padres do alto clero. A vocês o nosso muito obrigado", afirma no texto.  E frisa ainda que a nova igreja não faz distinção a credos ou opções sexuais. "Não temos doutrina, preceitos ou regras morais. Nós seguimos somente a Jesus Cristo, como exemplo de vida e reflexão, e os dois mandamentos que Ele nos deixou: amar a Deus e amar ao próximo", afirma no texto. 

Padre Beto foi excomungado em abril de 2013, poucos dias após anunciar seu afastamento dos ministérios sacerdotais. Ele atuou por 14 anos na Igreja Católica e foi expulso por conta de seus pensamentos progressistas em relação aos dogmas da igreja.  

Ele foi repreendido pela diocese local por declarações publicadas na internet. Em um vídeo o religioso contestou os princípios morais conservadores da igreja e opinou sobre assuntos considerados polêmicos entre os fiéis como bissexualidade, homossexualidade e infidelidade. Como se recusou a se retratar, seguindo determinação do bispo, foi expulso. A decisão foi ratificada pelo Vaticano em novembro de 2014, não havendo mais recurso.  

O religioso afirma ainda que irá enviar um convite ao bispo de Bauru para conhecer a nova igreja. 

Fonte: Especial para Terra
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