Papa manifesta solidariedade a Lula em carta
Em mensagem a ex-presidente, pontífice lamenta "as duras provas" enfrentadas pelo petista e pede que não desanime. Francisco diz ainda que relatos de Lula sobre cenário político do Brasil lhe serão "de grande utilidade".O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nesta quarta-feira (29/05), em seu site oficial, uma carta que recebeu do papa Francisco. No texto, datado de 3 de maio, o pontífice lamenta "as duras provas" vividas pelo petista nos últimos tempos e o encoraja a "não desanimar".
A correspondência é uma resposta a uma carta escrita por Lula em 5 de abril, em que ele agradece o apoio de Francisco ao povo brasileiro na defesa dos direitos dos mais pobres, além de relatar seu estado de ânimo sobre o atual contexto sócio-político do país - "o que me será de grande utilidade", escreve o papa na mensagem.
Embora não comente a situação judicial do ex-presidente - que foi condenado em dois casos de corrupção e está preso há mais de um ano -, o pontífice manifesta solidariedade a Lula e lamenta as recentes perdas sofridas por ele na prisão.
"Tendo presente as duras provas que o senhor viveu ultimamente, especialmente a perda de alguns entes queridos - sua esposa Marisa Letícia, seu irmão Genival Inácio e, mais recentemente, seu neto Arthur de somente 7 anos -, quero lhe manifestar minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus", diz o texto.
Francisco também escreve sobre o papel dos líderes, afirmando que "a responsabilidade política constitui um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, de proteger as pessoas que habitam nele e de trabalhar para criar as condições de um futuro digno e justo".
"Estou convencido de que a política pode tornar-se uma forma eminente de caridade, se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas", completa o chefe do Vaticano.
Na mensagem enviada ao papa, além de agradecer a ele pela contribuição para a defesa dos direitos dos mais desfavorecidos, Lula disse ter consciência de que só está preso porque "os poderosos querem destruir toda a rede de proteção e cuidado" que ele e seu governo também construíram para os "excluídos".
Escrevendo no início de maio, Francisco mencionou ainda as celebrações pela ressurreição de Jesus Cristo e descreveu a Páscoa como a "esperança da humanidade".
"Graças a Ele, podemos passar da escuridão para a Luz; das escravidões deste mundo para a liberdade da Terra prometida; do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos para a amizade que nos une a Ele; da incredulidade e do desespero para a alegria serena e profunda de quem acredita que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira, e a Salvação vencerá a condenação."
O papa encerra a carta assegurando orações a Lula "a fim de que, neste tempo pascal de júbilo, a Luz de Cristo ressuscitando o cumule de esperança". "Peço-lhe que não deixe de rezar por mim. Que Jesus lhe abençoe e a Virgem Santa lhe proteja", conclui o texto.
Segundo o Instituto Lula, esta é a segunda vez que Francisco se comunica com o ex-presidente desde que ele foi preso, em abril de 2018. No ano passado, o pontífice teria enviado um rosário abençoado e uma mensagem de paz escrita na versão italiana do livro A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam, escrito por Lula.
Na carta enviada em abril deste ano ao líder religioso, o petista diz que segue lutando para provar sua inocência e conta que tem "sido provado com muitas dores", mas que não desiste. "O amor ao meu povo e minha fé me animam, mesmo que às vezes as provações, como a morte de meu irmão e do meu neto Arthur, de apenas 7 anos, me façam duvidar de tudo", escreve.
Lula está preso desde 7 de abril de 2018 na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele foi condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no processo que envolve um triplex no Guarujá, no litoral paulista.
Em fevereiro deste ano, o ex-presidente foi condenado num segundo processo, este referente a reformas realizadas num sítio em Atibaia, no interior de São Paulo. A pena imputada pela primeira instância foi de 12 anos e 11 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.
Ao todo, ele enfrenta oito ações penais - contando esses dois casos em que já foi condenado e que aguardam recurso - e mais duas denúncias criminais.
EK/ots
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