PF apura denúncias de agressões sofridas por brasileiros deportados dos EUA
Investigação será encaminhada para o departamento americano responsável pelo controle de imigração
A Polícia Federal (PF), no Amazonas, instaurou um procedimento para apurar as denúncias de agressões sofridas por brasileiros deportados dos Estados Unidos. A informação é do Fantástico, da TV Globo, exibido neste domingo, 26.
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Segundo a emissora, a investigação será encaminhada para o departamento americano que cuida do controle de imigração e para órgãos internacionais de cooperação.
Denúncias de agressões
Os relatos dos brasileiros que estavam no primeiro voo de deportação realizado durante o segundo governo Trump, na última sexta-feira, 24, são de momentos de angústia e terror.
Eles vieram em uma aeronave dos Estados Unidos com direção a Belo Horizonte (MG), mas o avião precisou fazer um pouso para abastecimento em Manaus (AM) e acabou não concluindo o trajeto. Os brasileiros só chegaram ao destino final no sábado, 25, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).
No desembarque no Aeroporto Internacional de Confins-Belo Horizonte, os brasileiros conversaram com jornalistas que estavam no local. À CNN, alguns deram relatos de verdadeiros maus-tratos sofridos durante a deportação.
"Foi mais difícil voltar do que ir" para os Estados Unidos, disse Matheus Henrique, de 22 anos, natural de Rondônia. Segundo ele, os passageiros voaram amarrados, com os pés e mãos presos, durante o trecho feito no avião norte-americano. "Sofremos um pouco de tortura lá dentro", afirmou.
Quando a aeronave pousou em Manaus para abastecer, os brasileiros disseram que começaram os problemas técnicos. Quando alguém decidia reclamar com os agentes norte-americanos a bordo recebia de volta agressões.
"Eu fiquei sentado até chegar ao meu limite, mas não aguentei mais. Eu pedi [para sair] para eles, e aí [um agente] me enforcou. Não tinha como manter a calma. Tinha crianças chorando", disse Jefferson Maia, também de Rondônia. Ele acrescentou que não "comia direito" há 40 horas e não tomava banho há cinco dias.
Luiz Fernando, do interior de Minas Gerais, contou à reportagem que viu um compatriota levar um mata-leão de um dos agentes e desmaiar.
Ainda à CNN, os passageiros disseram que foram os próprios brasileiros que acionaram a escada de emergência em meio ao tumulto durante o abastecimento em Manaus, o que levou ao cancelamento do voo.
Reação do governo brasileiro
O Ministério das Relações Exteriores informou na noite de sábado, 25, que irá pedir explicações ao governo dos Estados Unidos "sobre o tratamento degradante" dado aos brasileiros deportados. Antes da manifestação do Itamaraty, os agentes da Polícia Federal já estavam orientados a determinar a retirada das algemas.
No domingo, 26, o Itamaraty também publicou uma nota em que afirma que o uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos do acordo com os EUA, "que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados".
A pasta reiterou que o governo brasileiro reuniu informações detalhadas sobre o "tratamento degradante" dado aos brasileiros algemados, nos pés e mãos, no voo de repatriação do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA (ICE).
"O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso", diz a nota do Itamaraty.
O Terra entrou em contato com a PF a respeito da investigação e aguarda retorno.
*(Com informações do Estadão Conteúdo)